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Barcelona, 1975: Emerson Fittipaldi desafia o sistema

Em 1975, Emerson Fittipaldi desafiou o poder da Fórmula 1 ao se recusar a correr no perigoso circuito de Montjuic Park

7 mai 2021 - 13h47
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Barcelona teve uma pista incrível na Fórmula 1, muito mais emocionante do que o modorrento circuito de Montmeló. Trata-se do circuito de Montjuic Park, que abrigou apenas quatro corridas da F1, em 1969, 1971, 1973 e 1975. Foi lá que Emerson Fittipaldi, com a autoridade de campeão mundial, desafiou os barões do sistema e se recusou a correr.

Montjuic Park era uma espécie de Mônaco espanhol. O circuito passava por um trecho muito bonito da maravilhosa capital da Catalunha. Mas a pista de 3,791 m era também muito perigosa, pois, embora fosse estreita e sem áreas de escape, tinha trechos muito rápidos. Assim como em Mônaco, a largada em Montjuic era numa curva.

Era uma pista de técnica e coragem. Só pilotos arrojados fizeram a pole-position em Montjuic: Jochen Rindt (1969), Jacky Ickx (1971), Ronnie Peterson (1973) e Niki Lauda (1975). Mas, como a pista era traiçoeira, a vitória sempre caiu no colo de pilotos mais conservadores na pilotagem. Assim, Jackie Stewart ganhou duas vezes (1969 e 1971) e Emerson Fittipaldi venceu em 1973, mesmo largando em 7º lugar.

Em 1975, antes dos treinos de sexta-feira, Emerson Fittipaldi fez o que sempre fazia: uma volta a pé no circuito, para ter melhor noção dos espaços que teria quando estivesse a bordo de seu carro de Fórmula 1. Nessa volta, reparou que vários pontos da pista tinham falhas na fixação dos guard-rails, entre outros problemas.

Armou-se então um pandemônio. Emerson disse que não correria se os organizadores do GP da Espanha não fizessem as melhorias de segurança. Foi duramente criticado pela imprensa espanhola, especialmente a catalã. Vários pilotos tinham intenção de seguir as orientações de Emerson Fittipaldi dentro da GPDA (Grand Prix Drivers Association). Porém, prevaleceu o interesse financeiro dos organizadores e das equipes. Muitos pilotos foram ameaçados de demissão.

Emerson Fittipaldi não se deu por vencido. Fez de propósito uma volta muito lenta com seu McLaren M23, tomando cerca de 50 segundos do pole position, Niki Lauda, 16 segundos do 25º colocado, Arturo Merzario, com Williams. Nas três voltas que deu na classificação, Emerson teve uma velocidade média de apenas 105 km/h. Niki, na pole, atingiu 164 km/h de média. Emerson nem largou.

A corrida foi um caos. Niki Lauda e Clay Regazzoni, que dividiam a primeira fila, bateram logo após a largada. Mas o pior aconteceria na 26ª volta. O carro de Rolf Stommelen (Hill-Ford) perdeu a asa traseira, voou na pista e partes do carro atingiram o público. Cinco pessoas morreram. O brasileiro José Carlos Pace, de Brabham, vinha atrás e se envolveu no acidente, mas sem graves consequências para ele. Wilson Fittipaldi, irmão de Emerson, também correu, com o Copersucar-Fittipaldi.

Três voltas depois, a corrida foi encerrada, com vitória do companheiro de Emerson Fittipaldi na McLaren, Jochen Mass. Foi nessa corrida também que Lella Lombardi, primeira mulher a correr na Fórmula 1, chegou nos pontos. Por ter sido encerrada muito cedo, os pontos foram contados pela metade.

Emerson Fittipaldi tentou evitar a tragédia, fez de tudo para que o Grande Prêmio da Espanha de 1975 fosse cancelado, mas os interesses financeiros falaram mais fortes. Emerson não correu, mas foi o grande vencedor daquele triste 27 de abril de 1975. Nunca mais o belo circuito de Montjuic Park foi usado para uma corrida de Fórmula 1.

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