Presidente da Anfavea: “Não existe mais o carro popular”
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, pede a jornalistas que esqueçam a figura do carro popular, que é "uma figura dos anos 80"
O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, aproveitou a entrevista coletiva virtual da associação das montadoras, nesta segunda-feira (8), para pedir aos jornalistas especializados do setor que esqueçam a figura do carro popular. “O carro que nós temos que vender hoje não é o mesmo carro da década de 80”, comentou Moraes, explicando mais uma vez por que os automóveis ficaram muito caros no Brasil e se os veículos populares serão os mais prejudicados nesse "novo normal", pós pandemia.
“Temos muitas tecnologias, que são estabelecidas no regulatório, como segurança, metas de emissões, redução no consumo, ou seja, metas de eficiência energética. Estamos caminhando para esta fase da descarbonização, portanto a eletrificação ou veículos híbridos se tornaram realidade, então não dá mais para imaginar que você vai ter um carro tão simples”, disse Luiz Carlos Moraes. “As exigências ambientais nos obrigam a ter essas tecnologias embutidas no carro. E portanto essa é a nova demanda da sociedade. E isso tem impacto na configuração dos veículos, em termos de segurança, eficiência energética, emissões etc."
Segundo o presidente da Anfavea, "isso veio para ficar e não é diferente dos padrões da Europa e dos Estados Unidos". E completou, com um pedido aos jornalistas: "Essa figura do carro popular, eu queria estimulá-los a esquecer, não existe mais essa figura do carro popular, que não tem nada [de tecnologia]. Nós temos que ter, por lei, todos os sistemas, e nós achamos que está correto. Esquece, isso é passado, não tem mais sentido isso”.
Na Argentina, entretanto, a demanda por carros brasileiros tem sido por versões mais baratas, afetando as exportações do Brasil para o país vizinho. “A Argentina tem uma limitação de divisas em função de suas negociações com o FMI”, explicou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. “Então, há sim uma diminuição relativa na importação de carros brasileiros, mas ainda assim é o nosso maior mercado de exportação. A Argentina tem estimativa de vender 400 mil carros no ano e é o mercado mais relevante para as exportações brasileiras.”
A configuração mais moderna dos carros - com o consequente aumento de preços, também impactados pelo dólar alto - tirou do ranking top 10 de vendas os hatches pequenos. Ao contrário do que acontecia nos anos 80, 90 e na primeira década do século XXI, somente um hatch pequeno (categoria A) figura entre os campeões de venda este ano: Fiat Mobi em 5º lugar. Seu preço vai de R$ 48,5 mil a R$ 60 mil.
Ainda há outros hatches compactos, como Fiat Argo (2º), Chevrolet Onix (8º) e Volkswagen Gol (10º lugar), mas todos eles ficaram caros. Na semana passada, a Volkswagen anunciou que o Gol - último remanescente dos anos 80 - deixará de ser produzido em 2023 para dar lugar a uma nova família de carros, mais modernos. O Volkswagen Gol mais acessível custa R$ 67,8 mil e o mais caro sai por R$ 83,4 mil.
Indústria global vai perder 5 milhões de veículos em 2022
A crise dos semicondutores vai se arrastar por mais um ano e isso vai afetar a indústria automobilística global em 2022. Segundo Luiz Carlos Moraes, um novo estudo da consultoria BCG indica que haverá um impacto negativo de 5 milhões de veículos em 2022. A estimativa foi revelada durante a entrevista coletiva virtual da Anfavea.
No Brasil, em outubro, houve uma melhora de 2,6% no total de autoveículos produzidos (177,9 mil), devido à volta de algumas fábricas que estavam paralisadas. Entretanto, segundo a Anfavea, mesmo com a melhora, as limitações provocadas pela escassez de componentes eletrônicos fizeram com que outubro de 2021 fosse o pior mês dos últimos cinco anos.
As vendas foram de 162,3 mil autoveículos emplacados, o que representa +4,7% em relação a setembro e -24,5% em relação a outubro de 2020. O dólar muito valorizado também afeta negativamente o resultado da indústria nas exportações. No total, 29,8 mil autoveículos foram exportados em outubro, o que significa +26,1% em relação a setembro e -14,6% em relação a outubro de 2020.
A alta no preço dos carros, entretanto, não tem sido um problema, pois a demanda não está sendo totalmente atendida pelas montadoras. Mesmo assim, o nível de emprego na indústria automobilística não apenas foi mantido como também apresentou um crescimento este ano, com 1.402 novas vagas - no total, são 102.625 funcionários diretos. Por isso, o presidente da Anfavea pediu “responsabilidade de todos os agentes públicos” - um claro recado contra o rompimento do teto de gastos por parte do governo federal com ajuda da Câmara dos Deputados.