Button, consultor na Williams: modelo de carreira irregular
Jenson Button, campeão da F1 em 2009, volta à equipe onde estreou, a Williams, 21 anos depois, no cargo de conselheiro sênior
O inglês Jenson Button, aos 41 anos, está de volta à Fórmula 1. Ao contrário dos ex-colegas Fernando Alonso, que faz 40 anos em julho, e Kimi Raikkonen, 41 anos completados em outubro passado, Button não estará atrás de um volante, mas no papel de conselheiro sênior da Williams. Divulgada na sexta-feira, 22 de janeiro, a nova função do inglês estará centrada no apoio aos pilotos titulares e no desenvolvimento da equipe. Ele vai manter sua posição como comentarista do canal de TV Sky Sports.
Com reconhecido talento nas pistas, Button chegou à categoria no ano 2000, aos 20 anos. No primeiro ano da “era Schumacher” na Ferrari, terminou o campeonato em um respeitável oitavo lugar, com 12 pontos. Seu companheiro na Williams, Ralf Schumacher, acabou em quinto, com o dobro de pontos. A chegada de Juan-Pablo Montoya ao time levou Button a ser emprestado, no ano seguinte, à Benetton, em má fase, marcando apenas dois pontos e terminando a temporada em 17º lugar. Em 2002, já como Renault, a equipe evoluiu consideravelmente e Button encerrou a temporada em sétimo, à frente inclusive do companheiro de equipe, Jarno Trulli.
Os ventos começaram a soprar mais fortes a favor de Button em 2003, quando se transferiu para a nova BAR, ao lado do canadense Jacques Villeneuve, campeão de 1997. Button amassou o companheiro: terminou o campeonato em nono, com 17 pontos enquanto Villeneuve chegou em 16º, com seis. Em 2004, uma ascensão ainda mais poderosa: com a BAR, o inglês terminou o campeonato em terceiro lugar, atrás apenas das Ferrari de Michael Schumacher e Rubens Barrichello. Seu companheiro, o japonês Takuma Sato, encerrou o ano em oitavo, com menos da metade dos pontos.
Foi no final desse ano que Button se meteu em uma confusão jurídica que poderia ter custado seu único título na Fórmula 1. Vamos voltar o filme e lembrar que o inglês havia estreado pela Williams em 2000, ano em que a equipe conquistou o terceiro lugar no Mundial de Construtores. Em 2001, mesma posição para o time de Frank. Em 2002 e 2003, no entanto, a Williams só ficou atrás da Ferrari, conduzindo várias vezes seus pilotos à vitória. Em 2004, no entanto, o panorama mudou completamente: a BAR terminou o ano como vice-campeã de construtores e a Williams, em quarto.
O problema é que, antes do final do ano, Button havia assinado um contrato de dois anos com a Williams e percebeu que provavelmente afundaria sua carreira ao voltar para a antiga equipe. Foram meses de briga judicial, até que a BAR e Button conseguiram cancelar sua transferência – à custa de muito dinheiro. De fato, a Williams engatou ladeira abaixo daí para a frente, mostrando que a desistência de Button não foi um mau passo. O inglês permaneceu onde estava. A BAR foi comprada pela Honda, rendeu a primeira vitória a Button na Hungria, em 2006, e depois produziu verdadeiras aberrações sobre rodas nas duas temporadas seguintes, quando Button teve Barrichello como companheiro.
A essa altura, indo para sua décima temporada de Fórmula 1, Button parecia destinado a ser mais uma daquelas promessas que não decolam, quando veio a histórica e breve Brawn GP, com seu duplo difusor, levando o inglês a vencer seis das sete primeiras corridas e acumulando gordura suficiente para ser campeão no GP do Brasil, com uma corrida de antecipação, apesar da sólida evolução dos carros da Red Bull naquela temporada.
O fim da Brawn GP, comprada pela Mercedes, levou Button para a McLaren, e foi lá que talvez tenha feito sua exibição de gala na Fórmula 1, durante o interminável GP do Canadá de 2011. Se conseguiu escapar da Williams e de sua derrocada a partir de 2005, Button vivenciou a inegável decadência da McLaren, onde se aposentou em 2016, em 15º no campeonato, voltando para uma única prova, em 2017, apenas para substituir o ex-companheiro Fernando Alonso no GP de Mônaco.
É bastante irônico assistir à volta de Button para a equipe que ele recusou – e brigou na justiça para poder fazê-lo. Mas é bastante compreensível que o inglês tenha sido escolhido para a tarefa de aconselhar os jovens George Russell, um talento real em vias de ser um dos grandes do esporte, e Nicolas Latifi, um piloto pagante que sem dúvida tem muito para aprender com o inglês.
Em termos de pilotagem, Button pode não ser lembrado por um estilo espetacular, mas sempre foi altamente reconhecido pela precisão e pela inteligência na pista. Pode agregar aos pupilos nesse aspecto. E pode funcionar, também, como aquele veterano que olha para trás e analisa a própria história, reconhecendo os erros e aconselhando os jovens a não repeti-los: a imaturidade nos primeiros anos, que rapidamente fizeram com que ele passasse de grande promessa a um esportista inconsequente; declarações no mínimo desastradas, como na vez em que rechaçou a ideia de ver mulheres pilotando carros de Fórmula 1 porque “alguém poderia esbarrar nos seios delas quando fosse afivelar o cinto” (!!!); o desrespeito a uma equipe lendária, brincando com o companheiro Alonso de subir no pódio nos tempos da McLaren paquidérmica.
Em vários sentidos, Button pode ser útil na linha “faça o que eu digo, não o que eu fiz”. Lewis Hamilton não cansa de repetir que sua carreira tomou um novo rumo quando passou a ter Niki Lauda como conselheiro na Mercedes. Vai que...