Há 25 anos, Schumacher foi magistral na Espanha
No chuvoso GP da Espanha de 1996, o alemão conquistou seu primeiro triunfo com a Ferrari em uma das maiores atuações já vistas na F1
Já imaginou ver Leonardo da Vinci pintando a Mona Lisa? Ou Michelangelo pintando a Capela Sistina? Em termos automobilísticos, foi a esse grau que Michael Schumacher chegou no dia 2 de junho de 1996. A obra de arte foi feita com uma Ferrari F310, o primeiro carro com motor de 10 cilindros da história da marca italiana na F1.
Mas esse estava longe de ser uma obra prima, tanto esteticamente quanto tecnicamente. O carro carregava o novo motor 046 3.0 V10, projetado por Paulo Martinelli, que abandonava a filosofia dos velhos e problemáticos V12, mas que ainda apresentava faltava confiabilidade e, principalmente, de potência. Mesmo que Michael tivesse obtido poles em Imola e em Mônaco, Barcelona era outra história.
Do traçado atual para aquela época, a única alteração significativa foi a chicane, visto que naquela época se usava a curva 10 muito parecida com que a usada hoje em dia. Mesmo que o circuito tenha seus trechos de alta e de baixa velocidades, é necessário ter um motor competitivo, o que fez muita falta a Ferrari na qualificação.
Nesse contexto, os carros da Williams, então os mais poderosos do grid, dominaram a qualificação. Damon Hill fez 1min20s650, obtendo a pole, contra 1min21s084 de seu companheiro de equipe, Jacques Villeneuve. Michael Schumacher ficou a quase 1 segundo de Hill, marcando 1min21s587.
Na madrugada de sábado para domingo, começou a chover forte, com raios e trovões. Naquela época ainda existia o warm-up no dia da corrida para ajustar os carros. Enquanto as Williams apostaram que a chuva diminuiria durante a corrida, Michael acertou o carro para a chuva, apostando no contrário da Williams. Schumacher acabou fazendo a aposta certeira: a corrida começou sob muita chuva.
A largada não foi boa para Schumacher, e logo na primeira curva ele estava em nono lugar. Hill também não largou bem e caiu para terceiro, enquanto Villeneuve assumiu a ponta, seguido por Jean Alesi (Benetton). Mas ainda na primeira volta, passou a dupla da Sauber, Frentzen e Herbert, e Rubens Barrichello (Jordan).
No fim da volta, Schumacher já era sexto, atrás de Eddie Irvine, seu companheiro de equipe, que acabou saindo e abandonando na segunda volta. Com isso, Michael estava diretamente atrás de Berger e logo se aproximou dele. Hill acabou escapando da pista na volta 4, assim Berger e Michael ganharam uma posição cada.
Na volta 5, Michael passou por Berger, enquanto na frente Alesi pressionava Villeneuve. Na volta 6, Schumacher tirou quase quatro segundos dos dois pilotos que estavam na frente, a diferença estava em 2s730 para o líder. Quando Michael chegou em Alesi, nas voltas 7 e 8, ele passou a menos de um segundo do piloto da Benetton.
Na volta 9, a ultrapassagem foi concretizada e agora só a Williams de Villeneuve separava Michael da liderança. Ainda na volta 8, Damon Hill saiu da pista novamente e perdeu a quarta posição para Rubens Barrichello, que vinha fazendo uma bela prova. Na volta 11, Damon Hill rodou e dessa vez acabou batendo e abandonando. Uma péssima corrida do piloto que viria ser campeão mundial naquele ano.
Na volta 12, Michael passou Villeneuve por fora na curva Wurth e ai o show começou. Mostrando toda a sua técnica naquela pista. Schumacher já passou com 3s à frente no fim da volta. Ele estava com pouco combustível, uma estratégia não muito usual em corridas na chuva, mas que foi a que preferiu e que se mostrava certa até aquele momento.
Na volta 24, Michael já tinha 41s307 de vantagem para Villeneuve, ele ganhava em média uma vantagem de 3s2 em média por volta. Acabou tendo que fazer sua primeira parada na volta 25, trocando os pneus e voltando a pista. Mas desde a volta 20, percebeu um problema no carro, um ruído vindo do motor, por conta de dois cilindros que estavam com problema na injeção e completamente inoperantes.
Esse problema não era apenas ter essa parte do motor não funcionando, mas que se a operação deles, ainda gerava atrito com o bloco do motor, atrapalhando muito o funcionamento dos outros oito cilindros. O resultado prático é que na reta principal da prova, ele não conseguia passar da quinta marcha, em uma época onde os carros tinham seis.
Dois anos antes, Michael já havia mostrando sua habilidade no mesmo circuito com problemas de câmbio em sua Benetton, e naquela ocasião, ele terminou em segundo correndo dois terços da prova apenas com a quinta marcha. E o que mais impressionava é que mesmo com problema ele continuava abrindo, da sua volta depois da primeira para até a volta 35, a diferença para Villeneuve foi de 23s385 para 1min08s918.
O canadense parou e Rubens Barrichello assumiu a segunda posição, Barrichello chegou a diminuir a diferença na volta 41, para 1min07s576. Na volta seguinte, Schumacher fez sua segunda parada, enquanto o brasileiro também entrou para sua primeira. Schumacher voltou tranquilamente à frente do segundo, que agora era Alesi, que estava mais de 1 minuto atrás.
Barrichello voltou brigando com Villeneuve na saída do pit-lane, mas acabou tendo que se contentar com o quarto lugar, além disso, sua embreagem começou a apresentar problemas e ele teve que abandonar. A partir da volta 48, buscando administrar as condições do motor, Schumacher diminuiu o ritmo, ainda terminando 45s302, na volta 65. Villeneuve completou o pódio.
Foi uma atuação de gala de Schumacher, mostrando que ele era um dos maiores gênios do automobilismo. O germânico subiu ao pódio junto com Jean Todt e a equipe Ferrari comemorou muito, ali foi a primeira conquista de muitas que o piloto conseguiria com a equipe italiana.