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A primeira vez que Senna ergueu a bandeira do Brasil na F1

Senna ficou eternizado pelo seu gesto de erguer a bandeira. Tudo começou por conta de uma eliminação do Brasil na Copa do Mundo

27 jan 2022 - 20h08
(atualizado às 20h28)
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Ayrton Senna com a bandeira no GP da Europa de 1993
Ayrton Senna com a bandeira no GP da Europa de 1993
Foto: Ayrton Senna / Twitter

Em 1986, Ayrton Senna estava em seu segundo ano de Lotus e, em grande parte do campeonato, parecia que brigaria pelo título. O carro do brasileiro naquele ano era o 98T, que nada mais era do que uma evolução do 97T do ano anterior, que havia se mostrado competitivo. 

A 98T era um bom carro, principalmente para voltas de qualificação. O começo foi muito bom, porém, como o projetista Gérard Ducarouge tinha uma filosofia de não fazer grandes atualizações ao longo da temporada, o carro acabou ficando defasado. O grande problema era a questão de gerenciamento de pneus em ritmo de corrida, perdendo muito rendimento ao final das provas. Outro aspecto que prejudicava a Lotus era o motor V6 turbo da francesa Renault que, embora mais evoluído, ainda ficava atrás dos Honda e TAG/Porsche em termos de potência e consumo.

Neste cenário, se aproveitando mais da regularidade, Senna chegou a assumir a liderança do campeonato após a 5ª etapa, o GP da Bélgica. Até ali, havia abandonado apenas um GP (San Marino) e vencido uma prova (Espanha). Seu pior resultado até então era o 3º lugar de Mônaco. Mas no GP do Canadá, largou em 2º e acabou tendo problemas de rendimento no início da prova, terminando apenas 5º , uma volta atrás do vencedor, Nigel Mansell. Com isso, caiu para 3º no campeonato, com 27 pontos, dois pontos atrás de Alain Prost (McLaren), que tinha 29 pontos, e atrás de Mansell (Williams) nos critérios de desempate (número de vitórias).

Senna durante o GP da Bélgica
Senna durante o GP da Bélgica
Foto: Ayrton Senna / Twitter

A F1 então chegou a Detroit, sede das grandes montadoras americanas, como GM, Ford e Chrysler, para o GP dos EUA. Senna não brincou em serviço na qualificação, fazendo a pole com 0s538 de vantagem para o 2º colocado, Nigel Mansell. Mas, no Brasil, nem tudo era festa. Ao mesmo tempo, era disputada a Copa do Mundo no México, onde a seleção fez uma primeira fase perfeita, com 3 vitórias e ganhou da Polônia nas oitavas de final por 4 a 0. Porém, no mesmo dia da definição do grid, perdeu nos pênaltis para a França nas quartas de final, de forma melancólica. 

Obviamente, Senna acabou sendo zoado por conta disso por parte dos funcionários franceses da Renault. Mas domingo seria um dia bem diferente. Senna precisava vencer para retomar a liderança que, naquele momento, estava na mão de um francês, Alain Prost, apesar da rivalidade entre os dois estar bem longe do que viria a se tornar a partir de 1988, quando o brasileiro iria para a McLaren. 

Alguns brasileiros que estavam na arquibancada do GP pediam em um cartaz para ele dar “um olé no francês” em referência a Prost. Senna viu o cartaz e deu risada. No momento da largada, Senna conseguiu manter a 1ª posição, seguido por Mansell. Mas na 2ª volta, o brasileiro acabou errando uma marcha, o que fez com que o piloto da Williams assumisse a liderança.

Nigel Mansell durante a temporada de 1986
Nigel Mansell durante a temporada de 1986
Foto: F1 / Twitter

Para piorar a situação, o brasileiro começou a ser pressionado pelo francês René Arnoux, da Ligier, que queria o 3º lugar. Mas Senna conseguiu se recuperar na volta 8, ganhando a liderança com uma bonita manobra e começou a abrir. Arnoux e seu companheiro, o francês Jacques Laffite, também passaram por Mansell, que perdeu contato momentaneamente. 

Na volta 14, Senna parou nos boxes para uma troca inesperada de pneus, por conta do esvaziamento do pneu traseiro direito. Isso acabou custando a liderança e mais posições: Senna só voltou em 8º, mesmo com uma boa parada para os padrões da época, de 11s67, e 20 segundos atrás do novo líder, Arnoux. 

Mas sua liderança durou apenas três voltas, já que Laffite buscou a liderança. Mais atrás, Senna vinha para tentar passar duas Ferrari. Esta já era uma situação familiar para o brasileiro, pois um ano antes, enquanto tentava recuperar posições na mesma pista, acabou batendo quando também estava atrás da dupla da equipe italiana, o que acabou não se mostrando bem sucedido. 

Agora, era diferente: ele tinha que passar. E o sueco Johansson foi a primeira vítima, na volta 17. Duas voltas depois, foi a vez de passar por Alboreto e espantar o fantasma do ano anterior de uma vez. Senna agora tinha Piquet (Williams) 8s048 à sua frente. Foram várias voltas, enquanto a diferença iria diminuindo. Além disso, as Ligier começaram a apresentar um desgaste elevado de seus pneus Pirelli, perdendo ritmo e distância. 

Na volta 20, Mansell, Prost e Piquet, com os pneus Goodyear, chegaram e logo se formou um trenzinho. Duas voltas depois, foi a vez de Senna chegar. Arnoux, que estava com pneus mais macios, acabou perdendo o contato com o líder Laffite. Mansell, antes mesmo de chegar nos carros da Ligier novamente, estava sofrendo com a pressão de Prost. Entretanto, foi o francês quem sofreu o golpe na volta 26, levando ultrapassagem dos dois brasileiros: Piquet e Senna. 

Com isso, Senna já estava em 5º e logo ganhou a posição de Arnoux, que parou nos boxes. O brasileiro agora tinha as duas Williams à sua frente. Mansell estava muito pressionado e na volta 30 acabou perdendo posições para os pilotos brasileiros. Nesta mesma volta, Laffite também fez seu pit stop. Piquet e Senna agora eram 1º e 2º, respectivamente. Mansell parou nos boxes para sua troca, mas teve problemas e perdeu várias posições. 

Mas Piquet precisaria parar, pois estava claro que ir até o final com os pneus não parecia uma escolha segura. E, na volta 39, isso aconteceu. Porém, a Williams demorou muito no pit, com uma parada em 18s43. Isso deu a chance da Lotus mudar a estratégia, já que, como a rival perdeu tempo, Senna poderia parar e voltar à frente, evitando assim qualquer risco de desgaste dos pneus ou um potencial estouro. 

Na volta seguinte, Senna fez uma 2ª parada em incríveis 8s28, voltando tranquilamente à frente de Piquet, que vinha com 8s070 de desvantagem. As coisas melhoraram mais para Ayrton, já que Piquet bateu na volta 42. Agora o 2º colocado era Arnoux, que vinha mais de 10 segundos atrás. Só que 5 voltas depois, acabou sendo mais um a se encontrar com os muros de Detroit, dando a vice-liderança para Prost. Naquele momento, o francês lutava contra Laffite, mas 22s904 atrás de Senna, que ainda aumentou essa diferença para 52s758 na volta 57.

Por conta da grande diferença, Senna só administrou o ritmo nas últimas voltas, chegando 31s057 à frente de Laffite, que teve Prost logo atrás o pressionando. O 2º e 3º lugares eram da França, mas o 1º era do Brasil. Na volta da desaceleração, Senna viu uma bandeira do Brasil na arquibancada, parou o carro e pediu a bandeira. E continuou a volta, mostrando todo orgulhoso a bandeira do país. Além de dar o troco na zoação aos técnicos da Renault,  assim surgiu um dos símbolos de Ayrton Senna, se repetindo várias vezes, como nas vitórias do GP do Brasil de 1991 e 1993, em Interlagos.

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