Guia F1 2022 – Alfa Romeo tenta deixar papel de figurante
Com dupla de pilotos renovada, Alfa Romeo espera poder ganhar mais destaque em 2022 e ser mais que um rostinho bonito. Mas será confiável?
Nome oficial: Alfa Romeo F1 Team ORLEN
Carro: C42
Motor: Ferrari 066/7
Pilotos: #77 Valtteri Bottas e #24 Guanyu Zhou
Posição em 2021: 9º de 10
A equipe
Alfa Romeo é um nome dos mais tradicionais do automobilismo. Mas os tempos de glória estão num passado distante, na primeira metade do século XX, antes mesmo da criação da Fórmula 1 como a conhecemos. Ainda no embalo do sucesso, a equipe participou das duas primeiras temporadas da história da F1, em 1950 e 1951 e foi campeã de pilotos em ambas, como Giuseppe Farina e Juan Manuel Fangio. Mas já em 1952 precisou sair por motivos financeiros.
O primeiro retorno se deu em 1979. O melhor resultado entre os construtores nessa segunda era foi um 6º lugar em 1983. Em 1985, o time saiu da categoria após uma péssima temporada. O segundo retorno aconteceu em 2019, quando o que era um patrocínio à Sauber foi estendido para uma parceria e o time suíço passou a correr com nome da marca italiana. A estrutura, no entanto, segue sendo a da equipe fundada por Peter Sauber.
São três temporadas desde então, e os resultados não são dos mais animadores. Em 2019 e 2020, o time ficou em 8º entre os construtores, mas viu sua pontuação cair drasticamente de um ano para o outro, de 57 para 8 pontos. Em 2021, a pontuação até melhorou um pouco (13), mas a posição final foi ainda pior: 9º. E, no fim do dia, isso é o que conta, pois é a posição entre os construtores que determina a premiação em dinheiro das equipes.
Para 2022, a Alfa Romeo traz novidades. Fredric Vasseur continua como o Chefe de Equipe, mas a dupla de pilotos, que era a mesma desde 2019, muda por inteiro. Kimi Raikkonen, finlandês campeão de 2007 e piloto com mais corridas na história da F1, decidiu se aposentar. Antonio Giovinazzi, italiano, foi dispensado da equipe e rumou para a Fórmula E.
A dispensa de Giovinazzi, aliás, é indício de outro movimento da Alfa: a equipe está gradualmente se descolando da Ferrari, que se aproxima mais da Haas (leia aqui). A Sauber é um parceiro antigo do time vermelho, recebendo tanto motores quando jovens pilotos do programa de desenvolvimento de Maranello. Giovinazzi era um deles. Com a menor relação entre os times, a Ferrari não fez tanto esforço para mantê-lo a bordo do carro. E isso abriu espaço para a Alfa buscar um piloto que pudesse fazer algum aporte ao caixa do time.
Para as vagas de Raikkonen e Giovinazzi, coincidentemente, chegam um finlandês experiente e um piloto mais jovem, sem experiência prévia como titular em outras equipes.
A dupla de pilotos
#77 Valtteri Bottas: aos 32 anos, o finlandês chega para aquela que pode ser a última equipe de sua carreira na Fórmula 1. São nove temporadas completas na categoria até aqui, sendo as últimas cinco delas na dominante Mercedes, onde conquistou todas as suas 10 vitórias e 20 pole positions. Bottas acabava ofuscado pela enorme sombra de Lewis Hamilton na Mercedes, mas os números não mentem: ele é um piloto rápido, e conseguia incomodar o ex-colega em ritmo de classificação com frequência.
Sua experiência será fundamental para ajudar no desenvolvimento do novo carro. É de se imaginar que sejam dele os melhores resultados da equipe ao longo do ano, dada a menor bagagem de seu novo colega, que chega à F1 sem tantas credenciais. Para Bottas, a chance perfeita de marcar território e mostrar ao mundo que ainda pode ser muito mais que um segundo piloto.
#24 Guanyu Zhou: será o primeiro chinês titular de uma equipe de Fórmula 1. O piloto de 22 anos não tem um currículo impressionante na base, tendo como único título a F3 asiática de 2021 - fundamental para obtivesse a superlicença e, assim, pudesse correr na F1. Na F2, foram três temporadas, tendo como melhor colocação final o 3º lugar entre os pilotos no ano passado.
Zhou é oriundo do programa de jovens pilotos da Renault/Alpine, do qual se desvinculou para assinar com a Alfa Romeo. Curiosamente, a F2 do ano passado foi vencida de forma categórica por outro piloto da Renault: Oscar Piastri. Mas, ao contrário de Piastri, Zhou conseguiu oferecer um pacote mais atrativo para uma equipe da categoria máxima.
O carro de 2022
A Alfa Romeo foi a última equipe a revelar oficialmente seu carro para 2022, chegando a participar dos primeiros testes coletivos com uma pintura camuflada a fim de esconder detalhes. As formas e cores definitivas do C42 só foram mostradas entre os testes de Barcelona e do Barein. E a pintura traz novidades em relação ao esquema utilizado entre 2018 e 2021. Agora, o carro é predominantemente vinho (ou bordô), restando apenas a porção central e poucos detalhes em branco. Visualmente, de muito bom gosto.
Quanto ao carro em si, chama a atenção a tomada de ar superior dividida em duas, lembrando o conceito adotado pela Mercedes no W01, de 2010, além das várias aberturas para saída de ar voltadas para cima, que se estendem por boa parte dos sidepods. O motor e o conjunto de baterias seguem sendo fornecidos pela Ferrari.
Um ponto positivo do carro parece ser o peso contido. A Alfa Romeo foi a única equipe a bater o peso mínimo de 795 kg estipulado para 2022. As demais equipes não conseguiram atingir esse peso, e pressionaram a FIA para que o mínimo fosse aumentado e, assim, uma potencial vantagem da Alfa fosse dirimida. Falamos sobre o tema aqui e aqui.
A pré-temporada
Ainda utilizando a pintura camuflada, a Alfa Romeo enfrentou diversos contratempos nos testes de Barcelona. A equipe não especificou qual tipo de problema o carro apresentou, mas o fato é que a quilometragem acumulada ficou bem abaixo das equipes de ponta. Para termos de comparação, as quatro principais equipes do ano passado deram, cada uma, mais que o dobro das voltas feitas pela Alfa. Só a Haas andou menos em solo espanhol.
As coisas começaram a melhorar no Barein. A equipe conseguiu ter mais tempo de pista e pôde simular stints mais longos por dois dos três dias. Ao fim dos três dias de atividades no deserto catari, a Alfa Romeo foi a quarta equipe com maior quilometragem. Isso não quer dizer que tudo estava perfeito, no entanto. Ainda houve bastante tempo perdido na garagem e a dúvida quanto à confiabilidade segue pairando sobre a equipe.
Outro ponto crítico notado nos testes de Barcelona foi o porpoising, a tendência que os novos carros apresentam de “quicar” em altas velocidades. O C42 foi um dos carros a mais sofrer com o efeito. No Barein, a equipe fez ajustes na altura de rodagem e no assoalho e pareceu ter diminuído a incidência do problema.
Expectativa para 2022
Desde quando voltou à F1, a Alfa Romeo não conseguiu passar do 8º lugar entre os construtores. A profunda mudança de regulamento para 2022 se desenhou com a grande oportunidade para um salto de qualidade que pudesse colocar o time como um frequentador assíduo da zona de pontuação, brigando com constância no pelotão intermediário.
Mas os problemas que assolaram o time nos testes de pré-temporada podem ser indicativos de que, em um primeiro momento, a Alfa terá que gastar um bom tempo do desenvolvimento do carro buscando confiabilidade antes de tentar um desempenho mais competitivo. Ao menos no início da temporada, o esperado é que a equipe figure na parte de trás do grid, não muito diferente da posição em que se encontrava nos anos anteriores.
No mundo dos automóveis, a Alfa Romeo tem a fama de fazer os carros mais bonitos e apaixonantes do mundo, mas que insistem em deixar seus donos na mão. Sem entrar no mérito de essa fama ser justa ou não, o temor da equipe é que essa máxima valha também na Fórmula 1 em 2022. E talvez haja mesmo motivo para preocupação, afinal, bonito o carro já é...