A McLaren perde uma parte importante de sua história
A morte de Mansour Ojjeh no ultimo sábado marca efetivamente o fim de uma fase para a equipe inglesa
Podemos dizer que, no último fim de semana, a McLaren cumpriu o último ato de transição da sua segunda fase, que teve início com a chegada de Ron Dennis, para a atual. Mansour Ojjeh, após uma luta contra vários problemas de saúde, morreu no último sábado, aos 68 anos.
Se a McLaren cresceu assustadoramente na segunda metade dos anos 1980 e se consolidou como equipe de ponta, foi graças a ele. Filho de uma família saudita com fortes interesses no comércio de petróleo, Mansour foi criado na Europa e criou nos anos 1970, a Techniques d'Avant Gard, ou simplesmente, TAG.
Aficionado por velocidade e por tecnologia, a empresa era uma forma de diversificar os negócios da família, e entrou na F1 na onda dos capitais árabes na Williams, no início dos anos 1980. Embora investisse na Williams como patrocinador, a cartada principal foi com Ron Dennis. Em 1981, a McLaren buscava um motor turbo para chamar de seu e negociava exclusividade com a Porsche, mas estes somente como contratados.
A parte inicial do desenvolvimento foi bancada pelo time, com a ajuda da Marlboro. Mas era preciso mais. E em 1982, Ron Dennis convenceu Ojjeh a entrar como investidor no projeto, colocando a marca TAG. A ideia inicial seria que este motor fosse usado por outras categorias e até pela própria Williams. Mas Frank Williams já negociava com a Honda e a McLaren teve a exclusividade do negócio.
A partir daí, o envolvimento aumentou. Buscando aumentar seus tentáculos, Dennis o chamou para sócio. E assim o foi, com maioria das ações ficando em seu poder e Ron Dennis tocando a empresa.
De um modo discreto, Ojjeh foi o esteio para o crescimento do time, inclusive na diversificação das atividades da McLaren, com a entrada na fabricação de carros de rua, ideia que vinha desde Bruce McLaren. Além da McLaren, a TAG ia bem. Entrou na parte de eletrônica, mecânica e até na relojoaria, comprando a Heuer e criando a Tag-Heuer, confirmando-se como referência no ramo.
Mesmo com a chegada da Mercedes-Benz como acionista, Ojjeh se manteve no grupo e ajudou Ron Dennis quando os alemães decidiram sair e bancar sua própria equipe. Sua participação foi efetivamente reduzida quando o fundo soberano barenita comprou a maioria das ações quando da capitalização do grupo e da saída de Ron Dennis.
Nos últimos anos, Ojjeh era uma figura mais sumida ainda dos paddocks. Os problemas de saúde aumentaram, o que valeu inclusive um transplante de pulmão e outro de fígado. No ano passado, transferiu ao filho seu posto de diretor na McLaren, mas ainda mantinha cerca de 14% das ações da empresa através da TAG.
Embora não fosse mais atuante, sua figura ainda pairava sobre Woking. Afinal de contas, sua atuação foi primordial para a formação do grupo como ele é hoje, tanto nos bons como nos maus momentos (o caso de espionagem de 2007, por exemplo). Agora, por força do destino, a McLaren corta o último laço que tinha com sua fase anterior, em que foi rainha da F1. Se Ron Dennis foi o cérebro, Ojjeh foi o coração. Que Zak Brown saiba aprender a aproveitar o legado deste silencioso poderoso.