África do Sul volta ao calendário da F1? Tudo indica que sim
As notícias de que a F1 voltaria para a África do Sul a partir de 2023 vão se avolumando nas redes sociais. Kyalami se prepara.
A notícia correu como rastilho de pólvora nas redes sociais: Kyalami teria fechado um acordo com a Liberty Media para voltar a sediar o GP da África do Sul a partir de 2023. O motivo da afirmação seria um acordo fechado com a F1 e a DHL (patrocinadora e responsável pela logística da F1) para o transporte de material da categoria para o país por 5 anos.
Ainda se trata de uma possibilidade. Mas não é de hoje que a F1 namora com a ideia de voltar ao continente africano. Dentro da expansão do calendário planejado para 25 etapas, era o que faltava para tornar o campeonato realmente mundial (pelas regras da FIA, para que tenha o caráter mundial, um certame deve ter provas em pelo menos 3 continentes). A F1 voltou ao ponto de poder escolher onde correr e com contratos com valores crescentes.
Kyalami (que significa “minha casa” em zulu, uma das línguas oficiais da África do Sul) seria um retorno significativo para a F1. A pista foi inaugurada em 1962 e sediou sua primeira prova em 1967 (logo no dia 2 de janeiro! No ano seguinte, foi no dia 1º!). Logo caiu no gosto dos pilotos por conta do seu caráter da alta velocidade e suas variações de altura. Os times gostavam por se transformar em um ponto de testes para fugir do frio europeu, embora a altitude (1.500m) fosse uma dor de cabeça para acertar os motores.
A prova aconteceu praticamente ininterruptamente até 1985. Em 1981, a corrida foi disputada, mas não contou para o campeonato por conta da briga política entre FISA e FOCA por poder e dinheiro. Neste tempo, marcou a última vitória de Jim Clark, as mortes de Peter Revson (1974) e Tom Pryce (1977) e o segundo título de Nelson Piquet (1983). Mas a política segregacionista do país pagou seu preço e a F1 foi embora em 1986.
Deixando de seu um pária internacional, os sul-africanos voltaram a sediar eventos esportivos e foram namorando de volta a F1. Algumas equipes como a Tyrrell usaram a pista para testes. A esta altura, Kyalami havia passado por obras (parte do terreno foi vendido para um empreendimento residencial), perdendo um pouco do seu caráter de alta velocidade. E voltou a sediar um GP da F1 em 1992.
Na curta passagem, houve um domínio da Williams (Mansell em 1992 e Prost em 1993). Mas o fator financeiro entrou mais uma vez em ação e mais uma vez a F1 foi embora. Desde então, sempre houve a querência. O circuito sediou corridas de motos, carros de turismo e tantas outras. Mas na primeira metade da década passada, Kyalami voltou entrar em decadência e se falou em fechamento...
Kyalami foi salvo por Toby Venter, empresário e piloto. Entre várias atividades, é representante local da Porsche. Fez um investimento firme e pôs a pista dentro do Grau 2 da FIA (o 2º nível dos padrões da entidade. A lista completa está aqui). Para receber de volta à F1, muitas obras terão que ser feitas na área para adequar à categoria.
Caso o acordo se concretize, a Liberty se preocupa mais com a questão da imagem do que com o caixa no curto prazo, embora ainda haja dúvidas de quem bancaria a prova, já que o governo local mostra pouca disposição e como ficaria a situação diante de tantas mazelas (por exemplo: a África do Sul hoje conta com sérios problemas de fornecimento de energia elétrica).
África do Sul entraria no lugar da Bélgica ou França, conforme muito se aventa na imprensa. Monaco parecia em xeque, mas deve prosseguir. Entretanto, cabe verificar quando entraria no calendário. Em outros tempos, Kyalami ocupava a primeira parte da temporada, inclusive abrindo os trabalhos por vários anos (entre janeiro e março). Mas por duas vezes, o GP ficou no final da temporada (em outubro). Hoje, na visão agrupada do campeonato, poderia repetir o caminho do final da década de 70 e vir depois do Brasil, depois indo para o final no Oriente Médio. Dentro das mais diversas necessidades para atendimento, a ver onde será encaixada esta data.
Não é mais o circuito de antigamente. Mas retornar ao continente africano é uma marca importante para a categoria. É um movimento que seria até coerente com a promoção de diversidade que a F1 quer promover e dar um caráter mais global, além de significar ainda mais a redução do eurocentrismo da F1.