30 anos sem título brasileiro na Fórmula 1, e contando
Tricampeonato de Ayrton Senna na Fórmula 1 completa 30 anos em 2021; temporada de 1991 também marcou estreia de Michael Schumacher
Parecia um roteiro perfeito para o brasileiro: Ayrton Senna começou o campeonato de 1991 de forma arrasadora, com quatro vitórias nas quatro primeiras corridas. Para melhorar, em cada uma delas, o segundo colocado foi um piloto diferente – respectivamente Alain Prost, Riccardo Patrese, Gerhard Berger e Nigel Mansell. E a cereja do bolo: naquele ano, as vitórias passaram a ser premiadas com dez pontos, e não mais nove, como aconteceu até 1990. Senna concluiu a quarta corrida daquele ano, disputada em Mônaco, com 40 pontos na tabela, contra 11 de Prost e 10 de Berger.
Se os números em si já pintam um cenário de sonho, outros fatores fora da tabela confirmavam a lua de mel entre Senna e a Fórmula 1 naquela temporada. Na segunda corrida do ano, ele havia conseguido finalmente a almejada vitória no GP do Brasil, naquela corrida ainda hoje mítica, com falha no câmbio, aproximação de Patrese, o locutor bradando pelo fim da prova por causa da chuva etc.
Mais: depois de três temporadas duelando dramaticamente com Prost, Senna via o adversário pelejar com uma Ferrari problemática, que lhe garantiria apenas o quinto lugar no Mundial, com pouco mais de um terço dos pontos de Senna (96 a 34). Ainda que, depois de quatro corridas, Prost fosse o vice-líder do campeonato, era evidente que o francês não conseguiria fazer frente a Senna, passando a literalmente cair pela tabela, enquanto o brasileiro jamais perderia a liderança do campeonato.
Tudo perfeito, até chegar o GP do Canadá. Senna, que havia conquistado todas as quatro pole positions até então, perdeu o primeiro lugar no grid para Riccardo Patrese, da Williams. Durante a corrida, a McLaren apresentou problemas elétricos e Senna parou na 25ª volta. Nigel Mansell, que passou o companheiro Patrese logo na primeira volta, parecia imbatível, até a quebra da caixa de câmbio da Williams a menos de meia volta do fim, legando uma improvável vitória a Nelson Piquet.
Daí para a frente, a McLaren de Senna parecia girar em falso, enquanto a Williams subia de forma consistente. Foram quatro vitórias seguidas do time de Frank, três de Mansell e uma de Patrese. Ficava cada vez mais claro que a perseguição do italiano a Senna, no Brasil, não havia sido tão episódica quanto poderia parecer.
A Williams tinha um carro forte e estava em plena evolução, ainda que Senna mantivesse a primeira colocação no campeonato graças ao domínio em seu início, além dos pontos conquistado mesmo em algumas dessas corridas que não venceu. Senna, cinco corridas longe do primeiro lugar, voltaria à vitória no GP da Hungria. Venceria de novo na Bélgica, continuaria somando pontos de forma consistente a ponto de ser campeão por antecipação no Japão, graças ao abandono de Mansell, atolado na brita na nona volta. Satisfeito com os serviços prestados pelo companheiro Berger, nessa prova abriu passagem para o austríaco a poucos metros da linha de chegada, dando-lhe a vitória de presente.
Se 1991 marca o fim de uma bela jornada – o conjunto de oito títulos brasileiros conquistados por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Senna em apenas 19 anos – também significa o início de outra era, já que foi neste ano que Michael Schumacher fez sua estreia na categoria, substituindo o belga Bertrand Gachot, que havia sido preso.
Trinta anos depois, o Brasil não tem um piloto titular na Fórmula 1 há três temporadas, a Williams é uma equipe de fundo de grid, a McLaren, que não ganha uma corrida desde 2012, tenta se recolocar entre os times vencedores. A principal semelhança entre 1991 e 2021, por enquanto, é o nome Schumacher de volta ao grid.
O desejo, de todos que sonham com mais competitividade na Fórmula 1, é vislumbrar que a evolução da Red Bull nos anos recentes possa reviver algo parecido com o que a Williams fez há trinta anos. Como, no passado, o ex-time de Frank cresceu no retrovisor da McLaren, que a equipe dos energéticos possa ser uma ameaça real ao domínio avassalador da Mercedes.