Aston Martin F1: verde é a cor da esperança – e do dinheiro
Equipe comandada por Lawrence Stroll fecha parceria com gigante petrolífera árabe Aramco e enche ainda mais os cofres em busca de vitórias
Uma equipe média em processo de expansão e com planos ambiciosos para os próximos anos, quando espera figurar entre as grandes. Uma empresa magnata investindo rios de dinheiro em marketing para se associar à Fórmula 1 e ao futuro “verde” que a categoria ambiciona. Os caminhos das duas se cruzaram e... deu negócio.
A Aston Martin anunciou nesta quinta-feira (03) que fechou um acordo com a gigante petrolífera Aramco. A marca terá destaque nos carros da equipe inglesa e constará até mesmo no nome oficial do time, que passa a contar com dois patrocínios: Aston Martin Aramco Cognizant Formula 1 Team.
O acordo vai além do patrocínio e se estende como uma parceria técnica. Aramco e Aston Martin trabalharão em conjunto em diversas frentes: na busca por um combustível 100% renovável a ser utilizado na F1 até 2025, óleos e lubrificantes, materiais não-metálicos, além de pesquisa e comercialização de tecnologias de motores eficientes para veículos de rua, segundo o comunicado emitido pela equipe.
Lawrence Stroll, investidor bilionário e principal acionista da Aston Martin, se mostrou empolgado e otimista com o acerto: “Estamos no esporte para vencer e estou feliz em dar as boas-vindas a um parceiro do porte da Aramco, que acabei por descobrir nesse processo ter uma tremenda quantidade de propriedades intelectuais e capacidade técnica, o que vai nos ajudar muito na busca de nosso objetivo de vencer campeonatos mundiais de Fórmula 1”.
O comunicado não especifica a validade do contrato, se resumindo a dizer que se trata de uma “parceira estratégica de longo prazo”. Os valores tampouco foram revelados, mas, dadas as cifras que cercam tanto Aston Martin quanto Aramco e o tamanho da aposta de ambas na F1, é seguro dizer que será um dos maiores patrocínios da categoria.
Aston Martin investindo de um lado...
A Aston Martin passa por um ciclo de investimentos acelerado. Desde 2019, quando Lawrence Stroll se juntou ao time, a grana deixou de ser um problema e passou a ser a esperança da equipe. Esperança que só aumentou quando o empresário trouxe a cor verde e uma nova marca, a Aston Martin – empresa da qual Stroll também é acionista, diga-se.
A equipe está construindo uma nova fábrica nas imediações de Silverstone, na Inglaterra. O custo da obra é estimado entre 150 e 200 milhões de libras (em reais, pra lá de 1 bilhão). Também está contratando. Só no último ano, atraiu gente grande da concorrência e do mercado: da Mercedes, veio o aerodinamicista chefe Eric Blandin, e da Red Bull, Dan Fallows, de mesma especialidade. Além dos dois, chegaram Martin Whitmarsh, ex-chefe da McLaren e Mike Krack, vindo diretamente da BMW Motorsports para assumir o lugar de Otmar Szafnauer na chefia geral.
Para 2021, o time trouxe um piloto do mais alto nível. Sebastian Vettel, tetracampeão mundial, se juntou a Lance Stroll no comando de um dos promissores carros verdes. O ano começou cercado de expectativas em razão do sucesso no ano anterior, quando conquistou o 4º lugar entre os construtores – ainda como Racing Point com a cor rosa. No entanto, o resultado ficou bem abaixo do esperado, com um 7º lugar entre as equipes.
A Aston Martin é mais uma a apostar alto no novo regulamento para tentar se aproximar de vez do pelotão da frente. Lawrence Stroll investiu bastante – e seguirá investindo – para que isso aconteça em um futuro breve. E conseguiu uma parceira ainda mais afortunada para embarcar nesse projeto. Fábrica nova em construção, pessoal altamente qualificado chegando e acordo polpudo de longo prazo firmado. Com Stroll e Aramco unidos, dinheiro será o menor dos problemas para a Aston Martin. Mas só o tempo dirá será suficiente para colocar a equipe em pé de igualdade com as grandes.
... Aramco investindo de outro
A empresa de petróleo e energia controlada pelo governo da Arábia Saudita é uma das maiores do mundo. Os números são estratosféricos: faturamento de 200 bilhões de dólares e quase 2 trilhões de dólares de market cap (a soma do valor de todas as ações). Sim, trilhões. Isso equivale ao PIB da própria Arábia Saudita. A empresa tem capacidade de extração de 10 milhões de barris por dia e responde por 10% das reservas de petróleo bruto do mundo. Um colosso!
Nos últimos anos, a Aramco iniciou uma aproximação com a Fórmula 1. Desde 2020, a empresa estampa outdoors e muros em circuitos pelo mundo, ficando em evidência nas transmissões de TV. Em 2021, o laço se estreitou com a inclusão do GP da Arábia Saudita no calendário. Todo o evento foi bancado, é claro, pela Aramco.
Ainda em 2021, a parceria entre a categoria e a empresa se tornou mais estratégica. A Aramco quer fazer parte da guinada sustentável que a Fórmula 1 pretende promover nos próximos anos, e ofereceu sua expertise para ajudar no desenvolvimento do futuro biocombustível que abastecerá os carros a partir de 2025. Tudo para se livrar da pecha de grande poluidora que a empresa (não por acaso) carrega.
Para 2022, a corporação quis aumentar ainda mais sua visibilidade no mundo da Fórmula 1 estampando sua marca em uma equipe, como já fazem alguns concorrentes do mundo do petróleo, como Petronas, Exxon-Mobil e Shell. McLaren e Aston Martin estiveram em contato com a empresa, que acabou optando pela segunda. E o verde que trouxe esperança à antiga Racing Point agora é o verde que quer representar a jornada sustentável da Aramco.
Verde, a cor dos muitos signficados
É comum associarmos cores a certos sentimentos, símbolos, ações ou contextos. A cor verde, por exemplo, costuma ser ligada ao sentimento de esparança. Também está ligada ao conceito de sustentabilidade, natureza. E há quem ligue o verde ao dinheiro, provelmente, graças às notas de dólar. Por fim, recentemente, um clube de futebol passou a provocar rivais dizendo que o verde seria a cor da inveja.
E não é que a Aston Martin, a mais verde das equipes, recheada de dinheiro, atriu ainda mais capital graças à ambição sustentável de um patrocinador? Com a união de forças, aumenta-se ainda mais a esperança de um futuro vitorioso para a equipe inglesa. Se a mistura der certo, quem sabe o verde não se torne a cor da inveja na Fórmula 1?