A vitória polêmica de Schumacher em Silverstone 1998
Michael Schumacher surpreendeu a todos quando, na última volta, entrou para cumprir um stop & go e cruzou a linha de chegada nos boxes
Michael Schumacher, com certeza, não tinha sorte em Silverstone. Ele venceu apenas três vezes por lá e fez apenas uma pole, além da famosa prova de 1994, em que foi desclassificado e ainda teve que cumprir mais duas corridas de gancho. E, de fato, até 1998, a vitória não tinha vindo em terras britânicas.
O cenário daquele campeonato era Michael Schumacher (Ferrari) contra Mika Hakkinen (McLaren). O alemão tinha vencido as duas últimas etapas e, antes de chegar a Silverstone, o campeonato estava 50 x 44 para Hakkinen - lembrando que a vitória na época valia 10 pontos. Mas Silverstone parecia não ser uma pista para a Ferrari, enquanto a McLaren parecia que poderia dominar.
Na qualificação, Hakkinen fez o melhor tempo, Schumacher ficou em 2° lugar, 0s449 atrás. Outro piloto que viria a ser importante para essa história é o companheiro de Hakkinen, David Coulthard, que tinha feito o quarto tempo. A corrida começou com pista molhada, mas não estava chovendo. Mika manteve a ponta, Coulthard logo conseguiu superar Michael Schumacher e estava se desenhando uma dobradinha da McLaren.
Isso também se deve porque na época existiam os treinos de domingo de manhã, quando as equipes podiam fazer ajustes. No caso da Ferrari, a aposta foi em pista seca, enquanto a McLaren fez um acerto mais para molhada. As coisas ainda iriam piorar para os italianos quando a chuva começou a cair mais forte. Hakkinen resolveu colocar pneus de chuva intensa, enquanto Coulthard e Schumacher foram de intermediários.
O alemão se distanciava ainda mais, enquanto Coulthard se mantinha junto a Hakkinen. A distância entre os dois era mínima por muitas e muitas voltas, até o escocês rodar na volta 38. Quando a chuva se intensificou, a diferença entre Hakkinen e Schumacher era de 21s, e ainda aumentou porque a Ferrari, por precaução, parou e colocou pneus de chuva intensa.
Muitos carros começaram a rodar, o que provocava bandeiras amarelas localizadas, impedindo que um piloto ultrapasse outro, mesmo sendo retardatário. Em uma dessas bandeiras, na volta 43, provocada por Olivier Panis (Prost), Schumacher acabou ultrapassando Alex Wurz (Benetton) e dando uma volta no austriaco. Isso causaria toda a polêmica do final da prova.
Uma volta antes, Hakkinen tinha passado reto na Bridge, uma curva que no atual traçado não existe mais. Ele rodou em 360°, voltou para a pista, mas danificou a asa dianteira e o assoalho. A vantagem naquele momento era de 40s, caiu para 34s nas duas voltas seguintes. Vendo a chuva intensa, a direção de prova colocou o SC na pista, que durou até a volta 49.
Com o carro de segurança, a diferença entre Hakkinen e Schumacher tinha acabado. Na volta 50, Hakkinen passou reto na Maggots, entregando o primeiro lugar de graça para o piloto da Ferrari. A vitória parecia definida e para Hakkinen restou segurar o companheiro de Schumacher, Eddie Irvine. Michael abriu uma vantagem confortável que chegou a ser maior que 20s.
Mas lembra da ultrapassagem em Wurz? Ela poderia custar a vitória do alemão, já que, 31 minutos após o incidente, a Ferrari recebeu a punição, faltando apenas duas voltas. No papel estava escrito que ele tinha uma punição de 10s, mas não ficava claro se seria um Stop & Go, procedimento de parar nos boxes, ficar os 10s e sair, ou seria acrescentado no tempo final.
A Ferrari até se preparou para cumprir essa punição na penúltima volta, mas acabou desistindo. Ross Brawn, diretor técnico da equipe, ordenou que fosse na última. Muitas transmissões nem sabiam da punição, a TV brasileira se surpreendeu quando ele entrou nos boxes. A equipe italiana então cumpriu a punição, porém Schumacher já tinha cruzado a linha de chegada antes de chegar no pit, o que fez com que ele cruzasse 22s465 a frente de Hakkinen.
Porém, como Schumacher estava parado nos boxes, Hakkinen até achou que teria vencido a prova. A confusão tomou conta: a McLaren queria que Schumacher fosse penalizado, enquanto a Ferrari apontava falhas no procedimento, o primeiro deles era que uma punição deveria ser dada no máximo 25 minutos depois do ocorrido, como já dito antes, essa levou 31 minutos.
Depois da prova, ficou esclarecido que a punição era de tempo, e não de stop & go. Mesmo dando 10s para o alemão, ele venceria da mesma forma. Mas os fatos ficaram ainda mais confusos, pois uma punição de acréscimo de tempo só podia ser dada por infrações que ocorriam durante as 12 últimas voltas, então ela foi revogada.
A McLaren não aceitou a situação e apelou para o Tribunal Internacional. No julgamento ficou claro que os comissários erraram duplamente: ao dar a punição depois do tempo e a esse não ser aplicável devido ao incidente não ter acontecido nas últimas 12 voltas. Como resultado do julgamento, os comissários daquela prova tiveram a licença cassada. Além disso, a FIA estabeleceu novos parâmetros após o fato, um deles é que qualquer punição teria que ser cumprida com pelo menos três voltas do fim das corridas.
Michael Schumacher conquistou uma vitória fantástica e fundamental para se manter vivo no campeonato, que viria a perder no fim do ano. Schumacher continuou não tendo muita sorte em Silverstone, só teve mais duas vitórias. Em 2002 e 2004, quando a Ferrari tinha carros dominantes. Mas, com certeza, a de 1998 foi a mais emocionante.