F1 com calendário de 30 corridas? Ainda não. Mas...
As falas de Stefano Domenicali neste final de semana deixaram o público da F1 de cabelo em pé. Mas não é bem assim...
Desde quando assumiu o controle da F1, a Liberty Media colocou como bandeira a ampliação do calendário. Historicamente, a categoria ficou na média de 16 provas e principalmente centrada na Europa. Bernie Ecclestone começou a expansão e no seu último ano de controle, a categoria já tinha 20 GPs.
A Liberty Media colocou como meta 25 GPs ao ano. Hoje, com 23 GPs, já há uma reclamação imensa por parte das equipes por conta da intensidade de viagens, embora tenha havido uma compensação financeira por conta do acréscimo. Friamente, se fala que poderia acomodar uma expansão do tipo, já que temos 52 semanas no ano. Mas não é tão simples assim...
Para a matemática da F1, quanto mais provas, mais dinheiro. As taxas vindas dos promotores compõem boa parte das receitas da categoria. Nesta lógica, mais provas, mais exposição para patrocinadores, maior arrecadação de ingressos, mais provas para exibição na TV... Mas não é tão simples assim.
Neste fim de semana, Stefano Domenicali, o todo poderoso CEO da F1, deu entrevistas a alguns veículos e deixou algumas pistas no ar bem interessantes. Na sexta, falou que a F1 estaria preparada para deixar alguns lugares tradicionais para dar espaço a novas pistas e nesta terça, em conversa com Martin Brundle na Sky Sports, disse que a F1 poderia receber 30 etapas em uma temporada dada a demanda de locais por sediar a categoria.
Este tipo de fala vem em um momento extremamente estratégico. Vários contratos acabam este ano e as conversas são intensas. Por incrível que pareça, a questão russa surgiu em um momento interessante. Embora a Rússia fosse uma das provas que mais pagasse à F1, não podemos esquecer que em 23, voltaria o GP da China e entraria o GP do Qatar. Em tese, teríamos as 25 provas sonhadas caso a Rússia não tivesse saído (o acordo ia até 2025). Mas olha o quadro abaixo com a situação atual dos contratos… (obrigado, Airton Paulo!)
Como vocês podem ver, temos 5 provas que os acordos terminam este ano, incluindo Mônaco e Bélgica. Com a notícia de que novos lugares estão com interesse, a negociação acaba ficando mais dura ainda, com a F1 querendo arrancar mais dinheiro de quem quer ficar e mais ainda de quem quer entrar. Por esse motivo que os estimados US$ 60 milhões que a Rússia pagava anualmente por sua prova acabam por ser superados por algum novo acordo.
Quem tem sua prova, quer segurar seus acordos. Spa-Francorchamps está concluindo um processo grande de remodelação; Paul Ricard terá mudanças no traçado e Monaco adotará este ano um fim de semana de 3 dias. Cada um vai tentando trunfos para conseguir se manter no jogo.
Ainda é cedo para dizer que haverá uma efetiva expansão do calendário além dos 25 GPs previstos. De certo mesmo, a inclusão das provas citadas e já é dada como certa a entrada de Las Vegas (EUA) em uma versão noturna por 10 anos a partir de 2023. As falas de Domenicali (um administrador por formação, com experiencia de pista e de gestão) fazem muito carnaval para a imprensa e grande público, mas tem endereço certo. Na F1, nada é feito ou dito por acaso e, no fim, tudo significa dinheiro.