Otmar e muito mais: o que muda na estrutura da Alpine F1

Em movimentação especulada desde o ano passado e que foi se tornando cada vez mais evidente nas últimas semanas, a Alpine anunciou a contratação de Otmar Szafnauer como seu novo chefe de equipe. Otmar havia se desligado da Aston Martin recentemente, depois de ocupar a função no time desde quando ainda se chamava Force India. Ele será o responsável por centralizar o comando do dia-a-dia da equipe franco-inglesa.

A contratação de um Chefe de Equipe experiente na função se tornou uma necessidade para a Alpine depois do insucesso da estrutura diferentona adotada pela equipe em 2021, em que não havia um comando claro. Com a saída de Cyril Abiteboul após a temporada 2020, abriu-se um vácuo de liderança. Para preenchê-lo, o comando ficou dividido entre o CEO Laurent Rossi, o Diretor Executivo Marcin Budkowski, e o então recém-chegado Davide Brivio, Diretor de Corrida, egresso da Yamaha na MotoGP. Além deles, havia Alain Prost, com cargo consultivo, mas aparentemente sem função prática na estrutura.

Rossi e Budkowski se dividiam entre atividades de pista e administrativas, enquanto Brivio acompanhava o time in loco, mas sem autoridade na garagem. O resultado da bagunça administrativa foi que o time não teve o progresso esperado e terminou em 5º entre os construtores, muito mais próximo do 6º lugar do que da briga à frente. Rossi, o CEO, percebeu que o modelo não daria certo e precisou a se movimentar.

Se tornou iminente a necessidade de alguém experiente que pudesse ser o elo entre a alta gestão e o dia-a-dia das atividades de pista. O nome de Otmar Szafnauer passou a ser especulado na Alpine ainda durante a temporada de 2021. E fazia total sentido: Otmar era o chefe da Force India/Racing Point/Aston Martin, e, sob seu comando, o time conseguiu consistentemente resultados além do que o orçamento faria supor.

Durante o GP de São Paulo, no auge dos boatos sobre uma possível à Alpine, Otmar participou da coletiva de imprensa e foi questionado seguidas vezes se havia recebido contato da equipe azul, além de ser instigado a responder se tudo não passava mesmo de boato. Suas respostas evasivas, sem negar de forma veemente a história, só serviram para botar mais lenha na fogueira da especulação.

No começo de 2022, a Alpine anunciou a saída de Marcin Budkowski. Logo depois, foi a vez de Alain Prost desembarcar - e soltando os cachorros nas redes sociais. Em paralelo, Otmar se desligava da Aston Martin após 12 anos no time. Restava claro que sua chegada à Alpine era questão de tempo. E o anúncio oficial até demorou, acontecendo apenas nessa quinta-feira (17).

Com a contratação de Szafnauer como Chefe de Equipe, a Alpine volta a ter uma estrutura mais tradicional. Ele fica no controle da operação de pista, o que acaba por liberar Laurent Rossi para focar em atividades administrativas. Outro que sai do pit wall e assume novas funções é Davide Brivio, que chegou a ser especulado de volta à MotoGP, mas fica na Alpine no novo cargo de Diretor de Expansão de Projetos de Corridas, sendo responsável pelo programa de jovens pilotos da Renault/Alpine e pelo envolvimento da equipe em outras categorias.

Departamento técnico também passa por reestruturação

A Renault tem progredido a passos lentos desde quando retornou à F1 como equipe, em 2015. O time não passou do 4º lugar entre os construtores desde então, estando preso no 5º há duas temporadas. Para alcançar o objetivo de ser postulante a vitórias e títulos até 2025, período em que estará em vigor o atual regulamento, a equipe entende que mexer no departamento técnico é necessário.

Para isso, Rossi promoveu o experiente Pat Fry para o novo cargo de CTO (Chief Technical Officer), uma posição com status de vice-presidência voltada para a área técnica. Fry está no time desde 2020, e tem no currículo passagens por Benetton, Ferrari e, principalmente, McLaren.

Ele terá como uma de suas principais missões estreitar o relacionamento entre os departamentos de chassi e de motor da equipe. Enquanto os chassis são projetados e feitos em Enstone, na Inglaterra, os motores saem de Viry, na França. Segundo Rossi, há pouca colaboração entre as áreas, o que dá a sensação de que Alpine é uma equipe cliente, e não fabricante do próprio motor. Integrar os trabalhos para que o conjunto funcione melhor é uma prioridade.

Para isso, a Alpine recrutou mais dois nomes: um deles é Matt Harman, que era responsável justamente pela integração entre a Unidade de Potência e o chassi da Mercedes. Ele assume o cargo de Diretor Técnico, logo abaixo de Pat Fry. O outro é Bruno Famin, que foi anunciado simultaneamente a Otmar. Com experiência no departamento esportivo da FIA e antigo responsável técnico pelo programa da Peugeot em Le Mans, Famin assume a Direção Executiva da fábrica de motores em Viry. Ele terá reporte direto com Fry e com Szanafuzer.

Todos eles (Szafnauer, Fry, Famin e Harman) serão cobrados para que a integração das áreas de chassi, motor e pista funcione melhor e que essa sinergia se converta em resultados. Capacitados para isso, certamente eles são. Depois de um ano turbulento em termos de organização, a Alpine parece ter encontrado um bom encaixe para que as coisas fluam de forma mais tranquila. Se vai dar resultado ou não, só o tempo dirá. E nós seguiremos de olho.

A Alpine apresenta seu novo carro para a temporada 2022 na próxima segunda-feira (21). O Chefe de Equipe é novo, mas a dupla de pilotos segue a mesma: Fernando Alonso e Esteban Ocon serão parceiros mais uma vez.