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A Guerra na Ucrânia, a Fórmula 1, a Haas e Pietro Fittipaldi

Os desdobramentos da guerra podem mudar o calendário da F1, tirar Nikita Mazepin da Haas e colocar um brasileiro novamente na categoria

25 fev 2022 - 13h47
(atualizado às 13h49)
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Até o segundo dia de testes, a Haas correu com as cores russas
Até o segundo dia de testes, a Haas correu com as cores russas
Foto: Haas / Twitter

O mundo ainda nem saiu de uma pandemia e está acompanhando atônito o início de uma nova guerra. Ainda é cedo para saber as consequências da empreitada russa na Ucrânia no curso da história, mas os reflexos começam a surgir. Sanções econômicas, ameaças, embargos e pressão internacional. E alguns respingos já começam a aparecer na Fórmula 1. 

Vale lembrar que a F1 é controlada pelo grupo americano Liberty Media, e os Estados Unidos anunciaram uma série de sanções econômicas à Rússia em retaliação à guerra. Negócios entre empresas do país de Joe Biden e o país de Vladimir Putin, naturalmente, ficam em situação delicada. 

GP da Rússia

Assim que foi deflagrada a operação militar que deu início à Guerra da Ucrânia, o assunto rapidamente tomou conta do mundo da Fórmula 1. Em meio aos testes de pré-temporada, realizados em Barcelona, alguns pilotos se manifestaram. Sebastian Vettel, uma das vozes mais ativas da categoria em pautas sociais, puxou a fila ao dizer que se recusaria a correr na Rússia caso o GP do país fosse mantido. Max Verstappen, que costuma evitar assuntos extra-pista, foi pelo mesmo caminho ao afirmar que a F1 não deveria correr em um país em guerra. 

Com a enorme (e óbvia) repercussão negativa da guerra, rapidamente o assunto escalou de alçada dentro da F1. Uma reunião foi convocada entre as equipes e a direção da categoria na noite de quinta-feira (24) para tratar sobre o GP da Rússia, agendado para 25 de setembro. Em um comunicado emitido na manhã dessa sexta (25) a F1 diz ser “impossível realizar o GP da Rússia nessas circunstâncias”. 

Banco VTB, principal patrocinador do GP da Rússia, está no olho do furacão. Na foto, pódio do GP de 2019
Banco VTB, principal patrocinador do GP da Rússia, está no olho do furacão. Na foto, pódio do GP de 2019
Foto: Jean Todt / Twitter

Chamou a atenção o fato de o comunicado não ser taxativo em cancelar o evento, mas apenas coloca-lo em suspensão dadas a situação atual. Abre margem para que a corrida seja realizada caso o cenário melhore. A situação, no entanto, é particularmente complicada pois o principal patrocinador do evento, o banco russo VTB, entrou na lista de embargos do governo americano. Nos bastidores, já se fala em substituir a etapa russa por uma prova no circuito de Istanbul Park, na Turquia. 

Haas e Mazepin

A Haas é a única equipe americana da Fórmula 1 atual. Iniciada em 2016, a esquadra até hoje patina em termos de resultados e vive com uma calculadora financeira na mão. A situação se agravou em 2019, quando conseguiu um contrato de patrocínio com um obscuro fabricante de energéticos, mas acabou sendo deixada na mão pela empresa ainda no começo da temporada. Sem patrocínio, o time sofreu ao longo de 2019 e 2020 e chegou a 2021 em situação delicada. 

E aí entra em cena a família Mazepin. Sem grana, a Haas firmou um acordo com a Uralkali, empresa russa de fertilizantes que tem como um de seus sócios Dmitry Mazepin. A parceria salvou a equipe da bancarrota, mas a obrigou a deixar o orgulho americano de lado e aceitar pintar seu carro quase como uma grande bandeira russa, além de ter o controverso e questionado Nikita Mazepin - filho de Dmitry – como um de seus pilotos titulares. Até o nome oficial da equipe passou a ser “Uralkali Haas”. Foi assim em 2021 e seria assim em 2022. Até começar a guerra. 

A condenação prévia da Rússia ante a opinião pública internacional acabou por pressionar a equipe. Após apenas dois dias de teste com o carro “russo”, a Haas se viu obrigada a mudar a pintura para o terceiro dia, quando surgiu com um carro limpo, sem as cores do país. A Uralkali, praticamente único patrocinador, também teve seu nome suprimido da pintura do carro, dos caminhões e equipamentos da equipe. 

O carro da Haas limpo, sem o patrocinador e a bandeira russa
O carro da Haas limpo, sem o patrocinador e a bandeira russa
Foto: Haas / Twitter

Não que a empresa esteja envolvida nos embargos. À princípio, as sanções impostas pelos EUA e pelos países da OTAN abrem uma margem para atuação para o forte setor de fertilizantes agrícolas russos. Acontece que o senhor Dmitry Mazepin estava em um evento realizado na quinta-feira (24) pelo presidente russo Vladimir Putin, em que o mandatário se reuniu com grandes empresários do país. E o presidente americano Joe Biden, em seu discurso para comunicar as sanções, mencionou que oligarcas russos seriam contemplados nos embargos. Não mencionou quais ou como, mas o recado foi dado. 

Isso posto, ficou difícil para uma equipe americana manter uma parceira com uma empresa russa. Romper um contrato tão expressivo nunca é fácil, e a Haas pretende analisar a situação com mais cuidado para tomar uma decisão nas próximas semanas. Guenther Steiner, o chefe da equipe, fez questão de frisar que o imbróglio não deve impactar em resultados: “Não há reflexo no nosso lado competitivo por causa disso, de forma alguma”, disse à Autosport. “Só precisamos ver a questão comercial. Vamos fazer isso nas próximas semanas.” Um recado para potenciais novos patrocinadores? Talvez... 

Nikita Mazepin tem seu futuro atrelado ao do patrocinador
Nikita Mazepin tem seu futuro atrelado ao do patrocinador
Foto: Haas / Twitter

O enrosco põe em xeque a carreira de Nikita Mazepin. Apoiado pelo patrocínio da Uralkali, a permanência do patrocinador deve ser decisiva para sua permanência na equipe. O futuro do jovem russo passou a ser um dos assuntos de interesse da categoria. “É um momento difícil e não estou no controle sobre o que tem sido dito e feito. Estou escolhendo focar no que POSSO controlar, trabalhando duro e dando meu melhor para minha equipe Haas”, tweetou Mazepin. 

Pietro é o reserva imediato

No caso de a Haas romper o contrato com a Uralkali e optar pela não continuidade de Mazepin, o piloto reserva imediato da equipe é o brasileiro Pietro Fittipaldi. Em um primeiro momento, ele poderia ser alçado ao posto de titular do time. Desde 2019, o neto de Emerson é o terceiro piloto da Haas, e chegou a correr pela equipe em duas etapas no fim de 2020, substituindo Romain Grosjean no Barein e em Abu Dhabi após o grave acidente do francês. 

No entanto, é importante frisar que não há nenhuma garantia de que Pietro herde a vaga no caso de uma saída de Mazepin. Naturalmente, posto seria altamente cobiçado. Nesse cenário, a Haas teria que correr atrás de outro patrocinador, o que abre um campo enorme de possibilidades. Sempre há a chance que uma empresa entre e coloque como condição nomear um piloto – como aconteceu com o próprio Mazepin e tantos outros na história da categoria. 

Pietro Fittipaldi é o piloto reserva da Haas
Pietro Fittipaldi é o piloto reserva da Haas
Foto: Haas / Twitter

Há ainda o cenário de a Ferrari, fornecedora de motores e parceira técnica da Haas, usar o espaço para colocar algum piloto de seu programa de formação. Mick Schumacher já está na equipe nessa condição, mas o cenário pode sugerir que isso ocorra também no segundo carro. Nesse caso, o primeiro nome da fila seria o de Robert Shwartzman, da F2. Acontece que, como Mazepin, Shwartzman é russo, o que poderia ser um impeditivo. 

Por último, existe a chance de a Haas buscar um piloto mais experiente para a vaga. Antonio Giovinazzi, também ligado à Ferrari, saiu da Alfa Romeo no ano passado a contragosto, e está na Fórmula E. Pode ser um nome viável. Ou mesmo um dos pilotos que a equipe dispensou ao fim da temporada de 2020 em favor da dupla atual: Grosjean ou Kevin Magnussen. E por que não o onipresente Nico Hulkenberg, cotado para qualquer vaga que surge na F1 nos últimos anos. 

Por enquanto, tudo é especulação. Pietro é um nome respeitado dentro da equipe. É possível que a Haas passe por um momento de transição, sem a Uralkali e sem Mazepin, até definir que rumo tomar. Nesse meio-tempo, Pietro tende a ter a preferência para tocar o barco. Se ele tem chances de ser efetivado na vaga e completar a temporada, só o tempo poderá dizer. 

A lamentar, o triste fato de toda essa movimentação ser provocada por uma das maiores tragédias que a humanidade foi capaz de produzir. Na guerra, não há vencedores. 

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