Combustíveis: a F1 acelera o passo para não ficar para trás
A F1 promete combustíveis 100% sustentáveis para 2026. É um passo importante, mas o direcionamento pode vir tarde demais em relação a outras
Quem acompanha a F1 tem visto as discussões da categoria na implantação de um combustível 100% sustentável a partir de 2026. Embora a corrida dentro da pista em si gere menos de 1% da quantidade total de carbono da categoria de acordo com dados de 2019, o desenvolvimento deste tipo de combustível chama a atenção da indústria automobilística. Como a F1 quer seguir como vanguarda de laboratório, eis a escolha.
Embora este ano a F1 tenha partido para o aumento de uso de biocombustíveis este ano, alterando a quantidade de 5,75% para 10% na composição da gasolina, está atrasada neste campo em relação a outras categorias. Não bastando a sombra da Fórmula E, outras categorias mostram alternativas para combustíveis.
Desde a década de 90, a F1 utiliza alguns tipos de biocombustíveis. A francesa ELF usou etanol de beterraba e a Petrobras trouxe o etanol de cana de açúcar. Mas ficou para trás em relação a outras ao longo dos anos: a IndyCar por anos usou o metanol. Mas a partir de 2006 passou a usar 90% de metanol e 10% de etanol. No ano seguinte, passou a usar 98% de etanol e 2% de gasolina. Inclusive algum tempo depois, o combustível vinha diretamente de terras brasileiras...
A IndyCar ainda dá mais um passo à frente: a partir de 2023, com o apoio da Shell, irá usar combustível 100% renovável, com o mesmo objetivo da F1: reduzir as pegadas de carbono. E o mais importante: o fornecimento seguirá sendo brasileiro, com o etanol retirado da cana de açúcar, mas o chamado “segunda geração”, que também aproveita os resíduos da produção de produtos da cana. Inclusive é o mesmo usado para a F1 este ano. A F4 francesa, com o apoio da Repsol, passou a usar este ano também este mesmo tipo de combustível 100% renovável, sendo a primeira categoria de monopostos no mundo a utilizar.
Podemos ainda citar a NASCAR como exemplo de uso de combustível renovável desde 2011 usa gasolina com 15% de etanol vindo do milho. A F1 atualmente tem a preocupação de usar biocombustíveis que não sejam oriundos de alimentos. Ou seja: não tenha sido redirecionado de alimentação humana. O WEC também passou a usar combustível com 15% de composição de etanol e biocarbonetos este ano.
O curioso é que podemos indicar que o Brasil já fez corridas com 100% de etanol em 1979...
Uma das opções também seria o hidrogênio, encontrado em abundância na natureza. A tecnologia vem sendo desenvolvida e até já existe um projeto de protótipo, que está sendo preparado para Le Mans. Outro caminho é o dos combustíveis sintéticos. Estes são produzidos com a captura do carbono do ar através de processos em laboratório. O grande contratempo é o uso intensivo de energia. Mesmo assim, várias marcas vêm investindo neste campo, utilizando energias renováveis.
A F1 optou por fazer uma junção entre o renovável e o sintético. Este é o caminho usado pelo WRC a partir desde ano, com a categoria principal usando este tipo de combustível, sendo fornecido exclusivamente pela P1 Racing Fuels. Aliás, esta empresa foi a fornecedora para que a Williams FW14B de 1992 fosse usada por Sebastian Vettel em Silverstone.
Além disso, a P1 Fuels é uma das empresas que está trabalhando com a saudita Aramco para o desenvolvimento de soluções para a F1. Aliás, esta é uma dúvida que surge: o fornecimento será feito por uma única empresa (a Aramco, maior petrolífera do mundo, é uma das patrocinadoras da F1) ou cada equipe terá liberdade para ter seu fornecedor como é hoje? Afinal, as petroleiras são fonte importante de financiamento dos times...
Hoje, a F1 já é um exemplo de gestão de combustível. Afinal, hoje uma Unidade de Potência gera cerca de 1000cv, gasta em torno de 130 litros de combustível por corrida e tem uma eficiência energética de mais de 50%. É simplesmente a melhor marca que um motor a combustão pode ter, mas ela não soube capitalizar isso a seu favor.
O futuro é elétrico? Há uma convergência de opiniões que sim. Mas o caminho para chegar até lá é tortuoso e a transição é mais trabalhosa do que se pensava. A F1 mostra que o híbrido é uma visão viável. Agora, tenta dar um salto para tentar se manter na liderança da tecnologia e se manter atrativa para a indústria automobilística e energética. Vai funcionar por um tempo...mas e depois? É hora de pensar no novo passo.