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Por que a base de público da F1 fica tão tóxica nas redes?

Em tempos de toxicidade nas redes, é tempo sim de parar. A F1 passa por uma de suas melhores fases e muita gente se perde em besteiras...

22 jul 2022 - 00h34
(atualizado às 16h58)
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Hamilton e Verstappen: dois grandes brigam na pista e o publico se estapeia nas redes
Hamilton e Verstappen: dois grandes brigam na pista e o publico se estapeia nas redes
Foto: Red Bull Content Pool / Divulgação

"Tudo se resume a uma briga de torcidas

E a gente ali no meio, no meio das bandeiras

O jogo não importa, ninguém tá assistindo

E a gente ali no meio, no meio da cegueira

Tudo se reduz a um campo de batalha

E a gente ali no meio

Tudo se resume a disputa entre partidos

Lama na imprensa, sangue nas bandeiras

A verdade passa ao largo, como se não existisse

E a gente ali no meio, como se não existisse

Tudo se reduz, a uma cruz e uma espada"

Esta é uma coluna diferente. Venho citar “Vícios de Linguagem” do Engenheiros do Hawaii pois se encaixa perfeitamente no tema. É trazer sim o aspecto humano da F1. E que traz também o lado obscuro das relações humanas que nos envolve todo dia graças as famosas redes sociais...

Este tema pode se aplicar em diversos outros campos. Mas ficarei na F1 mesmo. A categoria teve um aumento vertiginoso de interesse nos últimos anos. Como hoje os cliques valem mais, bem como a expansão do alcance, então o que interessa é se manter em evidência de alguma forma. E a Liberty optou sim por cada vez jogar a F1 no entretenimento.

Sendo entretenimento e para ampliar a base, a F1 cada vez mais se assemelha ao futebol. Principalmente pela questão de como o público se comporta. Muita gente torceu o nariz quando Luis Roberto gritou “gol da Holanda” ao descrever a reação das arquibancadas ao ver Verstappen ultrapassar Charles Leclerc para vencer o GP da Áustria em 2019. Mas cada vez a coisa foi se tornando uma polarização bizarra, que talvez tenha chegado ao seu ponto mais alto no ano passado com a briga Verstappen x Hamilton.

Isso toma outros contornos quando Fernando Alonso diz que o público, especialmente o mais recente, vem tendo uma postura mais futebolística ao se focar no curto prazo de resultados e não entender o contexto da categoria. E ainda quando temos notícias vindas de atitudes deploráveis vindas de uma parte da torcida no GP da Áustria...o ambiente fica mais turvo.

Tudo isso ainda resvala nas redes numa toxicidade terrível. Rivalidades existem desde que o mundo é mundo. Mas nestes tempos em que todos querem ter opinião sem considerar a do próximo, nós vemos de um lado gente falando mal de Hamilton por “ser vegano, defender bandeiras progressistas e usar roupas esquisitas”. De outro, um Verstappen “arrogante e que tem cara de peixe”. Valem mais julgamentos de posturas do que de performances.

Isso tudo ao invés de aproximar, afasta. Nesta quinta, passei por uma das mais ridículas situações da minha vida até aqui. Por conta da divulgação dos textos, faço parte de diversos grupos de discussão no WhatsApp. Um deles era formado por torcedores da Red Bull. Até aí tudo bem. Fui convidado por uma pessoa a tomar parte e vi que algumas pessoas de outros grupos em comum estavam lá.

Só que algumas pessoas lá volta e meia questionavam a sexualidade do Hamilton. Em um grupo que tinha como uma de suas regras repelir a homofobia, tal ação era estranha. Mas resolvi perguntar se, caso fosse mesmo homossexual, se isso reduziria a sua capacidade e seus feitos. E ainda disse que certas vezes gostaria que fosse verdade para que ele pudesse esfregar isso na cara dos fiscais de vida alheia.

Tão logo postei, um dos administradores do grupo veio me interpelar se eu era fã do Hamilton. Não respondi logo, mas afirmei que “achava Hamilton bom”. Alguns momentos depois, recebi um belíssimo ban do grupo. Não entendi a ação e fui perguntar o que havia acontecido para merecer ser expulso, já que não havia desrespeitado regra alguma do grupo. A resposta muito adulta (ironia aqui) veio em seguida: “Grupo do Max – Fãs do Max; Fãs do Hamilton – Grupos do Hamilton”.

Esta talvez tenha sido a demonstração mais cabal da pequenez a que chegamos. Poderíamos trazer isso para vários exemplos de nossa vida cotidiana. Mas como disse antes, quero manter o foco na F1.

Em um momento em que temos vários pilotos de alto nível diante de nossos olhos e podendo acompanhar toda a movimentação em detalhes que nunca se viu antes, é muito triste notar que muita gente toda a beleza da F1. Que é mercantilista, elitista e um monte de outros istas. Mas ver indivíduos extremamente especialistas no que fazem desfilando suas capacidades, é algo maravilhoso. É como ver Shakespeare lançando uma peça, Pelé marcando um gol, Drummond terminando um poema.

Mas não. Como diz a letra que citei, o importante para muita gente é enfiar sua opinião por debaixo da goela do outro a qualquer custo. O motivo que nos une acaba sendo totalmente irrelevante. E perdemos cada vez mais a oportunidade de aproveitar tudo. O jogo está lá acontecendo, mas não interessa. No caso aqui, a corrida se torna algo irrelevante.

Esta coluna é um desabafo. Não vai servir de muita coisa, a não ser colocar para fora esta desilusão. Também não farei como Diógenes, que saía na Grécia Antiga com uma lanterna na mão em busca da verdade ou de homens honestos. Mas simplesmente uma fala de um apaixonado por automobilismo, que tem dedicado seus últimos 36 anos a ter a F1 como uma de suas razões de vida. Que conheceu muita gente e de certa forma, realizando sonhos.

Talvez por isso sim valha seguir neste caminho. Ver sim que tem muita coisa boa a aproveitar e ajudar a construir um clima melhor, para juntar os dinossauros até aqueles que estão tendo o deleite da revelação daqueles carrinhos dando voltas e mais voltas em um circuito por duas horas....Que tenhamos sim a festa e o gozo. ódios e ranços ficam do lado de fora. 

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