A Haas tenta sobreviver na F1 diante do fogo cruzado
Após um início promissor, a Haas não progride e é atingida pelo confronto russo-ucraniano. Será que Gene Haas segue na F1?
É bem provável que neste momento Gene Haas esteja em seu escritório na Haas, na Carolina do Norte, se perguntando: por que eu fui entrar neste negócio de F1?
No princípio, tudo pareciam flores: finalmente uma equipe americana se lançava na F1, coisa que a categoria procurava há tempos. Afinal, sempre foi um absurdo o pouco impacto do esporte junto ao público e mercado americano. Para a Haas, fazia senso este movimento: afinal, era a principal fabricante de máquinas de usinagem eletrônica do mundo e já tinha um envolvimento com o esporte.
E o início foi forte. Os americanos escolheram um caminho interessante que deu rápidos resultados: montou uma estrutura enxuta, encomendou seu carro à Dallara e comprou tudo o que podia da Ferrari. A equipe estreou em 2016 e conseguiu um 8º lugar entre os construtores. Em 2017, manteve a posição, mas quase duplicando os pontos (47 x 29). 2018 foi o melhor ano, 5º lugar com 93 pontos.
Parecia que o céu era o limite. Uma estratégia esperta, que incomodava outras equipes que gastavam bem mais e com resultados piores. Talvez estes times tenham contratado um bom pai de santo para atravancar os caminhos dos americanos. Pois em 2019, a sorte virou inteiramente...
A esperança era de que poderia se consolidar neste campo do “melhor do resto”. E a equipe teria um patrocinador principal: a empresa britânica de energéticos Rich Energy. Criada e tocada pelo excêntrico William Storey, a marca nunca havia sido vista, mas se garantiu que haviam sido obtidas garantias de que tudo correria bem. Não foi assim.
As coisas andaram juntas. Após um bom começo, o time verificou que havia um erro de projeto, que fazia a gestão dos pneus ser uma tormenta. Em paralelo, a Rich deixou de cumprir os pagamentos devidos e uma briga de acionistas começou, levando até um pedido para que retirassem a marca da empresa do carro. Resultado: Gene Haas teve que entrar com o dinheiro até o fim do ano e a equipe só ficou à frente da Williams.
Por conta disso, 2020 foi um ano em que o time optou por trabalhar em consertar o VF-19 e não fazer grandes investimentos. Gene Haas chegou a falar: “por que gastar milhões de dólares em desenvolvimento se não tem resultado?”. O próprio diretor técnico do time considerou que o VF-20 teve 60 a 70% do trabalho previsto. Junte a isso as limitações trazidas pela COVID-19. A partir daí aumentaram as conversas de que os americanos poderiam sair da F1. E os resultados pioraram: 9º lugar, com somente 3 pontos.
A sorte parecia sorrir de volta em 2021. Com a manutenção dos carros de 2020 para temporada, a Haas viu seu caixa aliviado. E conseguiu o forte apoio russo da Uralkali, gigante do ramo de fertilizantes, comandada por Dmitri Mazepin, que já havia comprado a equipe Hitech, envolvida com as categorias de base e a W Series. Em troca, uma das vagas foi para Nikita Mazepin. Em conjunto, chegou Mick Schumacher, com o apoio da Ferrari e de patrocinadores alemães.
Era uma estratégia ousada, mas coerente: colocar dois pilotos jovens em um carro não tão bom. O plano era focar todos os esforços no carro do novo regulamento (que estava sendo inteiramente concebido em um espaço na fábrica da Ferrari em Maranello, justamente para os italianos poderem contornar a questão do teto orçamentário) e dar rodagem aos pilotos. A Haas acabou sendo a última colocada da temporada e, pela primeira vez até então, não marcou ponto algum.
Este ano se apostava na redenção americana. Só que a escaramuça Rússia/Ucrânia colocou os planos em espera por enquanto. Até este momento, a logomarca da Uralkali foi retirada de todos os carros e motorhome. E até mesmo a permanência de Nikita Mazepin é colocada em xeque. Acaba sendo complicado neste instante para um time americano ter relações com empresas russas, sob pena de sanções.
Perguntado nesta sexta-feira sobre a equipe, Gunther Steiner, o chefe do time, falou que na próxima semana deverá ter uma resolução para estas questões e que a permanência do time este ano estava garantida. Resta a dúvida se Gene Haas completa a conta mais uma vez ou se irá atrás de novos apoios (não há confirmações, mas diz-se que os russos colocavam cerca de US$ 30 milhões anuais nos cofres da Haas).
Diante do quadro, não são poucos que voltam a falar em um possível desembarque de Gene Haas da F1. Em tese, ele garantiu sua presença até 2025, com a assinatura do novo acordo comercial. Mas nada impede que consiga algum investidor para poder assumir o comando e seguir com as atividades. Um nome lógico que surgiu foi o de Michael Andretti, que teria tido conversas iniciais no ano passado, mas que não se desenvolveram. Diante da intenção de entrar em 2024, comprar um time seria mais rápido e mais barato.
Gene Haas não é bobo e considera as possibilidades. Mesmo com tudo isso, ele diz que a F1 permitiu popularizar sua marca e foi um ótimo instrumento de marketing para consolidar sua posição no mercado de máquinas de usinagem, mantendo a liderança.
A ver as próximas jogadas. A equipe tem uma grande simpatia no paddock e do público, após as primeiras temporadas do Drive To Survive, onde a equipe teve uma boa exposição. A Liberty Media olha com atenção a situação e fará de tudo para que se mantenham as 10 equipes atuais.