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Pandemia desafia temporada da Fórmula 1. De novo (e pior)

Priscila Cestari comenta como a F1 permanece atenta para mais uma temporada imprevisível, com 90 milhões de casos de Covid-19

12 jan 2021 - 10h04
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Domenicali e Carey: italiano herdou o comando da F1 e também o "abacaxi" da pandemia.
Domenicali e Carey: italiano herdou o comando da F1 e também o "abacaxi" da pandemia.
Foto: F1 / Reprodução

Quando o grupo Liberty Media anunciou Stefano Domenicali como o novo diretor-executivo e presidente da Fórmula 1 em 2021, em substituição ao americano Chase Carey – que continua ligado à categoria, mas na condição de presidente não-executivo – o mundo contabilizava mais de 32 milhões de casos de Covid-19 e chegava próximo ao primeiro milhão de mortos (991.279, segundo o jornal The New York Times). Era o final de semana entre os dias 25 e 27 de setembro de 2020.

Até a 10ª etapa da categoria, disputada em Sochi, na Rússia, a Fórmula 1 tinha convivido com dois casos positivos entre seus 20 pilotos: Sergio Pérez, que ficou fora das corridas disputadas em Silverstone (GP da Inglaterra e GP dos 70 anos da F1), e o companheiro de equipe, Lance Stroll, que testou positivo após a etapa em Eifel, na Alemanha. Em ambas as oportunidades, Nico Hulkenberg substituiu os pilotos da Racing Point. 

E, claro, não podemos deixar de lembrar que o avanço da pandemia de Covid-19 já havia provocado mudanças no calendário da F1: das 22 etapas previstas no início de 2020, 13 foram canceladas e substituídas por oito, totalizando 17 corridas em cinco meses e meio de temporada.

Sergio Pérez: primeiro piloto contaminado com Covid-19.
Sergio Pérez: primeiro piloto contaminado com Covid-19.
Foto: F1 / Reprodução

Nosso colega, o jornalista Lito Cavalcanti, chamava a atenção de um dos desafios de Domenicali, ex-chefe da Ferrari entre os anos de 2008 a 2014, no texto publicado em 19/11/2020 aqui no Parabólica. Naquele momento, Lito indicava que o maior desafio como chefe da F1 seria “dar fim à monotonia das corridas, gerada pela radicalização das soluções aerodinâmicas” e como algumas corridas do ano passado mostraram que, “sem a enorme aderência de que desfrutam os carros, as disputas podem atrair uma parte do público que perdeu interesse”.

Eis que estamos em 2021 e um dos maiores desafios de Domenicali como novo CEO nesta temporada será lidar com a pandemia e suas consequências para o esporte. A ameaça e o avanço da doença pelo mundo ainda terá papel relevante por muito tempo no planejamento das etapas. Além disso, garantir que as corridas sejam ambientes, até certo ponto seguros para todos aqueles que estejam envolvidos na realização dos eventos, não deverá ser uma tarefa fácil para o novo diretor e toda a categoria.

Enquanto escrevo essa coluna, contabilizamos mais de 90 milhões de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus e quase 2 milhões de mortes em todo o mundo. De setembro até agora são mais de 58 milhões de novos casos. Números bem assustadores e que aumentam a cada dia. E servem para entendermos melhor o que poderá vir pela frente, inclusive, para a Fórmula 1, que divulgou nesta terça-feira (12) a primeira revisão do calendário para a temporada. 

Casos de Covid-19 no mundo ameaçam mais uma temporada da Fórmula 1.
Casos de Covid-19 no mundo ameaçam mais uma temporada da Fórmula 1.
Foto: Google / Reprodução

Estão mantidas as 23 provas, por enquanto, mas agora o início está previsto para 28 de março, com o Grande Prêmio do Bahrein. A etapa da Austrália foi para a parte final da lista, em 21 de novembro, após a corrida no Brasil, que também teve a data alterada. A etapa de São Paulo foi adiantada em uma semana, passando de 14 para 7 de novembro. A prova da  Arábia Saudita, que faz a estreia no calendário e estava marcada para 28 de novembro, será no dia 5 de dezembro, data anteriormente reservada para Abu Dhabi. Mas a última corrida do ano deverá acontecer uma semana depois, em 12 de dezembro.

Com essa atualização de datas, o Grande Prêmio de Xangai, na China, não aparece mais no calendário. O país ainda vive restrições de viagens e precisamos lembrar que, além disso, os profissionais envolvidos com a competição teriam que respeitar uma quarentena de 14 dias na chegada ao país, assim como foi feito em Abu Dhabi no ano passado. E, como sabemos, isso representa desafios logísticos e financeiros significativos para a categoria como um todo. E com essa alteração o Grande Prêmio da Emilia Romagna, em Ímola, retorna ao calendário em 18 de abril. 

Em meio a tantas dúvidas – e ao aumento dos números de casos – a boa notícia é a de que vários países começaram a imunizar seus habitantes, enquanto outros dão andamento para que em breve a vacina possa virar realidade. O Reino Unido, por exemplo, iniciou a vacinação no dia 8 de dezembro. Um mês depois, o Instituto Butantan, em São Paulo, anunciou o resultado sobre a eficácia da CoronaVac. No Estado paulista, a vacinação tem data prevista para início em 25 de janeiro. 

Mas, para a categoria é importante ressaltar que grande parte dos trabalhadores não se enquadram em grupos prioritários. E mais: os efeitos práticos da vacinação ainda devem demorar muito para serem mensurados no ambiente da Fórmula 1. 

Lance Stroll: testou positivo na etapa de Eifel, na Alemanha.
Lance Stroll: testou positivo na etapa de Eifel, na Alemanha.
Foto: F1 / Reprodução

Enfrentar uma pandemia não tem sido uma tarefa fácil. E para o esporte, em geral, tem sido um desafio e tanto. Vimos o adiamento dos Jogos Olímpicos no Japão, mas o surgimento de uma bolha em Orlando, nos Estados Unidos, como solução para os playoffs e encerramento da temporada de NBA. E o cumprimento dos compromissos comerciais para que os investimentos não sofressem com mais prejuízos do que se a temporada não tivesse fim. Porém, a realidade da temporada atual tem sido preocupante, pois vários jogos da Liga Norte-Americana de basquete já foram adiados devido aos protocolos de segurança e casos positivos de Covid-19 entre seus jogadores. 

Para a Fórmula 1, houve a necessidade de readaptação. As corridas, inicialmente, não foram abertas para os espectadores, convidados ou mesmo parceiros comerciais. Medidas como a redução do número dos integrantes das equipes, assim como os testes regulares em massa foram estabelecidas pela categoria. Foi necessário criar uma bolha, isolando os profissionais em suas respectivas áreas e sem interação com outros núcleos. 

Quem não se lembra do primeiro pódio na Áustria? Foi improvisado na pista de Spielberg, com distanciamento entre os pilotos, que usavam máscaras e não podiam se abraçar, muito menos abraçar o pessoal das equipes. Em setembro, durante o milésimo Grande Prêmio da Ferrari, em Mugello, foi autorizado o acesso de quase três mil espectadores às arquibancadas. Era a primeira vez que a F1 recebia público na temporada. 

Ross Brawn, diretor administrativo da Fórmula 1, divulgou no podcast F1 Nation no final do ano passado que foram realizados mais de 80 mil testes durante a temporada, sendo 78 casos positivos registrados de julho a dezembro e, segundo ele, grande parte desses resultados eram de pessoas locais que prestavam serviço durante o final de semana. E mesmo com todos os cuidados, além de Perez e Stroll, Lewis Hamilton foi o terceiro piloto a ter resultado positivo no GP do Sakhir e ficar fora de uma corrida, uma proporção relevante se pensarmos que temos apenas 20 pilotos no grid.  

Lewis Hamilton: nem o campeão mundial ficou imune à Covid-19.
Lewis Hamilton: nem o campeão mundial ficou imune à Covid-19.
Foto: Twitter

Para aqueles que acompanham a Fórmula 1 e o automobilismo em geral, a torcida é de que, com o aumento da imunização nos países, o público possa retornar, mesmo que aos poucos, aos eventos esportivos. Mas, ainda corremos o risco de acompanhar mais uma temporada de arquibancadas vazias e o paddock silencioso, sem a intensa movimentação dos finais de semana. É preciso convencer não só a categoria, mas sim o público de que se está fazendo o que é melhor, e o mais seguro, nesse momento mundial até então indefinido.

Por tudo isso que falamos, a temporada 2021 será mesmo um imenso desafio para Domenicali. Sempre respeitado e admirado na Fórmula 1, sempre esteve envolvido com o automobilismo: nasceu em Ímola e morador de Monza, trabalhou quase duas décadas na Ferrari, seis deles como chefe de equipe e se manteve no time de Maranello até 2014, quando pediu demissão do cargo. 

Nos últimos seis anos foi diretor da Audi e depois da Lamborghini. Permaneceu conectado ao esporte por meio do trabalho com a presidência da Comissão de Monopostos, da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Acostumado a dirigir grandes negócios, certamente conquistou ainda mais experiência que, aliada a suas habilidades e personalidade, poderá ser aproveitada em uma categoria em busca de um futuro promissor e sustentável, mas que está em meio a uma pandemia global.

E como dizem, o maior desafio é sempre o próximo. Com desejos de "boa sorte", mas em bom italiano, a língua de Domenicali: in bocca al lupo!

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