Como o roxo se tornou a cor de Lewis Hamilton
A cor vem se tornando uma marca para o heptacampeão. A ideia veio de um brasileiro, o designer Raí Caldato
Dentro do automobilismo, certas cores marcam equipes, como o vermelho da Ferrari, o laranja da McLaren e o prata da Mercedes. Mas, entre os pilotos, as cores também aparecem como característica, Max Verstappen é relacionado ao laranja, Nigel Mansell ao vermelho e Ayrton Senna ao amarelo.
Mas Lewis Hamilton não tinha uma cor até 2020, e quem escolheu a cor roxa foi Raí Caldato: “O layout estava aprovado, com vermelho e branco, mas passou alguns dias e o Lewis pediu uma cor inédita”, relatou o designer o brasileiro que desde 2017 faz os layouts dos capacetes do britânico.
Raí, então, teve a missão de procurar uma cor para isso e pensou em pegar uma cor que pudesse se tornar marcante. Pensou até no Laranja, mas até por ser uma cor muito relacionada a Verstappen, descartou. O próprio Raí, que gosta muito de roxo, resolveu fazer uma pesquisa e acabou vendo que Lewis tinha um Pagani Zonda na cor roxa, era uma boa cor para se usar com o branco, mas a ideia ainda não estava fechada.
A conclusão veio por causa de uma miniatura de Fusca, da filha de Raí: “Fui chamar minha filha para ir para a escola, e no quarto dela tem uma estante onde tem os fusquinhas, um do lado do outro, quando vi o fusca roxo com branco, eu falei bingo!”, contou Caldato. Para terminar, ele pesquisou o significado da cor: “Eu estava lendo que o roxo é a cor da nobreza, da elevação espiritual, ascensão da realeza, pensei que em 2020 ele poderia ser heptacampeão e passar alguns números do Schumacher, como poles e vitórias, e se tornar o rei da F1. Eu mandei para ele e a resposta foi praticamente imediata”, completou o designer brasileiro.
Hamilton apareceu na pré-temporada com a nova cor, um design que foi muito bem aceito, mas ele ainda sofreria mudanças: a F1 chegou a ir para a Austrália, mas a prova foi cancelada por conta de casos de Covid-19, era o começo da pandemia e a categoria acabou cancelando as corridas seguintes, com o primeiro GP acontecendo apenas em Junho, na Áustria.
Em Maio, o assassinato de George Floyd, um homem negro, asfixiado por um policial branco, em Minnesota, nos EUA, causou uma série de protestos contra o racismo. Lewis, que esteve envolvido diretamente nos protestos, forçou a F1 a entrar na causa, sua equipe, a Mercedes, mudou a cor do carro para preto e Lewis também pediu para mudar o capacete: o branco deu lugar ao preto e no topo do capacete, o símbolo do movimento internacional Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
“A partir da Áustria, o fundo do capacete ficou preto, mas ficou com pouco contraste, então a solução foi fazer as linhas de contorno dos desenhos prata, então a partir de Silverstone, aí o capacete ficou perfeito” apontou Raí.
O roxo acabou se tornando uma marca para Hamilton, como Raí Caldato idealizou, hoje é comum ver os fãs do heptacampeão usando roxo, inclusive nas redes sociais. No GP realizado em Interlagos neste final semana, até sinalizadores roxos foram acesos nas arquibancadas. Foi dos poucos países onde Lewis teve uma grande quantidade de apoio vindo das arquibancadas.
O britânico fez uma corrida de recuperação histórica. Na verdade, duas: partido da sprint race em último, após a desclassificação técnica, ele terminou ao final de 24 voltas em 5° lugar, teve que cumprir uma nova punição por trocar o motor na corrida de domingo, largando de 10° lugar e conseguindo terminar com a vitória.
Ao final da prova, Lewis ainda pegou a bandeira do Brasil, um ritual que era feito por seu ídolo, Ayrton Senna, levando a bandeira para o pódio. Nesse GP, ele estava usando uma pintura especial que também foi feita por Raí Caldato, com as listras tradicionais do capacete do tricampeão brasileiro nas horizontais e tons de amarelo e roxo em degradê, com estrelas em verde. Uma clara homenagem ao que havia acontecido 30 anos antes, quando Senna conquistava sua primeira vitória no Brasil.