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Exclusivo: Wilsinho Fittipaldi fala sobre o amigo Reutemann

O ex-piloto brasileiro lembra, com exclusividade ao PARABÓLICA, como conheceu “El Lole” e recorda sua amizade com o argentino

7 jul 2021 - 19h59
(atualizado às 23h02)
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Rápido e técnico, faltou a Reutemann um título na F1.
Rápido e técnico, faltou a Reutemann um título na F1.
Foto: Formula 1.com / Divulgação

Carlos Reutemann foi um daqueles pilotos que quem acompanha automobilismo se pergunta: por que não ganhou um campeonato? Era capaz de andar rápido, mas era extremamente técnico. Entretanto, passou por algumas situações quase inexplicáveis e o levaram a ter deixado a Fórmula 1 sem ter conquistado um título.

Carlos Alberto Reutemann nasceu em 12 de abril de 1942 na província de Santa Fé, na Argentina. Filho de fazendeiros, sua vida parecia caminhar para dar sequência à tradição familiar, quando descobriu as corridas de automóveis, em 1965, e começou a disputar provas com um Fiat. Sua carreira foi um tanto meteórica e, em 1969, venceu o campeonato local de F2. Isso o incentivou a tentar ir para a Europa em busca da Fórmula 1 e igualar seus compatriotas Fangio e Gonzalez.

Em 1970, com o apoio do Automóvel Clube Argentino, da YPF e de outras empresas locais, Reutemann foi pilotar um Brabham na Fórmula 2, obtendo como melhor resultado um 4º lugar.  No ano seguinte, ainda com a Brabham, lutou com Ronnie Peterson e obteve o vice-campeonato.

O relacionamento com os brasileiros veio desta época. Wilsinho Fittipaldi lembra com exclusividade para o PARABÓLICA : “Conheci Reutemann no GP da Argentina em 1970, e ali começamos um bom relacionamento. Era um piloto exemplar e técnico. Em 1971, tivemos muitas corridas juntos, palmo a palmo. Ele sempre jogou limpo, com a melhor força. Muita gente faz pouco do “bonzinho”, acha que ele não vale nada. Mas é nessa hora que a gente percebe quem é quem. E ele era um dos bons”, garante.

Reutemann e Wilsinho: uma ótima relação.
Reutemann e Wilsinho: uma ótima relação.
Foto: Christian Fittipaldi Instagram / Divulgação

O bom desempenho e o apoio de patrocinadores o levaram a estrear na Fórmula 1 pela mesma Brabham em 1972, tendo como companheiros de equipe Graham Hill e Wilsinho Fittipaldi. Logo na estreia, em casa, obteve a pole-position, mas como teve que trocar pneus, chegou em sétimo na corrida. O ponto alto naquele ano foi a vitória em Interlagos pelo GP extra-oficial do Brasil. Em paralelo, correu a F2 na equipe de um certo Ron Dennis.

Em 1973, tendo Wilsinho como companheiro, usou o BT42 projetado por Gordon Murray e obteve 2 pódios e um sétimo lugar. Também disputou as 24 Horas de Le Mans pela Ferrari, mas abandonou. Sua reputação começou a subir mais em 1974, quando venceu três provas. Poderiam ser quatro, mas perdeu o seu GP local nas últimas voltas por falta de combustível. O então presidente argentino, general Juan Domingo Perón, saiu de sua residência pronto para entregar o troféu de vencedor à El Lole (o apelido de Reutemann, desde criança. Ele chamava os leitões, “lechones”, de “lolechones”). Mas quando chegou ao Autódromo Oscar Galvez, teve que cumprimentar Denny Hulme.

Este é um dos fatos que tornam sua carreira tão curiosa. Outro é o fato de mudar de equipes em momentos chave. Em 1976, começou na Brabham, mas insatisfeito com o péssimo desempenho do carro e dos motores Alfa Romeo, aceitou o convite da Ferrari para substituir Niki Lauda, pois os italianos achavam que o austríaco não retornaria às pistas após o assustador acidente em Nürburgring. Permaneceu mais duas temporadas na equipe, obtendo cinco vitórias e um terceiro lugar no campeonato de 1978.

Reutemann, então, aceitou o convite da Lotus para 1979. Parecia ser o time ideal, pois havia sido dominante no ano anterior com Andretti e Peterson e o modelo 80 prometia ser um passo à frente. Mas o máximo que obteve foram dois segundos lugares. E Jody Scheckter venceu com a Ferrari que havia sido dele. Mais uma vez insatisfeito, foi para a Williams. E esta talvez tenha sido a sua grande chance. O time vinha se consolidando como um dos principais após a grande injeção de capital saudita e tinha um carro extremamente eficiente.

Reutemann domando a Ferrari, em 1978.
Reutemann domando a Ferrari, em 1978.
Foto: Ferrari Twitter / Divulgação

Em 1980, obteve um 3º lugar. Mas 1981 parecia ser o seu ano: duas vitórias e dois segundos lugares nas cinco primeiras etapas. A partir daí, uma série de quebras e infortúnios o fizeram chegar à etapa final do campeonato com apenas um ponto de vantagem sobre Nelson Piquet e seis em relação a Jacques Laffitte. Seu nervosismo era latente, mas tudo parecia dar certo ao conseguir a pole position. Quando parecia que finalmente o argentino se consagraria, o câmbio da sua Williams apresentou problemas e ele foi despencando na classificação. Piquet conseguiu chegar na 5ª posição e obteve os pontos que precisava para ser o campeão. Reutemann, desolado, teria dado a célebre declaração “Perdi para o garoto que limpou minhas rodas” (Piquet havia ficado no apoio do box da Brabham quando a Fórmula 1 esteve na inauguração do Autódromo de Brasília, em 1974) . Numa prova do seu mítico azar, se o GP da África do Sul – o qual ele venceu em fevereiro – tivesse valido, El Lole teria terminado com o título. Mas a corrida foi disputada em meio à briga entre a FOCA e a FIA.

Este golpe o afetou de certa forma. Para a temporada de 1982, Reutemann estava estranho. A relação com a equipe já estava abalada após  ter vencido o GP do Brasil do ano anterior, descumprindo a ordem mais que ostensiva da Williams para que trocasse de posição com Alan Jones. Mesmo com contrato, o argentino deixou a equipe e a Fórmula 1. A alegação oficial foi a Guerra das Malvinas. Mas Patrick Head, projetista e um dos donos da Williams, reconheceu que o coração de Reutemann “não estava mais lá”.

A partir de então, o aposentado ex-piloto passou a se dedicar aos seus negócios em Santa Fé. Eventualmente, ia a alguns GPs, mas não se envolveu diretamente com o automobilismo. O máximo foi a participação no Rally da Argentina em 1985, obtendo um terceiro lugar geral e umas voltas de demonstração de Ferrari no GP da Argentina de 1995. “Depois de ele ter abandonado as pistas, não tivemos mais contato. Ele esteve no Brasil umas duas, três vezes, eu também fui para a Argentina, mas não nos encontramos.”, lembra Wilsinho.

Reutemann em ação pela Brabham.
Reutemann em ação pela Brabham.
Foto: F1 Twitter / Divulgação

Reservado e extremamente tímido, Reutemann causou surpresa quando foi anunciado como candidato ao governo da província de Santa Fé, em 1991, pelo partido Justicialista. Fazendo um paralelo, seria algo como se Nelson Piquet saísse candidato ao governo de Minas Gerais. Era uma estratégia arquitetada pelo então presidente Carlos Menem de lançar personalidades na política. Foi reeleito e depois virou senador. Quase concorreu à presidência em 2003, mas desistiu na última hora.

Reutemann foi um dos grandes nomes do esporte na Argentina nos anos 1970 e 1980. Um piloto que marcou época e tinha todos os predicados para ser campeão: técnico, rápido e bom acertador. Como bem definiu Wilsinho, “Um super amigo e piloto. Faltou um tostão para ser campeão do mundo”. Mas a vida é injusta e os desígnios são quase inexplicáveis. Após lutar contra um câncer e vários problemas de saúde nos últimos anos, ele recebeu a bandeirada final. Vá em paz, Lole.

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