Todos os caminhos da F1 passam por Toto Wolff
De piloto mediano a poderoso chefe de equipe, o austríaco dá as cartas na F1 e mostra que não deve parar por aí
Se você lançar o nome Torger Christian para o fã de F1, muita gente terá que usar os buscadores na internet para saber quem é. Agora, se disser Toto Wolff, a coisa muda totalmente de figura. O carismático chefe de equipe vem pouco a pouco expandindo seus tentáculos sobre a F1, podendo ser considerado uma “eminência parda”.
Quem poderia imaginar que aquele jovem austríaco, que se apertava em monopostos sem obter grandes resultados, poderia conseguir tanto? Perseverança e inteligência. Wolff investiu na carreira de empresário, investindo em empresas de tecnologia. Mas continuou no automobilismo: migrou para o GT, se tornou empresário de pilotos e, na sequência, dono de equipe. Comprou 49% da HWA, que tem uma ligação umbilical com a Mercedes, então preparando os motores alemães para a F3 e usando os carros da montadora no DTM.
A entrada na F1 ocorreu em 2009, quando Wolff comprou quase 20% da Williams, entrando para o quadro de diretores. Em 2012, tornou-se diretor executivo do time e, sob seu comando, veio a última vitória no GP da Espanha daquele ano. Esse período serviu para entrar no restrito grupo de chefes de equipes e entender os meandros da categoria. Aparentemente, percebeu que a Williams não teria um futuro tão brilhante, iniciou negociações com a Mercedes e, em janeiro de 2013, tornou-se acionista da Mercedes F1 e diretor executivo. Mas mantendo sua posição na Williams.
Na Mercedes, teve contato com a pessoa que lhe ajudou muito a crescer na função: Niki Lauda. Além de acionista do time, Lauda era um consultor do time. Inicialmente, um estranhamento inicial aconteceu. Mas, aos poucos, ambos se enquadraram e passaram a fazer uma dupla imbatível. Wolff diz que Lauda se tornou um grande amigo e deve muito do sucesso da Mercedes a ele.
Foi um dos inspiradores da estratégia em focar no novo regulamento híbrido que viria em 2014. Naquele ano, vendeu boa parte de suas ações na Williams, mas o time também se tornou cliente da Mercedes e contava com um piloto que estava sob sua responsabilidade: Valtteri Bottas.
Ao se mudar para a Mercedes, se deparou com um jovem Lewis Hamilton, que era uma aposta de Niki Lauda. O inglês vinha da McLaren e após ter vencido o título de 2008, parecia ter perdido um pouco do foco, embora o talento estivesse ali. Nico Rosberg estava estabelecido no time e vinha de ter superado o multicampeão Michael Schumacher.
Aos poucos, Wolff foi remontando o time, aproveitando a saída de Ross Brawn. Aproveitou a prata da asa, mas trouxe nomes como Aldo Costa (ex-Ferrari) e Geoff Willis (ex-Williams e BAR). A força era focar em processos e garantir que cada um fizesse da melhor forma o seu trabalho, em prol dos resultados. A aposta começou a dar certo em 2014 e assim foi. A Mercedes começou o seu domínio, que dura até hoje.
Naturalmente, por conta dos resultados, Toto foi ganhando musculatura. Muita gente diz que o próprio regulamento híbrido já foi uma força enorme da Mercedes. Mas o que veio depois foi uma ocupação firme. A Ferrari, histórica equipe com força política, foi aos poucos se apagando, mesmo com os poderes especiais que o antigo Acordo de Concórdia lhe dava. Sempre vendo que a força bruta nunca usada abertamente, mas sempre transparecendo controle e um chamado soft power, um poder sendo usado através de persuasão.
Não à toa que seu nome foi cogitado para substituir Chase Carey quando este se aposentou no posto de CEO da F1. Para o grande público, não soou assim, mas se diz que houve uma revolta de Ferrari e Red Bull que impediu este movimento. Embora não seja formalmente o comandante da categoria, Wolff hoje é o dono da bola.
Além de ser o todo poderoso da Mercedes no automobilismo, tem 33% da equipe de F1 e foi o grande nome até aqui na movimentação de pilotos. Além de ter mais três equipes usando seus motores, conseguiu colocar um piloto seu na Alfa Romeo (até que se prove uma equipe na órbita da Ferrari), após ter posicionado um protegido seu em outro concorrente anteriormente (Ocon na Renault, atual Alpine) e ainda estar tentando encaixar Nick DeVries, campeão da F-E, junto com Bottas. Além disso, conseguiu impor o desligamento – mesmo que temporário – de Alex Albon da Red Bull para se tornar piloto da Williams para 2022. Sem contar a colocação de George Russell na equipe principal.
A promoção de Russell não deixa de ser também a mostra do sistema Mercedes. O inglês foi incorporado ao programa de pilotos em 2017 e vem sendo cuidadosamente preparado. Foi colocado na Williams em 2019 para ganhar vivência e a sua escolha para substituir Hamilton em Sakhir na última temporada em detrimento de Stoffel Vandoorne, deixou claro que seria o próximo da vez.
Um rei sem coroa. Mas com muito poder. Todos os caminhos hoje levam a Toto Wolff, que caminha célere para ser um Bernie Ecclestone 2.0.