Os problemas de Bottas, Hamilton e Verstappen nos treinos
Balanço geral dos treinos de sexta em Abu Dabhi mostram Verstappen longe de Bottas e um surpreendente domínio dos pneus médios
Lewis Hamilton está de volta, mas não do jeito que ele saiu. Nesse primeiro dia de treinos para o Grande Prêmio de Abu Dhabi, o heptacampeão mundial foi superado por seu companheiro na equipe Mercedes, o finlandês Valtteri Bottas.
Que, por sinal, precisa de uma ótima atuação nesse fim de semana para apagar a má impressão deixada no último grande prêmio, quando foi eclipsado pelo recém-chegado George Russell.
Hamilton terminou o primeiro treino em quinto, mas isso tem explicação. O carro teve um problema de freios que demorou 40 minutos para ser resolvido.
A razão mais provável disso foi a troca do pedal usado por Hamilton por um mais curto para acomodar Russell no cockpit de Hamilton. Russell mede 1m85; Hamilton, 1m74.
Esse esforço acabou causando também alterações na distribuição de pesos do carro, mudando o equilíbrio, o que contribuiu para manter Hamilton parado nos boxes.
Na segunda sessão, ele teve problemas para engrenar a primeira marcha e acabou parando na pista dos boxes. Para completar o dia, teve sua melhor volta anulada por passar do limite da pista.
Seria a melhor volta do dia. Ele tinha marcado 1min36s097 com pneus macios, quase 4 décimos mais rápido do que virou com os médios.
Mas o carro de Bottas, que não foi usado por nenhum outro piloto, também estava diferente. Segundo o finlandês, o carro saía de frente em algumas curvas e de traseira em outras, o que indica que a distribuição de peso ou o equilíbrio aerodinâmico não estavam certos.
Bottas também teve sua cota de problemas e teve de parar no segundo treino para verificar o curso do acelerador, mais longo do que o normal.
Além de todas essas correções, os engenheiros e mecânicos da Mercedes também precisam ver por que os melhores tempos de seus pilotos foram marcados com pneus médios em um circuito onde a vantagem dos macios é grande. Max Verstappen também foi mais rápido com os médios do que com os macios. Mas isso não explica a desvantagem de mais de 7 décimos dele em relação a Bottas.
Considerando que a Mercedes costuma ganhar mais tempo do que a Red Bull da sexta-feira para o sábado, a pequena possibilidade de Verstappen tirar o vice-campeonato de Bottas ficou ainda menor.
Verstappen está 16 pontos atrás. Para fechar o ano como vice, ele tem de vencer ou ser segundo. No caso de vitória, ele só será vice-campeão se Bottas chegar no máximo em sexto.
Se for segundo, precisa que Bottas seja no máximo décimo. Se Verstappen for segundo e Bottas nono, o finlandês vence a disputa porque tem duas vitórias e o holandês, apenas uma.
O quarto nesse primeiro dia foi Alex Albon, que deixou a desejar mais uma vez. Mesmo com pneus macios, ele ficou a mais de 2 décimos de Verstappen.
Isso não melhora nada a situação dele em um momento em que a Red Bull ainda analisa se fica com ele ou contrata Sérgio Perez para ser o companheiro de Verstappen no ano que vem.
A vitória de Perez no domingo passado, em Sakhir, foi elogiada por Helmut Marko, o homem que toma as decisões na Red Bull. Ele lembrou que no fim da primeira volta, Perez era o último colocado e acabou chegando em primeiro.
Resta ver se Perez vai ter a mesma performance no domingo. Como teve de trocar o motor, o turbo e o sistema térmico de recuperação de energia, ele vai largar nas últimas posições.
Só que dessa vez é muito pouco provável que o piloto mexicano volte a ser beneficiado pelos problemas que tiraram os pilotos da Mercedes da frente dele em Sakhir.
Perez foi o sétimo nas duas sessões dessa sexta-feira, sempre a mais de 1 segundo do melhor tempo. Esta diferença se deve, principalmente, a ele ter trabalhado no acerto de corrida, sem nenhuma preocupação com o qualify.
Ele ficou atrás de Lando Norris, o quinto colocado, e Esteban Ocon, o sexto, que fizeram seus tempos com pneus macios. Mas, mesmo assim, ficaram a menos de 1 décimo de Perez, que estava com os médios.
Esse pelotão intermediário, por sinal, está mais próximo do que nunca. Entre Norris, o quinto, e Stroll, o décimo, a diferença foi de pouco mais de 1 décimo de segundo. Isso indica uma luta acirrada entre McLaren e Racing Point pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores.
Elas estão separadas por apenas 10 pontos, o que é muito pouco levando-se em conta que, neste campeonato, os dois carros de cada equipe somam pontos.
A Renault também está de olho nesse terceiro lugar, que vale um bom dinheiro. Para se ter uma noção, a diferença da premiação entre essas posições é de cerca de 10 milhões de dólares.
Como o bolo da premiação diminuiu por causa da pandemia, neste ano talvez seja um pouco menos, mas com certeza ainda é uma quantia considerável. E ficar em terceiro, atrás apenas da Mercedes e da Red Bull, também vale muito.
Charles Leclerc foi o oitavo, logo atrás de Perez, mas com pneus macios. Assim como Daniel Ricciardo, que parou no começo da primeira sessão com problemas de injeção de combustível. Ele só voltou a andar na segunda sessão e terminou em nono, três posições atrás do companheiro de Esteban Ocon, seu companheiro na Renault, que vem de um ótimo segundo lugar em Sakhir.
Daniil Kvyat se despede da Fórmula 1 neste domingo. Hoje, ele levou seu Alpha Tauri ao 11º lugar e foi seguido por Carlos Sainz, que ficou muito atrás do companheiro na McLaren, Lando Norris.
Pierre Gasly não acompanhou o ritmo de Kvyat e colocou seu Alpha Tauri em 13º. Ele ficou à frente de Kimi Raikkonen, que parou antes da hora com um incêndio no motor de seu Alfa Romeo. Isso paralisou o treino por cerca de 8 minutos, prejudicando a grande maioria, que ainda estava fazendo a simulação de corrida.
Sebastian Vetell, que faz sua última corrida pela Ferrari, fechou o dia em 15º, como tem acontecido ultimamente. A seguir veio Kevin Magnussen, outro que vai dizer adeus à F1 no domingo, e vai se juntar a Perez no fim do grid porque trocou o motor.
Antonio Giovinazzi colocou seu Alfa-Romeo em 17º, seguido por George Russell, que também teve problemas no seu Williams e perdeu tempo de pista. Pietro Fittipaldi e Nicolas Latifi completaram o grid em 19º e 20º.
Essa sexta-feira teve também uma demonstração de como os carros vão se comportar no ano que vem, Nuno entram em vigor novas restrições aerodinâmicas.
Várias equipes, como Ferrari e Haas testaram o assoalho com o corte diagonal na parte traseira, o que reduz muito a eficiência do difusor e, por consequência, a aderência.
Leclerc e Vettel fizeram esse teste para a Ferrari, Ocon para a Renault, Latifi para a Williams, Albon para a Red Bull e Pietro Fittipaldi para a Haas. E se constatou que esse assoalho causa uma perda de 3 décimos no tempo de volta.
Acredita-se que, até o começo do próximo campeonato, os projetistas podem recuperar um pouco da eficiência perdida, mas deve haver uma perda de pelo menos 2 décimos mais lentos.
Somem-se a isso os pneus mais duros que a Pirelli está produzindo para 2021 e se pode falar em uma perda de 3 a 4 décimos por volta. Esses pneus também foram testados nesta sexta-feira, cada piloto teve de dar pelo menos oito voltas com eles.
A esperança é que essas restrições atinjam o objetivo da FIA, que é facilitar ultrapassagens. O problema é que, ultimamente, as mudanças impostas pela FIA não têm dado muito certo.
Por isso, um dos pontos mais positivos do dia foram as voltas que Fernando Alonso deu com o Renault que o levou ao título mundial de 2005. O rugido do carro a pleno acelerador trouxe à memória de todo o paddock a lembrança da sinfonia dos motores V10.