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F1 deixou de ser útil para marcas como Honda e Renault

Honda sairá da Fórmula 1 pelo menos motivo que a Renault passará a ser Alpine e que a Racing Point vai se chamar Aston Martin. Entenda

5 out 2020 - 08h00
(atualizado em 6/10/2020 às 14h30)
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Motor Honda já conquistou 77 vitórias na Fórmula 1 e teve três despedidas antes da que virá em 2021.
Motor Honda já conquistou 77 vitórias na Fórmula 1 e teve três despedidas antes da que virá em 2021.
Foto: F1 / Divulgação

Quando Max Verstappen venceu o GP da Áustria de 2019 com o Red Bull Honda RB15, um homem respirou aliviado no extremo oriente: Takahiro Hachigo, presidente mundial da montadora japonesa. Com a vitória de Max, o motor Honda novamente era vencedor na Fórmula 1, superando três anos de traumas e críticas com Fernando Alonso na McLaren (2015 a 2017). A Honda ainda ganhou mais quatro GPs de lá para cá, mas Hachigo San já pensava adiante: o que fazer com a divisão de Motorsports da Honda para o futuro.

Na semana passada, a Honda anunciou sua saída da Fórmula 1. É a quarta vez que isso acontece (as outras foram em 1968, 1992 e 2008). Mas, ao contrário do que muitos pensam, a Honda não está saindo da F1 por causa das críticas. Mesmo com vitórias, a Fórmula 1 não é mais interessante para montadoras de carros como a Honda. Sua saída da categoria nem sequer é um fato isolado -- trata-se de um fenômeno que já provocou mudanças também na Renault e na Racing Point.

Sai Renault, entra Alpine: também para a marca francesa, Fórmula 1 deixou de ser útil.
Sai Renault, entra Alpine: também para a marca francesa, Fórmula 1 deixou de ser útil.
Foto: F1 / Divulgação

Especialmente devido à pandemia de coronavírus, que enxugou o caixa de todas as montadoras, a atual configuração da Fórmula 1 -- motores 1.6 híbridos de 1.000 cavalos -- só interessa às marcas que produzem supercarros, ou melhor, que centram o seu negócio nos supercarros. Na melhor das hipóteses, marcas que estejam ligadas à esportividade. Ferrari? Ok. McLaren? Ok. Aston Martin? Ok. Alfa Romeo? Talvez. Renault? Não. Honda? Não. 

É por causa disso que a Renault jogou fora anos e anos de investimento na Fórmula 1 para dizer que, a partir de 2021, a equipe vai se chamar Alpine. Este também foi um dos motivos do interesse da Aston Martin em participar mais ativamente da categoria. Assim, a atual Racing Point vai se chamar Aston Martin a partir da próxima temporada. Aliás, uma das razões da derrocada da Williams foi não ter entrado no mercado de carros de rua. Foi um erro estratégico de Frank Williams. Quando a empresa tentou, em 2014, com a divisão WAE (Williams Advanced Engineering), já era tarde. Quem sabe agora, sob controle da Dorilton Capital, surja alguma coisa.

Max Verstappen toma um banho de champanhe de Tanabe após recolocar a Honda no topo.
Max Verstappen toma um banho de champanhe de Tanabe após recolocar a Honda no topo.
Foto: F1 / Divulgação

Para a Renault e para a Honda, que são marcas generalistas, fabricam carros de grande volume e têm foco nos carros totalmente elétricos, o investimento na Fórmula 1 não compensa mais. Especula-se que chega a 140 milhões de euros. O que precisava ser aprendido em termos de desenvolvimento dos sistemas híbridos já foi. Diversos carros de rua utilizam sistemas de regeneração de energia, que foi desenvolvido na F1. Para marcas como Honda, Renault, Nissan e até Mahindra, a Fórmula E é muito mais interessante. Nessa categoria, as corridas são disputadas nas ruas e a competição premia não apenas quem é mais veloz, mas também quem poupa energia.

A Fórmula E atraiu até mesmo marcas de luxo, como BMW, Porsche, Audi, Jaguar e Mercedes-Benz. Porém, o próprio Takahiro Hachigo disse que a Honda não irá para a categoria de monopostos elétricos. Hachigo San disse que pretende promover outros esportes, mas sempre focado no compromisso de redução de emissões de carbono que a Honda estabeleceu para 2050. O presidente da Honda também descartou uma volta à Fórmula 1. Porém, a fala de Hachigo San foi dúbia, pois disse que o automobilismo está no DNA da Honda.

Alfa Romeo: com os carros que tem, F1 não agrega muito, mas um segundo time ajuda a Ferrari.
Alfa Romeo: com os carros que tem, F1 não agrega muito, mas um segundo time ajuda a Ferrari.
Foto: F1 / Divulgação

Apesar das negativas de momento, não é absurdo imaginar que a Fórmula E está, sim, no radar da Honda. Em 2017, durante o Salão de Tóquio, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com Hachigo San. Era o auge das críticas ao motor Honda na F1 e a Nissan tinha acabado de anunciar que entraria com tudo na Fórmula E. O presidente da Honda respondeu de forma convicta que a Honda não costuma deixar as coisas pela metade e que só sairia da F1 depois de voltar a ganhar corridas.

Alguns jornalistas que estavam presentes fizeram piada, dizendo que a Honda, nesse caso, poderia ficar eternamente na Fórmula 1. Eu preferi acreditar. Conhecendo a determinação dos japoneses -- eles eram alucinados por perfeição nos tempos da Williams e da McLaren --, calculei que a F1 era um estorvo para a Honda já naquela época, mas que ela não desistiria. Por outro lado, as montadoras japonesas nunca improvisam nada.

McLaren (com Lando Norris): Fórmula 1 faz dobradinha com os supercarros de rua.
McLaren (com Lando Norris): Fórmula 1 faz dobradinha com os supercarros de rua.
Foto: F1 / Divulgação

Quando Max Verstappen foi o primeiro a receber a bandeira quadriculada em Spielberg, naquele 30 de junho de 2019, Hachigo San deixou Toyoharu Tanabe (diretor técnico na F1) continuar trabalhando para aprimorar o motor híbrido RA620H. Porém, também pode ter dito a Masashi Yamamoto (gerente geral de motorsport) que devia começar a planejar o passo seguinte. Recentemente, Yamamoto declarou: "Obviamente estamos interessados na Fórmula E e continuamos juntando informação”.

O próximo passo da Honda no automobilismo provavelmente já está decidido. A Honda só anunciaria sua saída da F1 sabendo para onde vai. Porém, a Honda dificilmente vai anunciar qual será essa direção antes do final de 2021, para não desviar a atenção das equipes que certamente estão trabalhando em dois projetos e, claro, para não chamar atenção da concorrência.

Masashi Yamamoto (gerente geral de motorsport da Honda) com Toyoharu Tanabe (diretor técnico): "Obviamente estamos interessados na Fórmula E e continuamos juntando informação”.
Masashi Yamamoto (gerente geral de motorsport da Honda) com Toyoharu Tanabe (diretor técnico): "Obviamente estamos interessados na Fórmula E e continuamos juntando informação”.
Foto: F1 / Divulgação

O destino da Honda certamente não será ficar só na Fórmula Indy, onde fornece motores junto com a Chevrolet. Uma possível entrada no WEC também é remota, pois a marca não tem tradição nesse tipo de categoria. Hipercarros, que entrarão no lugar dos LMP1, também não acrescentam muito para a Honda; além disso, a Toyota já domina tudo por lá (e, ao contrário da Honda, a Toyota aposta tudo nos híbridos). Entrar e perder seria uma péssima estratégia de marketing. 

Por enquanto, a Honda ficará na Indy e em categorias menores e/ou regionais, como F3, F4 e Acura Motorsports. Mas a Honda é uma empresa global e não vai ficar muito tempo ausente das corridas. Apesar da negativa de Hachigo San quando anunciou a saída da F1, é mais provável que o futuro da Honda seja mesmo a Fórmula E, por falta de alternativas mais interessantes. 

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