Max Verstappen lembra Ayrton Senna, mas falta-lhe a sorte

O tempo está passando para Max Verstappen. O piloto atrevido e meio inconsequente dos primeiros anos amadureceu e, sem perder a agressividade, hoje é um piloto maduro. Falta-lhe, evidentemente, um carro para ser campeão -- ou ao menos para brigar pelo título. Max tem só 23 anos, mas já está há cinco na Fórmula 1. Guardadas as devidas proporções e as particularidades de cada época, a carreira de Max Verstappen tem algumas semelhanças com a de Ayrton Senna em seus primeiros anos.

Dois fatores colocam Max numa linha do tempo parecida com a de Ayrton no período de 1984 a 1987. Nessas quatro temporadas, o piloto brasileiro correu o primeiro ano por uma equipe pequena (Toleman) e já no segundo foi para um grande equipe (Lotus). A Lotus permitiu a Ayrton fazer pole positions e ganhar corridas, porém nunca deu a ele a chance de ser campeão. Uma mistura de ousadia e inexperiência tirou de Ayrton alguns bons resultados em 1985, mas ele estava apenas começando na F1.

Max também. Começou numa equipe pequena (Toro Rosso) e já na segunda temporada passou a guiar por um time vencedor (Red Bull). Do mesmo jeito, perdeu alguns bons resultados porque tentou ser mais rápido do que o carro ou a pista permitiam. Ok, faz parte do aprendizado de qualquer piloto que chega na Fórmula 1. Assim como Ayrton Senna no início de 1988 (quando tinha seis vitórias, 16 poles e nenhum título), Max Verstappen está com energia, talento e experiência suficientes para ser campeão (tem nove vitórias, duas poles e nenhum título).

Ayrton, como Max, não demorou muito para conquistar sua primeira vitória -- a de Senna veio no 15º GP; a de Verstappen, no 24º. Mas a possibilidade de lutar pelo título mundial só surgiu para Ayrton Senna quando ele sentou no cockpit de um carro imbatível, o McLaren Honda MP4/4 de 1988. A partir daquele momento, o nome Senna virou lenda na Fórmula 1 e todos sabemos o que aconteceu. 

Mesmo para o padrão daquela época, Ayrton demorou para ser campeão do mundo -- conseguiu apenas em sua quinta temporada, em seu 77º GP, aos 28 anos. Como comparação, em seu 78º GP, Nelson Piquet conquistou não o campeonato, mas sim o bi mundial; em seu 57º GP, Emerson Fittipaldi chegou ao bicampeonato e no 77º já tinha dois títulos, dois vices e corria pela própria equipe de Fórmula 1. Quem acompanhou a carreira de Ayrton sabe como ele se angustiava por não ser campeão do mundo, tendo talento de sobra para ser.

Não deve ser muito diferente com Max Verstappen. O piloto holandês é um piloto excepcional, um dos quatro melhores do grid e talvez mais rápido do que o grande Lewis Hamilton, da Mercedes AMG. Porém, falta-lhe carro. Não há como levar o Red Bull Honda número 33 a mais vitórias do que as que Max conseguiu. É assombrosa a diferença entre o bólido W11 de Lewis e o RB16 de Max. Assim como é enorme a competência e a postura do comando da Mercedes AMG Petronas F1 Team em comparação com a cúpula da Aston Martin Red Bull Racing. No radar de Lewis tem um sétimo título chegando, a chance real de ultrapassar a marca de 100 vitórias e um oitavo campeonato mundial plenamente atingível. No radar de Max há nuvens de tempestade, com a equipe perdendo seu fornecedor de motor e considerando a absurda ideia de querer desenvolver ela própria o complexo motor híbrido da Honda.

Como está com apenas 23 anos de idade, Max Verstappen ainda tem chances de dar uma guinada em sua carreira e se tornar um grande campeão, como Ayrton Senna se tornou a partir de 1988. Ayrton teve sorte de encontrar um McLaren Honda em seu destino na quinta temporada. Assim como Alain Prost teve sorte de encontrar um McLaren Porsche e Lewis Hamilton teve sorte de encontrar um Mercedes AMG. Ninguém consegue ser campeão de Fórmula 1 se não tiver a sorte de pilotar um carro campeão. Max terá essa sorte? Vai ficar esperando depois de sete temporadas? Ou vai correr atrás dela para ser campeão em 2022?

*Até o GP de Eifel 2020.

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