Os 10 capítulos da trajetória de Nelson Piquet na F1
No aniversário de 70 anos do tricampeão Nelson Piquet, relembre em 10 atos sua lendária carreira na Fórmula 1
Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas não pode negar: Nelson Piquet é um dos gênios da Fórmula 1. Sua carreira ficou marcada por uma mistura rara de característica que fez dele um piloto único. Dentro do carro, era técnico, habilidoso e sabia dosar os momentos de ser agressivo e de ser cauteloso. Nos boxes, demonstrava conhecimento profundo do equipamento e uma capacidade rara de encontrar o acerto ideal. Como bônus, era forte psicologicamente, e sabia como poucos entrar na mente dos adversários e desestabilizá-los.
Piquet, notoriamente um homem avesso aos holofotes, voltou à mídia recentemente por posicionamentos e declarações polêmicos que repercutiram mundialmente – em grande parte, de forma negativa. Muito se falou sobre o assunto, inclusive nesse espaço, mas o artigo de hoje tem por objetivo tratar apenas da carreira do tricampeão enquanto esportista em atividade na F1.
Nesse 17 de agosto, Nelson Piquet chega aos 70 anos de idade. Dia propício para relembrarmos sua vitoriosa jornada na categoria máxima do automobilismo. Vamos, então, aos 10 capítulos dessa trajetória que cravou seu nome na história do esporte:
Capítulo 1 – Estreia e primeiros pontos (1978-1979)
Depois de ser campeão de kart e Super Vê no Brasil e de Fórmula 3 na Inglaterra, Piquet chamou atenção do mundo da F1. No final de 1978, fez uma corrida com um carro da pequena Ensign e outras três utilizando um velho McLaren M23 comprado pela equipe BS.
Os carros defasados não permitiram grandes resultados, mas foram o bastante para que ninguém menos que Bernie Ecclestone, então chefão da Brabham, visse potencial no brasileiro. Surgiu, então, um convite para correr pela equipe inglesa já a partir da última prova de 78, no Canadá. Nessa corrida, Piquet utilizou um terceiro carro da Brabham, ao lado de Niki Lauda e John Watson, e foi o único dos três a completar a prova.
Em 1979, ele foi o parceiro de Lauda, de quem se tornou amigo. Os primeiros pontos vieram na Holanda, com um 4º lugar. Seriam os únicos pontos de Piquet naquela temporada difícil para a Brabham.
Capítulo 2 – Primeira vitória e briga por título (1980)
Com a aposentadoria de Lauda, Piquet assumiria a liderança da equipe Brabham. O modelo BT49 equipado com o motor Ford Cosworth V8 se mostrou bastante competitivo. Com esse conjunto, Piquet conquistaria sua primeira vitória na F1, em Long Beach, EUA. Essa corrida marcaria também o último pódio da carreira de Emerson Fittipaldi, sendo a única vez que ambos subiram juntos ao palco dos três melhores.
Piquet venceu três vezes em 1980 e chegou à última corrida disputando o título contra Alan Jones, da Williams. Jones venceu a corrida final e se sagrou o campeão, mas Piquet mostrou que havia chegado para ficar.
Capítulo 3 – O primeiro título (1981)
O bom carro foi evoluído para 81 e se tornou o BT49C. Piquet venceu outras três corridas, e novamente chegou à corrida final na luta pelo título contra um piloto da Williams – dessa vez, o argentino Carlos Reutmann. No calor escaldante de Las Vegas, bastou chegar em 5º para se sagrar campeão mundial pela primeira vez.
Capítulo 4 – Motor novo, novo título (1983)
Em 1982, a Brabham trocou os motores Ford V8 aspirados pelos BMW turbo. O ano de adaptação aos novos motores foi difícil para a equipe, com apenas uma vitória. A imagem mais marcante do ano para Piquet e a Brabham foi a batida entre o brasileiro e Eliseo Salazar, que rendeu a cena icônica de Piquet tentando agredir o chileno à beira da pista.
Mas tudo se acertou em 1983. Ainda que o lindo BT52 sofresse de problemas de confiabilidade, que comprometeram o campeonato de Riccardo Patrese, Piquet soube tirar proveito da potência do motor BMW, venceu três corridas (sendo uma delas em Jacarepaguá, em seu Rio de Janeiro natal) e chegou à África do Sul, última do ano, na briga pelo título contra Alain Prost (Renault) e René Arnoux (Ferrari). O 2º lugar lhe rendeu o bicampeonato mundial de pilotos.
Capítulo 5 – Fim de ciclo na Brabham (1984 e 1985)
A parceria entre Nelson Piquet, Bernie Ecclestone e Gordon Murray havia rendido frutos no começo da década de 80, mas começava a perder terreno na metade da década. O carro azul e branco não era páreo para as McLaren empurradas pelos motores TAG-Porsche, e via Ferrari, Lotus e Wiliams se tornarem cada vez mais competitivas.
Em 1984, Piquet somou duas vitórias, mas não conseguiu ir além do 5º lugar no campeonato mundial. Vale destacar o grand chelem no Canadá, quando venceu apesar de um vazamento no radiador que derrubou água fervendo sobre seus pés.
Em 1985, apenas mais uma vitória e um 8º lugar no geral. Muito por culpa dos problemas de confiabilidade: nas 32 corridas desse biênio, o brasileiro abandonou em nada menos que 18. Era hora de mudar de ares.
Capítulo 6 – Williams, rivalidade com Mansell e vitória em casa (1986)
Piquet fechou com a Williams para 86, onde faria dupla com Nigel Mansell. A equipe apostava alto nos motores Honda turbo para voltar a ser protagonista. Ainda antes da temporada começar, Frank Williams, dono da equipe e responsável pela chegada de Piquet, sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégico, saindo do dia a dia do time por um tempo. Patrick Head assumiu o barco, e isso desencadeou problemas internos: Piquet sentia que Head e a equipe privilegiavam Mansell. Foi o início de uma das rivalidades mais intensas entre colegas de equipe na Fórmula 1.
O campeonato se desenrolou com quatro protagonistas: Piquet, Mansell, Prost (McLaren) e Senna (Lotus). Logo na abertura, no Brasil, Piquet venceu de forma contundente em sua estreia pela Williams, em dobradinha com Senna. E pensar que, hoje, uma dobradinha brasileira no Brasil parece algo inimaginável...
Apesar de ser a temporada com mais vitórias de sua carreira (4), Piquet não conseguiu o título. O 2º lugar na corrida final, em Adelaide, não foi suficiente para desbancar Prost, vencedor daquela corrida histórica - e da inesquecível temporada de 1986.
Capítulo 7 – A ultrapassagem do século (1986)
No GP da Hungria de 1986, Piquet fez a ultrapassagem tida por 9 entre 10 aficionados por Fórmula 1 como a melhor de todos os tempos. Engrandece ainda mais o feito o fato de ter sido aplicada sobre ninguém menos que Ayrton Senna, então na Lotus.
Piquet tentou passar por dentro na curva 1 do então novo circuito de Hungaroring. Senna aplicou um X e segurou a liderança. Piquet não se deu por vencido e tentou de novo algumas voltas depois. Com Senna fechando a parte de dentro, Piquet foi por fora, atrasou a freada e segurou seu FW11 escorregando de lado para concluir a manobra histórica.
Capítulo 8 – O acidente e o tricampeonato (1987)
A disputa com Mansell, Prost e Senna continuou em 87. Na segunda etapa da temporada, em Ímola, um susto grande para Piquet: ainda nos treinos, ele perdeu o controle do carro na curva Tamburello (sim, aquela...) e bateu forte no muro. Anos depois, Piquet revelaria que o acidente havia afetado sua visão e senso de profundidade, mas ele preferiu manter em segredo da equipe e dos médicos para não precisar se afastar.
Correndo com inteligência e utilizando de suas táticas para desestabilizar Mansell, o brasileiro venceu três corridas – como em seus outros títulos -, chegou ao pódio mais oito vezes e levou o tricampeonato para casa com uma corrida de antecedência graças ao acidente de seu colega em Suzuka.
Capítulo 9 – O calvário na Lotus (1988 e 1989)
Sem clima Williams depois da disputa tensa com Mansell, Piquet rumou para a Lotus por duas temporadas. A equipe já não era a mesma de outrora, e os resultados ficaram bem aquém do que Piquet poderia esperar. Em 88, foram três pódios e o 6º lugar na classificação.
Tudo piorou no ano seguinte, quando o motor Honda V6 turbo foi trocado pelo Judd V8. Nenhum pódio e apenas o 8º lugar no mundial. Mas Piquet ainda tinha lenha para queimar na F1.
Capítulo 10 – Na Benetton, volta às vitórias e aposentadoria (1990 e 1991)
Ao final de 89, a Benetton procurou Piquet ajudar em sua evolução como equipe. O projeto (e o bom contrato) chamaram a atenção do brasileiro, que aceitou a proposta. No primeiro ano, o carro se mostrou confiável e Piquet voltou a aparecer na zona de pontuação com frequência – 12 em 16 corrida no ano.
A temporada se encerrou com chave de ouro, com vitórias nas duas últimas corridas, no Japão e na Austrália. Os triunfos alçaram Piquet ao 3º lugar no mundial de pilotos. A vitória no Japão foi particularmente especial, já que teve como 2º colocado Roberto Pupo Moreno, brasileiro, amigo de Piquet e que fazia sua estreia na Benetton. Essa corrida ainda marcou o bicampeonato de Senna, para delírio do público brasileiro.
Já em 1991, Piquet acumulou mais três pódios, sendo um deles com sua última vitória na Fórmula 1, no Canadá. A conquista veio após Mansell, líder disparado da corrida, ver seu Williams apagar na última volta e dar a vitória de graça a Piquet – que nunca escondeu a alegria de ver seu rival perder a corrida daquela forma.
Ao final da temporada, a Benetton optou por focar suas atenções ao então menino prodígio Michael Schumacher, e Nelson Piquet encerrou sua carreira na Fórmula 1 aos 39 anos de idade. Ele ainda faria participações na Fórmula Indy e em corridas de endurance antes de se aposentar em definitivo da carreira de piloto.
Nelson Piquet se retirou do esporte com um tricampeão, com um histórico de 207 corridas (204 largadas), 23 vitórias, 24 pole positions, 23 voltas mais rápidas e 60 pódios. Palavras podem ter arranhado sua imagem perante o público e a comunidade da Fórmula 1, mas seus feitos na pista jamais serão apagados. Piquet foi, é e sempre será um dos poucos pilotos geniais da história desse esporte.