Alfa Romeo: uma história que vai do sucesso à queda na F1
Após dois anos desde o retorno à categoria, Alfa Romeo se mostra distante de repetir desempenho avassalador dos anos 50
Após três temporadas desde o retorno à Fórmula 1, a Alfa Romeo ainda está longe das glórias do passado. A terceira passagem da marca italiana pela categoria teve início em 2018, quando a Alfa patrocinou a Sauber. No ano seguinte, a parceria foi ampliada e a equipe passou a adotar o nome atual. O que muitas pessoas não sabem é que, apesar de atualmente andar no último pelotão entre os carros, a marca teve destaque nos primórdios da Fórmula 1.
Com tradição em competições em diferentes provas do automobilismo, como as 24 Horas de Le Mans, a Alfa Romeo foi uma das marcas fundadoras da categoria, em 1950. E o sucesso começou já na primeira corrida. Representada por quatro pilotos, a equipe italiana conquistou os três lugares do pódio no GP realizado em Silverstone, na Inglaterra.
A corrida foi vencida pelo italiano Giuseppe Farina, seguido pelo compatriota Luigi Fagioli e o inglês Reg Parnell, que completou o pódio. O outro piloto representante da Alfa, era ninguém menos do que o histórico Juan Manuel Fangio -- que posteriormente conquistou cinco títulos na Fórmula 1. No entanto, após largar em terceiro, o argentino não teve tanta sorte e abandonou a corrida após um problema mecânico.
Além da primeira vitória, a Alfa Romeo foi avassaladora na temporada de 1950. Em sete corridas na temporada, a equipe italiana conquistou seis vitórias, com a dobradinha entre Fangio e Farina (cada um venceu três vezes). A única etapa da temporada em que a Alfa não venceu foi justamente a única ausência da equipe naquele ano. Foi o GP das 500 milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, que contou apenas com a participação de equipes e pilotos americanos.
Tamanho sucesso nas corridas coroou a temporada da Alfa Romeo. Com três pontos de vantagem sobre Fangio, o italiano Giuseppe Farina foi o piloto campeão de 1950. No ano seguinte, a Alfa não teve o mesmo predomínio do que na temporada anterior, com o crescimento da rival Ferrari. Ainda assim, a Alfa seguiu andando no pelotão da frente.
Foram quatro vitórias, sendo duas de Fangio, enquanto Farina e Fagioli venceram uma vez cada. Além disso, a equipe italiana chegou ao pódio em todas as corridas de 1951. O bom desempenho garantiu o primeiro título de Juan Manuel Fangio -- que também seria tetracampeão entre 1954 e 1957 -- e marcou a primeira saída da equipe Alfa Romeo da Fórmula 1.
Apesar da saída como construtora, a Alfa Romeo não se manteve distante da categoria por muito tempo. A marca italiana forneceu motores para equipes como Brabham, Cooper e McLaren entre os anos 1961 a 1979, quando decidiu voltar como escuderia para a Fórmula 1.
Após 28 anos sem uma equipe própria, a Alfa Romeo decidiu retornar às pistas em 1979. O desempenho, no entanto, passou longe de repetir o sucesso dos anos 50. Representada pela Autodelta, divisão de corridas da marca, a Alfa Romeo disputou apenas cinco das 15 corridas do ano, e não marcou pontos. A dupla de pilotos da equipe naquele ano era formada pelos italianos Bruno Giacomelli e Vittorio Brambilla, e teve como melhor resultado um 12º lugar conquistado por Brambilla no GP da Itália.
Nos dois anos seguintes, marcados por problemas de confiabilidade e aerodinâmica, motivaram diversos abandonos de provas. Como raros momentos positivos, a Alfa Romeo teve a pole position no GP dos Estados Unidos de 1980, e um pódio em Las Vegas um ano depois, ambos conquistados por Bruno Giacomelli.
Após a saída da Autodelta do comando da equipe em 1982, a Alfa Romeo passou a contar com um carro desenvolvido pelo engenheiro francês Gérard Ducarouge, ex-Ligier. Um ano depois, em 1983, a Alfa conquistou o melhor resultado em sua segunda empreitada na Fórmula 1. Com um sexto lugar entre as equipes, outros destaques da temporada foram dois pódios com Andrea de Cesaris nos GPs da Alemanha e da África do Sul.
Em 84 e 85, a Alfa Romeo seguiu sem conquistar resultados relevantes, apesar de ter chegado ao pódio uma vez em 1984. E após a desastrosa temporada de 1985, na qual não marcou pontos, a marca italiana decidiu deixar a Fórmula 1 novamente. Apesar disso, a empresa ainda atuou como fornecedora em 1986 e 1987, para a equipe italiana Osella.
Anos mais tarde, a Alfa Romeo decidiu retornar pela terceira vez para a Fórmula 1. Depois de patrocinar a Sauber em 2018, a parceria entre as duas foi ampliada e culminou na criação da equipe Alfa Romeo Racing em 2019. Desde então, a escuderia italiana tem sido representada pelo experiente Kimi Raikkonen, campeão em 2007 pela Ferrari, e pelo italiano Antonio Giovinazzi, ambos confirmados para 2021.
Na primeira temporada desde o retorno à categoria, a Alfa conquistou o oitavo lugar entre as equipes, ficando à frente da Haas e Williams. Utilizando motores Ferrari, a escuderia italiana andou sempre no pelotão intermediário e somou 57 pontos em 21 GPs. E o GP do Brasil teve um gostinho especial para a Alfa: com um quarto lugar com Kimi e quinto com Giovinazzi, a equipe conquistou o melhor resultado desde o retorno até hoje.
No último ano, assim como os outros times que utilizaram motores Ferrari, a Alfa Romeo sofreu com o desempenho inferior se comparado aos motores Honda, Mercedes e Renault. No entanto, a equipe conseguiu repetir o oitavo lugar no campeonato, novamente vencendo Haas e Williams, respectivamente. Nas pistas, os melhores resultados foram dois nonos lugares, um para cada piloto.
Se por um lado, o retorno da marca à Fórmula 1 agradou aos saudosistas da categoria, o desempenho não tem tido a mesma recepção. Servindo de “laboratório” para futuros pilotos da Ferrari desde os tempos da Sauber, a equipe não tem pretensões de crescer em importância ou brigar por títulos, para a tristeza dos fãs da marca e da categoria.
Assim como Felipe Massa pilotou pela Sauber antes de ser promovido para a Ferrari, o mesmo aconteceu com o monegasco Charles Leclerc, que passou pela equipe em 2018 e no ano seguinte substituiu Raikkonen na escuderia de Maranello. Apesar da Ferrari não fazer parte da Stellantis (grupo do qual a Alfa faz parte) a marca ainda tem como acionistas majoritários a Família Agnelli, antiga dona da Fiat, que comandou a marca esportiva até 2014.
Com um início avassalador na categoria, hoje a Alfa Romeo vem se resumindo à uma equipe satélite da Ferrari. Apesar da tradição, os resultados da equipe jamais foram como nos anos 50, e para piorar, a equipe não mostra sinais de que mudará essa situação em 2021. Para muitos, trata-se de um potencial desperdiçado. E a julgar pelo sucesso da Alfa em tradicionais categorias como as 24 Horas de Le Mans, essa tese parece cada vez mais verdadeira.