Marlboro (Phililp Morris) e F1: 50 anos depois, o fim
Ainda não houve a confirmação oficial, mas tudo indica que a tabaqueira deve dar adeus ao esporte a motor
Em novembro passado, este espaço havia abordado que a Philip Morris International (PMI), uma das gigantes da indústria tabagista, estaria considerando não renovar o acordo de patrocínio com a Ferrari, o que significaria o fim de um relacionamento de 47 anos. Para recordar, eis aqui o link.
Nesta segunda, o perfil Decalspotters no Twitter (@decalspotters), que acompanha a questão de patrocínios no esporte a motor, publicou que a empresa estaria saindo de uma vez do esporte a motor, não só abrindo mão da Ferrari, mas também da Ducati na MotoGP, onde também veiculava a marca Mission Winnow.
No caso da F1, esta não era uma questão recente. Com a crescente restrição à propaganda de cigarros, principalmente a partir de 2005, se perguntava como uma empresa de tabaco poderia continuar apoiando o esporte sem poder divulgar sua marca de forma clara. E vimos diversas estratégias: uso de imagem “disfarçada”, utilização de código de barras, aparição do nome do cigarro na designação da equipe… até chegar ao ponto da veiculação da Mission Winnow. Mas mesmo a marca, que não deixa claro se é acessório para cigarro eletrônico ou uma “iniciativa para a discussão de ideias para o progresso humano” , também sofre uma série de restrições através do globo.
Esta decisão deixa a Ferrari sem um patrocínio estimado em US$ 70 milhões/ano. Mas, além disso, significa o fim de uma era que durou exatamente 50 anos. Em 1972, a Phillip Morris deu entrada na F1 usando uma de suas marcas, a Marlboro. A categoria havia se aberto há pouco tempo para estampar patrocinadores em seus carros e a indústria tabagista veio com força. Inicialmente, a BRM foi a escolhida para receber o apoio e levou a divulgação a outros níveis, com a realização de festas e eventos.
Após expandir seu apoio também para a ISO, então comandada por Frank Williams, a partir de 1974, a Philip Morris iniciou uma parceria que iria se estender por 23 anos com a McLaren. Mas também marcou o investimento em diversos outros times e pilotos, chegando até às categorias de base. Com a Ferrari, o relacionamento começou também em 1974, mas só aparecendo efetivamente em 1981. A tabaqueira também usou a marca Chesterfield em 1976 e 1977 apoiando a Surtees e depois em 1993, com a Scuderia Italia.
Mas o Marlboro foi o grande carro chefe. E sua presença ajudou – e muito – a moldar a F1 moderna de forma decisiva. O investimento feito fez a McLaren se tornar de fato uma vencedora nos anos 70 e, se não houvesse a interferência direta, Ron Dennis não teria entrado na equipe e construído o colosso que ela é hoje. Bem como ajudou a Ferrari ao longo dos anos, sendo uma das principais apoiadoras. Sem contar tantos pilotos e equipes. O símbolo apareceu em tantos capacetes e macacões e se tornou um ícone quando a McLaren (e a Alfa Romeo por algumas temporadas) adotou um desenho que praticamente era um maço de cigarros ambulante.
Resultado que a marca ficou tão ligada na percepção do público que, em 1992, a empresa fez uma pesquisa ao público que assistia ao GP da Inglaterra daquele ano se a marca Marlboro estava estampada nos carros da McLaren. Mais de 90% responderam que sim. Na verdade, era o nome da equipe que estava no capô dos carros então pilotados por Senna e Berger...
Em se confirmando, esta saída marca o fim de um dos casamentos mais duradouros do esporte e que foi benéfico para ambos os lados em todo este período. Mesmo com toda a atenção que a categoria gera e com as constantes preocupações com valores, a F1 ainda busca parceiros que sejam tão confiáveis e até mesmo bondosos do que as tabaqueiras foram.