Domenicali, futuro chefão da F1, já enfrenta um dilema
Stefano Domenicali, dirigente da Ferrari em seu último título (2008), assumirá a F1 no lugar de Chase Carey em 2021 e já tem um problemão
Originário da Fórmula 1, onde chegou ao invejável posto de chefe de equipe da poderosa Ferrari, Stefano Domenicali foi eleito o chefe da Liberty Media a partir de 2021. Será dele a responsabilidade de definir o futuro da categoria máxima nos próximos anos.
Por seu comportamento impecável à frente da Scuderia Rossa, Domenicali é respeitado e querido por todos nos paddocks. Por sua experiência na administração das enormes dificuldades que já enfrentou, sempre com sucesso, ele é visto como a melhor escolha para suceder o americano Chase Carey, que chegou lá sem conhecimento prévio.
O desafio maior será dar fim à monotonia das corridas, gerada pela radicalização das soluções aerodinâmicas. Algumas das corridas deste ano mostraram que, sem a enorme aderência de que desfrutam os carros, as disputas podem atrair uma parte do público que perdeu interesse.
O problema é o fato de isso só ter ocorrido por motivos fortuitos. Chuvas intensas ou reasfaltamentos fora de hora reduziram a força com que os carros se agarram às pistas; em alguns casos, chegaram a permitir que se seguissem a curta distância, o que tem sido impossível em condições normais.
A única solução parece ser reduzir a aderência que se extrai atualmente. Isso já está nos planos da FIA, que planeja cortar 10% no ano que vem. Não será suficiente, avisa Gary Anderson, ex-projetista das equipes Jordan e Stewart, hoje analista do site The Race.
Segundo seus cálculos, a chuva e o óleo que se desprendia do asfalto novo do circuito Istambul Park reduziram à metade a aderência atual. E segue em frente: “Se usarmos em Mônaco a configuração aerodinâmica de Monza, a pressão aerodinâmica cairá em 15%. Se tirarmos todas as aletas laterais, lá se vão mais 15%. Ainda ficarão faltando 20% para se ter em todas corridas o que se teve na Turquia”.
Mas já diminuiria suficientemente a carga sobre os pneus e permitiria à Pirelli utilizar compostos mais aderentes, o que facilitaria as ultrapassagens. Por outro lado, essa menor pressão deixaria os carros menos equilibrados.
A potência que se atinge hoje varia em torno dos 1.000 cavalos. Sem a pressão aerodinâmica, que os empurra contra o solo, os carros podem levantar voo como aviões desgovernados.
Esse é, talvez, o principal problema que Domenicali encontrará. Diminuir a eficiência aerodinâmica já é aceito pelas equipes, desde que seja gradativo. Já reduzir a potência mexe com o interesse das grandes montadoras, que vêem na Fórmula 1 um laboratório a céu aberto. E por isso injetam na categoria a maior parte das verbas de que ela se alimenta.
Sem diminuir a potência, a redução da pressão aerodinâmica é limitadíssima. Manter a situação atual pode reduzir o interesse do público. Nem sempre ocorrerão chuvas intensas nem haverá reasfaltamento recente. Qual será a solução, Domenicali?