Gigantes também caem: a última vitória da Lotus clássica na F1
35 anos atrás, a então principal equipe britânica na F1 obtinha sua última vitória na formação clássica. E começou a cair...
O motivo da coluna de hoje veio da postagem do jornalista Matt Bishop, atual responsável pela gestão de imprensa da equipe Aston Martin (aliás, o Twitter dele é ótimo para acompanhar a história da categoria: @TheBishF1). Exatamente 35 anos atrás, a Lotus obtinha sua última vitória na F1.
Muitos dirão que a Lotus venceu em 2012 e 2013. Não deixam de estarem certo e estas vitórias contam para as estatísticas. Mas o GP dos EUA de 1987 como a última vitória da Lotus clássica, que foi fundada em 1958 e chegou a ser apelidada de “Ferrari britânica”. Para se ter ideia das marcas que a equipe conseguiu: até hoje é a quarta maior disputante de GPs (606), quinta maior vencedora de Campeonato de Construtores (7), quinta equipe com mais voltas lideradas (5.624) e sexta equipe com mais vitórias (81).
Na temporada de sua última vitória, a Lotus deu talvez o seu último grito de disputa por vitórias: o time conseguiu ter o motor Honda (a versão anterior do que o da Williams, mas ainda superior à concorrência) e apostava em uma solução técnica que havia sido trabalhada anos antes, mas que as circunstâncias deixaram de lado: a suspensão ativa.
O que se fala é que naquele momento, a equipe já se baseava no talento de Senna para se manter brigando por vitórias e títulos. E que a suspensão ativa, embora complicada tecnicamente, ajudava a fazer aquele 99T minimamente competitivo. Mas pelo aspecto técnico, o time já começava a se perder. O tal veto de Senna a Warwick em 1986 por entender que “o time não tinha condições de dar o mesmo equipamento a dois pilotos” aparecia aí
A partir do ano seguinte, uma decadência começou com gosto: tivemos erros crassos de projeto (o 100T, de 1988, que não respondia a qualquer tipo de acerto), parte dos dirigentes presos (ainda por conta da questão do desvio de recursos públicos para a DeLorean montar sua fábrica na Irlanda do Norte. A empresa contratou a Lotus como consultora), saída de patrocinadores e técnicos...
No fim de 1990, o time estava pronto para fechar as portas: não tinham patrocínio, pilotos e motor. Nem parecia o time que mudou a cara da F1 com projetos ousados como o chassi monocoque (Lotus 25), motor integrado ao chassi (Lotus 49) e dois principais: o Lotus 72, que definiu como é um F1 até hoje, e o Lotus 79, que levou o efeito solo a funcionar efetivamente. O homem que criou isso tudo, Colin Chapman, devia estar olhando com desgosto o seu legado (rola uma conversa que que ele teria forjado sua morte em 1982 para fugir da prisão, mas até hoje este é um assunto controverso).
1991 foi praticamente uma operação de sobrevivência, com o time reduzido ao mínimo necessário e o dinheiro vindo de um empréstimo feito junto a bancos. Os pontos obtidos em San Marino com Hakkinen (então estreando na F1) e Bailey salvaram o ano. 92 e 93 pareciam que seriam a redenção, com a equipe tendo mais dinheiro e bons projetos. A liberação de Hakkinen em 93 para a McLaren gerou algum recurso para o time.
Mas 94 foi o vinagre. O dinheiro minguou, muitas dívidas bateram. A troca dos Ford Cosworth V8 para os Mugen-Honda V10 foi um baque: com eles, mais potência, porém, mais peso também. As mudanças pós-imola feriram de morte o 109, que só estreou no meio do ano. A esta altura, Pedro Lamy havia sofrido um sério acidente em testes em Silverstone e quase ficou paraplégico. O time estava se desmontando. Até que no final da temporada europeia, a justiça decretou a administração judicial ao time (equivalente à concordata). Talvez o ponto mais baixo tenha sido a venda do contrato de Johnny Herbert à Benetton às vésperas do GP da Europa em Jerez. O inglês foi cedido à Ligier e Eric Bernard, então piloto do time francês, só soube que tinha sido “emprestado” à Lotus na 5ª de manhã....