Band x Globo: uma nova batalha pela F1 é travada
Com contrato de TV perto do fim, a Band corre para renovar o acordo. Mas a Globo pode estar afiando as garras, embora desminta oficialmente
Uma batalha pode ser travada entre duas grandes partes - e não estamos falando das tensões geopolíticas mais recentes. Mas teremos desdobramentos nos próximos tempos. Falo da questão do acordo para transmissão da F1 para TV aberta no mercado brasileiro, cujo contrato atual termina este ano.
Após um temor inicial de não haver transmissão, a Bandeirantes garantiu um acordo para as temporadas 2021 e 2022. A Liberty Media não poderia se dar ao luxo de deixar descoberto um de seus principais mercados consumidores após não ter havido um acerto junto à Globo, parceira de mais de 40 anos. Afinal de contas, os americanos são uma grande corporação e tem acionistas a satisfazer...
A Bandeirantes assumiu a responsabilidade de transmitir a F1 e a tratou como seu principal produto. Montou uma equipe de alto nível e deu bastante espaço em sua grade, coisa que a Globo, por conta dos diversos compromissos comerciais e internos, não conseguia acomodar. Esta era uma das reclamações do público mais cativo da categoria.
A emissora paulista fez uma aposta e conseguiu um ótimo retorno. Ajudado pelo grande nível competitivo da temporada, os níveis de audiência reagiram positivamente. Normalmente, aos domingos, o canal oscilava entre 1 e 2 pontos de audiência em São Paulo (principal mercado nacional). Com a F1, este número quase que triplicou e colocou o canal em condições de alcançar a vice-liderança na audiência ao longo do ano. No Brasil e na última prova em Abu Dhabi, a liderança foi atingida por alguns momentos.
Se perguntar ao público, maioria dele está satisfeito com a permanência na Bandeirantes. Em uma análise preliminar, pode se dizer que o público cativo da categoria acompanhou a mudança. E para a emissora, o ganho foi em diversos aspectos. Além do aumento da audiência, houve uma melhoria de percepção da imagem perante o mercado. Tanto que a própria emissora anunciou que vendeu as principais cotas publicitárias para este ano, estimando arrecadar R$ 120 milhões (até onde se saiba, metade deste valor vai para a Liberty Media).
A Globo de certa forma sentiu o golpe. A emissora carioca promoveu uma verdadeira revisão em seu portfólio de produtos dentro de um programa de redução de custos e de redirecionamento de atuação do grupo. No lado esportivo, o futebol foi bem afetado, chegando o contrato com a FIFA para a transmissão da Copa do Qatar ir parar na Justiça. A F1 entrou neste contexto, embora fosse um produto que gerasse bastante receita para a empresa, estimada em R$ 500 milhões anuais em 2020.
O comando anterior havia descartado um possível retorno da categoria à grade da emissora. Em 2021, um novo comandante foi designado (Paulo Marinho, neto de Roberto Marinho, o grande mentor das Organizações Globo) e algumas situações começaram a ser colocadas em outra perspectiva. Assim, a F1 voltou a chamar a atenção em certo ponto. Não à toa, um encontro entre Stefano Domenicali, o CEO da F1, e o novo comandante da Globo aconteceu na semana do GP de São Paulo.
Quando consultada pelo Parabólica sobre o assunto, a TV Globo, através de seu departamento de Comunicação respondeu que “a Globo continua interessada pelos principais direitos esportivos, levando em conta a nova realidade mundial dos direitos esportivos. A Fórmula 1 é um grande evento, mas não faz parte dos nossos planos no momento, pois os direitos não estão à venda.”
Embora a Bandeirantes tenha obtido bons números para seus padrões, a Globo ainda tem uma grande penetração no território nacional e segue líder de audiência. E, mesmo com a audiência sendo boa para a emissora paulista, os números absolutos de audiência no Brasil não foram divulgados oficialmente pela F1 (estimativas oficiosas estimam em pelo menos 30% a menos em relação a 2020, que ficou em cerca de 100 milhões de espectadores acumulados na temporada). A Liberty Media declarou simplesmente que havia tido a troca da emissora responsável, com um aumento da cobertura em relação a 2020.
Não é de hoje que o Brasil é o principal mercado televisivo da F1 e mesmo com o aumento de determinados mercados ditos “estratégicos”, não houve uma compensação da perda de audiência analisando a média geral. Até o fechamento desta coluna, a Bandeirantes não se posicionou à consulta feita pelo Parabólica.
Como dito anteriormente aqui, a Liberty tem uma escolha criteriosa a fazer: talvez assumir uma audiência menor e até mesmo menos dinheiro, mas com um canal que garante um destaque maior em sua grade e exploração da F1TV (que teve um aumento significativo nas assinaturas no Brasil, mas que ainda não atingiu as metas estabelecidas) ou garantir um alcance televisivo maior para um mercado tão populoso como o nosso.