As várias despedidas da Fórmula 1 em Abu Dhabi
O GP de Abu Dhabi marca não só o fim da temporada de 2021, mas também de outros ciclos importantes para a Fórmula 1
O Grande Prêmio de Abu Dhabi é aguardado com grande ansiedade, afinal, é o seu resultado que vai decretar o campeão da eletrizante temporada de 2021 da Fórmula 1. Mas, além da disputa entre Max Verstappen e Lewis Hamilton, que atrai a maior parte da atenção do público, a etapa dos Emirados Árabes será importante também por outros fatores.
Aposentadorias, trocas de equipe, mudanças de regulamento e de comando. Confira abaixo os ciclos que chegam ao fim no GP de Abu Dhabi.
A carreira de Kimi Raikkonen
A carreira mais longa da F1 chega ao fim. Kimi estreou na categoria em 2001, pela Sauber, e logo no ano seguinte migrou para a McLaren, onde substituiu o compatriota Mika Hakkinen. Foi na equipe inglesa que ele ganhou o status de piloto de ponta.
O título mundial bateu na trava duas vezes pela McLaren, em 2003 e 2005. A consagração veio apenas em 2007, já pela Ferrari. Em 2010 e 2011, Kimi ficou de fora da F1 e andou em outras categorias, para voltar em grande estilo pela Lotus em 2012. Retornou à Ferrari em 2014, permanecendo até 2018. Ele corre pela Alfa Romeo desde 2019.
São 352 GPs, um recorde. No currículo, 21 vitórias, 18 poles e 103 pódios. Fora das pistas, sua personalidade única lhe rendeu o apelido de “Homem de Gelo” e o transformou em um dos pilotos mais populares da categoria.
Raikkonen anunciou a aposentadoria na metade da temporada. Aos 42 anos, ele fará sua última corrida pela F1 no GP de Abu Dhabi.
Giovinazzi na F1
O outro piloto da Sauber-Alfa Romeo também está de saída. Mas, ao contrário de Raikkonen, Antonio Giovinazzi não escolher parar. O italiano não esconde de ninguém que gostaria de ficar, mas foi dispensado pela equipe em favor do chinês Guanyu Zhou, atualmente na F2.
Giovinazzi estreou na F1 em 2017 pela própria Sauber, fazendo duas corridas no lugar de Pascal Werlhein, machucado. Continuou como piloto reserva, e só assumiu uma vaga de titular em 2019, justamente ao lado de Kimi. Tendo como melhor resultado na carreira um 5º lugar
Aos 27 anos, Giovinazzi diz que ainda quer voltar a correr na Fórmula 1. Mas sabemos como isso é difícil. Sem vaga para o ano que vem, ele prontamente se acertou com a Dragon-Penske para correr pela F-E em 2022.
Bottas na Mercedes
Já que falamos de dois pilotos que estão de saída da Alfa Romeo, falemos de um que está para chegar. Valtteri Bottas foi contratado logo após o anúncio da aposentadoria de Raikkonen. Também finlandês, Bottas deixa a Mercedes depois de 5 temporadas, tendo conquistado dois vice-campeonatos e dois terceiros lugares.
Foram 10 vitórias, 20 pole positions e 58 pódios pela Mercedes, números que podem aumentar na derradeira corrida de Bottas pelo time alemão.
Russell na Williams
A vaga deixada por Bottas na Mercedes será preenchida por George Russell. O promissor inglês de 23 anos deixa a Williams após 3 temporadas. Pela equipe, ele conquistou um único pódio, mas o bom desempenho com um carro fraco chamou a atenção desde o início de sua carreira.
Motores Honda
A fabricante japonesa deixa a Fórmula 1 pela quarta vez em sua história. A marca voltou à categoria em 2015, como fornecedora de motores e sistemas híbridos para a McLaren. A parceria não deu certo, e o grupo Red Bull, em atrito com a Renault, sua fornecedora à época, embarcou no projeto a partir de 2018 com a AlphaTauri e 2019 com a equipe principal.
De lá para cá, foram 15 vitórias, sendo 14 com Max Verstappen, pela Red Bull, e uma com Pierre Gasly, pela AlphaTauri. O título pode vir nesse domingo (12), a depender do resultado de Verstappen no GP de Abu Dhabi.
A Honda vai deixar a Fórmula 1 por motivos de custo e posicionamento de marca, mas seus motores, equipamentos e sistemas continuarão a ser usados pelas equipes clientes, uma vez que a Red Bull adquiriu as propriedades intelectuais e maquinários e seguirá os fabricando sob o nome Red Bull Powertrains.
A Honda já passou outras três vezes pela F1. A primeira era durou de 1964 a 1968, como equipe, e rendeu apenas uma vitória. Depois, na fase de maior sucesso, forneceu motores entre 1983 e 1992, inclusive impulsionando um título de Nelson Piquet pela Williams e os três de Ayrton Senna pela McLaren. A terceira passagem começou em 2000, novamente como fornecedora de motor, até que a empresa resolveu comprar a BAR e voltar a ser uma equipe em 2006. A ideia durou só até 2008, quando a Honda saiu novamente após apenas uma vitória.
O regulamento técnico atual
A última grande mudança de regulamento técnico da Fórmula 1 aconteceu entre 2014. Naquele ano, as chamadas “unidades de potência” híbridas entraram em ação, com um motor a combustão de 1,6 litro turbo trabalhando em conjunto com baterias e sistemas de recuperação de energia. A Mercedes soube interpretar melhor o regulamento e passou a dominar a categoria, vencendo todos os títulos de pilotos e construtores desde então (texto publicado antes do resultado do GP de Abu Dhabi)
De lá para cá, as maiores mudanças aconteceram em 2017, quando houve alterações nos tamanhos das asas e nas larguras dos carros e dos pneus. Mas nada tão profundo quanto as alterações que valeriam a partir de 2021, mas que foram adiadas em razão da pandemia.
Para 2022, um regulamento aerodinâmico totalmente novo entrará em vigor. O conceito dos carros privilegiará a aderência mecânica em detrimento da aerodinâmica, trazendo de volta o efeito-solo. A ideia é que os carros possam andar mais próximos uns dos outros, já que a perda de pressão aerodinâmica afetará menos quem anda atrás.
O GP de Abu Dhabi será o último com os carros atuais. Para 2022, podemos esperar carros com visual bem diferente e, muito provavelmente, uma redistribuição de forças entre as equipes.
As rodas de aro 13
Outra mudança importante para o ano que vem será nos pneus. Tradicionalmente de aro 13”, as rodas passaram a ser maiores e mais pesadas, de 18”.
Além do impacto óbvio no visual dos carros, que ficará mais agressivo, a mudança impacta diretamente em toda a parte de aderência, conceitos de suspensão e freios.
Jean Todt na presidência da FIA
Eleito para a presidência da FIA em outubro de 2009, o francês Jean Todt foi reeleito duas vezes, em 2013 e 2017. Agora, seu mandato chega ao fim, e ele deixará o cargo no final do ano. Seu comando deixa um legado forte de esforços da Federação por uma maior segurança viária. Na F1, participou da transição da era Bernie Ecclestone para a atual era Liberty Media.
Com sua saída da presidência, já se fala na possibilidade de voltar à Ferrari como uma espécie de consultor especial. Todt trabalhou na equipe italiana de 1994 a 2009, sendo peça chave na ascensão e domínio do time no início dos anos 2000.
A própria temporada 2021
É óbvio dizer que a corrida final de uma temporada é sua própria despedida. Mas vale uma menção honrosa, pois o campeonato de 2021 vai deixar saudades nos fãs da Fórmula 1. Em uma época em que tantos pontos são distribuídos, as chances de dois pilotos chegarem à corrida final rigorosamente empatados é mínima. E soa quase como uma consagração para uma temporada tão importante o fato de a decisão tomar tamanha proporção.
Na mais longa temporada da história da Fórmula 1 até hoje, tivemos uma feroz rivalidade entre um veterano multicampeão e um jovem talentosíssimo, com ambos dando shows de pilotagem com incrível frequência. Corridas divertidas e emocionantes, alguns resultados imprevisíveis, bastante ação e polêmica, dentro e fora das pistas. A era iniciada em 2014 merecia o fim apoteótico que está tendo.
E tudo isso se encerra com a bandeira quadriculada do GP de Abu Dhabi de 2021.