F1: O Sol parece brilhar para a Ferrari
Os tempos ruins parecem passar e as apostas parecem dar certo. Binotto e cia. podem sonhar com dias melhores para Ferrari
O ano de 2021 é muito peculiar em vários aspectos. Na Fórmula 1, não é diferente. Mas tem um grupo do público da categoria que tem motivos para acreditar em dias melhores. O lado vermelho da força, a Ferrari, começa a reagir após tempos sombrios, especialmente 2020.
Após a temporada passada, muita gente questionava se Mattia Binotto emplacaria ainda como chefe de equipe. Seu tipo aparentemente calmo soava totalmente deslocado diante da situação em que os carros iam se batendo no meio do grid e suando para pontuar.
Em outros tempos, muitas cabeças já teriam rolado e, muito provavelmente, as coisas não teriam se resolvido. Foi assim por muitos e muitos anos. E quando justamente isso não aconteceu? Na época de Michael Schumacher. A equipe era boa e havia estabilidade de comando e na área técnica.
No meio da tempestade de 2020, uma entrevista dada ao New York Times por John Elkann, que era o Presidente do Conselho de Administração da Ferrari e posteriormente acumulou o posto de CEO com a saída de Louis Camileri, disse que reconhecia a situação complicada. Mas que a intenção era acabar com a política de “porta giratória”.
E o que isso significava? Justamente acabar com a prática de mudar pessoas e não deixar trabalhar, dar tempo para que as coisas assentassem. Do lado empresarial, a Ferrari vai muito bem, obrigado. A montadora é uma das marcas mais valorizadas do mundo e tem uma das maiores margens de lucro da indústria automobilística. Mas no lado esportivo, os resultados não davam boas notícias. Em um espaço de 5 anos, a equipe teve três comandantes diferentes (Stefano Domenicali, Marco Mattiacci e Maurizio Arrivabene). Para qualquer tipo de organização, isso é complicado.
Binotto recebeu o apoio da diretoria e, devidamente “blindado”, conduziu um processo de reorganização do time durante 2020. Estrutura técnica de fábrica e pista foi revisada, não necessariamente com troca de nomes, além da dupla de pilotos. Charles Leclerc foi entronizado como líder da equipe e Carlos Sainz Jr veio para compor o time no lugar de Sebastian Vettel.
Pelo fato do novo regulamento ter sido postergado para 2022, a equipe focou em corrigir os erros do SF1000 dentro dos limites. O SF21 procurou mexer nos problemas de aerodinâmica, especialmente na parte traseira, com nova caixa de câmbio e uma suspensão revista, e gestão de pneus. Além disso, o motor, que havia sido “enquadrado” após o misterioso acordo com a FIA recebeu modificações e já permitia que os italianos pudessem lutar em condições melhores com o resto do pelotão.
Ainda não é a situação que os tifosi esperam, mas os resultados obtidos em Mônaco, Baku e Silverstone deixaram uma imagem muito positiva. E não à toa, se cacifa para a briga pelo terceiro posto nos Construtores com a McLaren. A estabilidade e a tranquilidade começaram a dar resultados.
Um novo CEO assumirá em 1º de Setembro (Benedetto Vigna, vindo da área de TI), mas as linhas instituídas por Elkann seguirão. O foco é o novo regulamento e o trabalho do time reside aí: o túnel de vento, que era um problema, foi recalibrado; o novo simulador, que era para ter ficado pronto no ano passado, está finalmente operacional; e um novo motor está sendo trabalhado nas oficinas de Maranello, bem diferente do tipo 065/6 atual.
Um ponto que chama a atenção neste processo é a química entre Leclerc e Sainz. Muita gente esperava que o espanhol seria “trucidado” pelo monegasco, mas embora Leclerc tenha mais tempo de casa, Sainz consegue demarcar seu espaço da Ferrari e tem ajudado muito o time nesta progressão. Talvez hoje seja a dupla mais homogênea do grid.
Utilizando um termo do mercado financeiro, hoje a Ferrari está em “viés de alta”. Vendo de fora, a equipe soa mais calma, mais organizada e isso reflete na pista. Como Elkann falou na entrevista ao NYT e Binotto tantas vezes: a estabilidade é importante e esta é uma das diferenças dos nossos concorrentes em relação a nós. Por isso tudo, tem que se acreditar sim que a Ferrari pode sonhar com voos mais altos para 2022.