Senna só perde para Schumacher no ranking de 161 corridas
Um jeito diferente e científico de comparar as carreiras de Hamilton, Vettel, Senna, Piquet, Prost, Alonso e Schumacher na Fórmula 1
Quem foi o maior piloto de todos os tempos? Essa pergunta sempre retorna quando um grande campeão se impõe de forma incontestável na Fórmula 1. Passados 25 anos da morte de Ayrton Senna e 15 anos do último título de Michael Schumacher, essa ainda é uma questão difícil de responder. Entre os brasileiros, claro, Senna é sempre o líder inconteste das opniões. Podemos dizer que existe muito conhecimento popular, filosófico e até “religioso” para explicar que Senna foi o melhor piloto de todos os tempos.
Mas também existe o conhecimento científico, que podemos traduzir em números, é este que trago aqui, quando vemos Lewis Hamilton superar não apenas mitos como Ayrton Senna, Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Jackie Stewart e Niki Lauda, mas também heróis recentes como Sebastian Vettel, Fernando Alonso e, por que não dizer, ele próprio. Afinal, seis títulos mundiais nem mesmo Fangio conseguiu. Só Schumacher, que ganhou sete. Porém, para ter base científica nessa comparação, vamos tomar como parâmetro apenas as “primeiras” 161 corridas de cada piloto. Por que esse número? Tem uma razão.
Senna participou de 162 Grandes Prêmios de Fórmula 1, mas não alinhou para a largada do GP de San Marino de 1984, com um Toleman-Hart. Por isso, estatisticamente, sua carreira é considerada com 161 corridas. E é com este parâmetro (161 GPs) que fizemos uma pesquisa nos números da F1 para comparar Senna e os maiores pilotos da Fórmula 1 moderna. Não há como incluir pilotos como Juan Manuel Fangio (cinco títulos, dois vices e 51 vitórias em apenas 54 corridas) e Jim Clark (dois títulos, um vice e 25 vitórias em 72 corridas), pois fazem parte de outra época da Fórmula 1. Era a F1 romântica, com poucos GPs, quase todos na Europa.
Por outro lado, não é justo com Ayrton Senna que considere-se a carreira inteira de Michael Schumacher, Alain Prost, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, por exemplo, pois eles disputaram muito mais corridas. Se não tivesse se acidentado, Senna certamente ganharia mais títulos, mais corridas e ampliaria seu fantástico número de pole positions. Por isso, para efeito de comparação, consideramos apenas as primeiras 161 corridas de cada piloto e suas conquistas. Além dos pilotos citados, incluímos também o tricampeão Nelson Piquet e o bicampeão Fernando Alonso nesta pesquisa. Alonso foi o campeão mais jovem da história. Um dado curioso sobre Piquet é que ele ganhou seu primeiro título com apenas 49 GPs e foi bicampeão em seu GP 78. Para se ter uma ideia, Senna só foi campeão em seu GP 77, o que mostra também a grandeza de Piquet no mundo da Fórmula 1.
Ayrton Senna disputou 161 corridas, obtendo três títulos (1988, 1990 e 1991) e um vice-campeonato (1989). Pilotou nada menos de 13.430 km na liderança. Ele obteve 41 vitórias (25,5% dos GPs disputados), 65 poles (40,4%), 80 pódios (49,7%) e 19 melhores voltas (11,8%). Sua primeira vitória foi no GP 16 (Portugal, 1985), com um Lotus-Renault. Seu primeiro título foi no GP 78 (Japão, 1988), com um McLaren-Honda. Mais do que os números, é revelador do talento de Ayrton o fato de ter sido o dificílimo circuito de rua de Mônaco seu GP com o maior número de vitórias. Foram seis vitórias, cinco poles e quatro melhores voltas em 10 GPs de Mônaco. Em seguida, ele venceu cinco vezes na Bélgica (outra pista muito técnica), com quatro poles, em 10 participações. Também ganhou cinco vezes (com cinco poles) em oito corridas pelas ruas de Detroit e Phoenix (GP dos EUA). Senna se destacava em situações difíceis.
Senna era um devorador de recordes, até que chegou Michael Schumacher em sua vida. O alemão obteve 53 vitórias, 43 poles, quatro títulos e dois vices (um deles cassado, em 1997) em suas primeiras 161 corridas. No total, Michael disputou 307 GPs com 91 vitórias. Veja no quadro abaixo um resumo das vitórias, poles, pódios, melhores voltas, títulos, vices e os GPs nos quais conseguiram sua primeira vitória e seu primeiro título. O quadro abaixo reflete o desempenho dos melhores pilotos em 161 corridas.
PILOTO | TIT | VIT | VIC | POL | POD | MV |
PRIM VIT |
PRIM TIT |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Schumacher | 4 | 53 | 2 | 43 | 97 | 44 | GP 18 | GP 52 |
Vettel | 4 | 42 | 1 | 46 | 81 | 25 | GP 22 | GP 62 |
Prost | 3 | 43 | 4 | 20 | 90 | 34 | GP 19 | GP 87 |
Senna | 3 | 41 | 2 | 65 | 80 | 19 | GP 16 | GP 77 |
Hamilton | 3 | 39 | 1 | 49 | 86 | 25 | GP 6 | GP 35 |
Piquet | 3 | 20 | 1 | 24 | 53 | 23 | GP 24 | GP 49 |
Alonso | 2 | 26 | 1 | 20 | 63 | 18 | GP 30 | GP 67 |
Mesmo com esse quadro, porém, fica difícil saber quem foi o melhor piloto da era moderna em 161 corridas. Por isso, partimos para uma segunda fase dessa pesquisa, com o objetivo de formar um ranking. Para tanto, atribuímos a pontuação clássica da Fórmula 1 (9 pontos, 6, 4 3, 2 e 1) para cada critério. Evidentemente, o número de títulos é mais importante do que o número de vitórias. E uma vitória vale mais do que um vice. Esse foi o critério. Atribuímos um ponto extra também para o piloto que ganhou a primeira corrida e o primeiro título com menos GPs (nos dois casos, foi Hamilton).
Veja abaixo como ficou nosso ranking dos 161 primeiros GPs. Schumacher manteve-se em primeiro lugar, mas, pela conexão entre acúmulo de conquistas e ordem de grandeza das coisas, Senna acabou ultrapassando Prost e Vettel, perdendo apenas para Schumacher. Os pontos referem-se aos pontos deste ranking.
PILOTO | TIT | VIT | VIC | POL | POD | MV |
PT EXT |
TOT PTS |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
PONTOS | 9 | 6 | 4 | 3 | 2 | 2 | 1 | |
Schumacher | 36 | 318 | 8 | 129 | 194 | 44 | 729 | |
Senna | 27 | 246 | 8 | 195 | 160 | 19 | 655 | |
Vettel | 36 | 252 | 4 | 138 | 162 | 25 | 617 | |
Hamilton | 27 | 234 | 4 | 147 | 172 | 25 | 2 | 611 |
Prost | 27 | 258 | 16 | 60 | 180 | 34 | 575 | |
Alonso | 18 | 156 | 4 | 60 | 126 | 18 | 382 | |
Piquet | 27 | 120 | 4 | 72 | 106 | 23 | 352 |
Claro que a pergunta sobre quem foi o maior piloto de todos os tempos talvez fique eternamente aberta porque os pilotos correram em épocas diferentes, com regulamentos diferentes, com rivais diferentes. Para montar um ranking histórico consdiderando todas as variantes, é preciso ter uma inteligência artificial, mas ainda não temos condições de investir nisso (temos uma proposta de fórmula). Porém, esta pesquisa e este ranking mostra que, na Fórmula 1 moderna, ninguém superou ainda o alemão Michael Schumacher. Nem mesmo Lewis Hamilton, com seus seis títulos mundiais. Mesmo considerando somente as primeiras 161 corridas (o que Senna pode computar), Schumacher tem números superiores. No total da carreira, Michael ainda ganharia sete títulos. Mas quem pode dizer que Ayrton não teria conseguido oito, nove ou dez se não fosse a tragédia da curva Tamburello no dia 1º de maio de 1994?