Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Opinião: nova Strada vai prejudicar a querididinha Toro?

Apesar de ser sucesso comercial, a preferida da Fiat pode perder a regalia para a irmã caçula por causa da canibalização e cair nas vendas

1 mai 2020 - 05h00
Compartilhar
Exibir comentários
Nova Fiat Strada Volcano: uma ameaça para a irmã maior.
Nova Fiat Strada Volcano: uma ameaça para a irmã maior.
Foto: Fiat / Reprodução

Há quatro anos, chegava um dos carros mais bem-sucedidos na última década do mercado brasileiro: a Fiat Toro, com proposta de abastecer a necessidade por picapes médias. Uma alternativa mais prática e barata do que as picapes médias, porém com maior presença e conforto do que as pequenas. Logo na estreia, segundo os números da Fenabrave, a primogênita do segmento, Renault Duster Oroch, que vendeu 821 unidades em fevereiro de 2016, foi desbancada pela aposta da italiana, que atingiu a marca de 1.117 unidades vendidas no mesmo período. Em 2019, a Toro acumulou 65 mil emplacamentos, enquanto a Duster Oroch ficou em 14 mil. 

Montada sobre a mesma plataforma dos Jeep Compass e do Renegade, “primos” da família FCA, o modelo fechou o trio imbatível do que chamo de “utilitários de shopping”, caracterizados por seu público com certa aversão ao ambiente rural ou florestal. Entretanto, após quase 10 anos sem uma boa atualização, a Fiat resolveu lançar este ano a nova geração da Strada. A picape pequena, que antes era fabricada nos moldes do Palio, agora será produzida com a fusão de peças do Argo e do Uno, dois hatches da montadora.

Fiat Toro Endurance Flex MT5: vantagem na potência do motor.
Fiat Toro Endurance Flex MT5: vantagem na potência do motor.
Foto: Divulgação

Embora façam parte de categorias diferentes, o comparativo entre ambas sinaliza o risco de uma “canibalização não controlada” entre os modelos. Para entender melhor o que eu quero dizer, é preciso ter em mente que canibalização é um método muito utilizado por montadoras. Consiste em eliminar algumas versões de modelos antigos, a fim de criar brechas para a entrada de modelos mais novos, permitindo que criem apelo baseado em preço ou luxo; dessa forma, um modelo vai ocupando mais espaço, enquanto outro vai sumindo. Um exemplo conhecido é o da Nissan Frontier quando foi atualizada em 2007. A nova geração era importada somente nas versões mais luxuosas, com valores acima de R$ 110 mil, enquanto a anterior fabricada no Brasil foi gradualmente depenada e precificada abaixo de R$  90 mil até sair de linha. Esse foi um caso controlado, mas há ocasiões em que a canibalização prejudica justamente os novos modelos. 

Quando o Volkswagen Up foi lançado, em 2013, sua proposta era ser o carro de entrada da montadora alemã. Entretanto, acabou numa queda de braço com o Gol, modelo veterano na indústria, maior, tão completo quanto, e R$ 3 mil reais mais barato que o estreante. Sem sucesso como carro popular, a Volkswagen tentou elevá-lo como compacto premium, o que não deu certo; e para piorar ficou sem câmbio automático, tornando-o vulnerável perante o Gol e o Polo, aumentando a probabilidade de ser mais um fracasso no mercado nacional.

Strada Volcano 1.3: substituta da antiga Adventure 1.8.
Strada Volcano 1.3: substituta da antiga Adventure 1.8.
Foto: FCA / Divulgação

Voltando ao caso da Fiat, como a Strada pode prejudicar a Toro? Para começar, fica evidente que a nova Strada é praticamente uma cópia em escala menor da veterana, o que, consequentemente, já lhe angariou apelidos como “Fiat Bezerro” e “Mini-Toro” nas redes sociais. Porém, com alguns ajustes no design que realçaram a impressão de volume, a nova Strada invoca mais respeito do que a Toro, cujas linhas muito suaves não transmitem a robustez típica das picapes tradicionais, elemento que a tornou alvo de piadas, ridicularizada com frequência pelos “entusiastas do diesel”.

Usando como referência sua versão topo de linha, a Volcano 1.3 CD, um fator muito positivo da nova Strada é a sua capacidade de carga. Com a plataforma reforçada e comprimento maior, sua carga útil de 650 kg consegue equipará-la facilmente à Toro Freedom 1.8 (versão de entrada bastante optada pelo público), sem contar o bônus de 844 litros na caçamba, 24 a mais em relação à irmã. Seu vão livre do solo é outra vantagem, 214 mm contra 206 mm da grandalhona, além de possuir melhor ângulo central e de saída, conveniências que reforçam sua imagem histórica de ser o braço direito dos trabalhadores e dos pequenos agricultores.

A Strada Endurance estará disponível em cabine simples e cabine dupla.
A Strada Endurance estará disponível em cabine simples e cabine dupla.
Foto: FCA / Divulgação

Em termos de motorização, a Fiat aposentou o clássico 1.8 16V da versão anterior em favor do 1.3 Firefly. Embora essa decisão possa ter desgostado alguns, a combinação com a plataforma mais leve torna a troca mais justa. Resultado: uma boa relação peso/potência e uma excelente autonomia de combustível, com números superiores aos da Toro 1.8. Seu motor 1.3 entrega até 109 cv com etanol (8 cavalos a mais do que abastecida com gasolina) e bastante torque logo nas baixas rotações, indo de 0-100 km/h em 12 segundos cravados, número satisfatório para um veículo desse porte. Contrapondo a carroceria mais comprida (448 cm), o entre-eixos mais curto dá mais praticidade em manobras, algo conveniente nas cidades.

Custando na faixa de R$ 73 mil a R$ 85 mil, e com menor custo de manutenção graças à disponibilidade de peças, a nova Strada obtém mais uma vantagem em relação à Toro, cujo valores partem da casa dos R$ 90 mil. Se os preços lhe fazem supor que a qualidade de ambas é incomparável, pense de novo, pois a noviça não fica muito atrás em questões de conforto e segurança. Sua central multimídia é nova em relação à Toro, com tela de 7”, câmera de ré, compatível com Android Auto e Apple CarPlay, e sem a necessidade do cabo USB. 

Strada Endurance cabine simples: 720 kg de carga.
Strada Endurance cabine simples: 720 kg de carga.
Foto: FCA / Divulgação

Na parte traseira da cabine, há espaço para três passageiros de até 1,80 m, todos com cinto de segurança de três pontos. Todas as versões possuem controle de estabilidade, sistema Locker para terreno off-road, quatro airbags e uma direção elétrica bem mais leve do que na versão anterior, que ao menos ajudava a malhar os bíceps do motorista. Claro, o plástico duro de sempre continua, já que muitas partes da cabine também foram emprestadas pelo Fiat Mobi, mas a diferença entre esses dois Frankensteins é que apenas um deles não sofre de crise de identidade.

Em resumo, a nova Strada é praticamente uma Fiat Toro mais barata, e de tão similares, muitos consumidores potenciais irão optar pela primeira, o que pode criar um “carbúnculo” para o sucesso de Goiana (PE), ofuscando seu sucesso. Além de ser mais uma dor de cabeça para a Renault Duster Oroch, também será um tormento para a Volkswagen Saveiro, sua rival histórica. No ano anterior, a favorita dos “chora boys” obteve 42 mil emplacamentos, enquanto a concorrente de Betim (MG), sucesso da categoria, passou da marca de 70 mil. 

Fiat Toro Endurance Diesel: vítima de piadas dos "entusiastas do diesel".
Fiat Toro Endurance Diesel: vítima de piadas dos "entusiastas do diesel".
Foto: Divulgação

Por outro lado, ainda há fatores que podem impedir a novata de roubar público urbano: não há opção de bancos de couro, o câmbio automático encontra-se indisponível (a transmissão CVT está prevista somente para 2021), a coluna de direção possui somente ajuste de altura o e controle automático de velocidade é inexistente. Por seu lado, a Toro conta com ar-condicionado dual zone, sistema de ignição por botão e opção de motores mais potentes. Falando em motorização, a Fiat prevê o lançamento ainda este ano de um motor 1.3 turbo com, no mínimo, 150 cavalos de potência.

Embora a montadora declare que tais itens estão restritos aos SUVs, ao considerar o passo da tecnologia, exigência do consumidor e a redução no custo de peças, um bom índice de vendas da Strada pode levar a Fiat a abrir exceções para o modelo. Apesar de a Toro reinar suprema no mercado das picapes médias, a falta de concorrentes do mesmo nível não irá durar muito tempo, pois a Peugeot Landtrek e a nova Mitsubishi L200 Triton já estão a caminho. Com novos adversários chegando e um clone prestes a roubar seu holofote, a Toro terá muitas noites de insônia pelos meses que virão

---

Pedro Coelho é jornalista de Rondônia, fã de automóveis desde criança e faz produção de vídeos para o YouTube.

Guia do Carro
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade