Toto diz que Hamilton não tem o reconhecimento que merece
Chefe da Mercedes acredita que os feitos de seu principal piloto só serão reconhecidos depois da aposentadoria
Sete títulos mundiais, 100 vitórias, 101 pole positions, 177 pódios. Lewis Hamilton é, numericamente, o maior piloto da história da Fórmula 1. Mais do que as estatísticas, Hamilton tem feitos memoráveis, como disputar o título em seu primeiro ano na categoria – e com o então bicampeão na mesma equipe -, ser campeão em sua segunda temporada, um domínio histórico nos últimos anos, além de diversas atuações marcantes.
Mesmo com todos os predicados citados, Hamilton ainda não tem o reconhecimento que merece. É o que diz Toto Wolff, chefe da equipe Mercedes. Em entrevista ao jornal inglês Daily Mail, Wolff falou sobre as possíveis razões para o piloto britânico não ter tanto carinho por parte do público de seu próprio país.
“Acho que o Lewis não é reconhecido como deveria, por muitas razões. Ele teve muito sucesso imediatamente com a McLaren, e a história de sua vida, as dificuldades financeiras, o racismo ao qual foi exposto, não são coisas às quais o público está acostumado. As pessoas não viam isso. O que viam era um jovem chegando à Fórmula 1 e sendo bem sucedido logo de cara. E também porque ele é uma pessoa extravagante, que polariza opiniões. As pessoas não sabem lidar com isso.”
Wolff considera que pode haver racismo no alegado pouco reconhecimento dado à Hamilton. Mas, mais que isso, pode ser um caso de inveja. Segundo ele, as pessoas tendem a não reagir bem a quem vence demais.
“Existe um racismo estrutural também? Talvez haja. Mas acho que o mais importante é que nós perdemos mais do que vencemos, todos os dias, e é muito difícil para as pessoas aceitarem uma pessoa que elas acham que consegue tudo, que vence sempre. Quanto mais você vence, mais as pessoas torcem para o azarão.”
A Mercedes é campeã de construtores de todas as temporadas da Fórmula 1 desde 2014, e Hamilton venceu todos os títulos de pilotos do período, exceto um (2016). Alguns críticos usam frequentemente o argumento de que qualquer um poderia ser campeão com o carro da Mercedes. A eles, Wolff respondeu com ironia: “As pessoas que dizem que poderiam ser campeãs com o carro do Lewis, bem, por que vocês não estão no carro dele então?”
A evolução do carro da Mercedes até se tornar dominante passa, também, pelo trabalho de Hamilton – e pela corajosa decisão de trocar a McLaren, equipe que o apoiava desde a infância, pela Mercedes. Segundo Wolff, uma decisão motivada pela gana de continuar vencendo: “Por que ele mudou da McLaren para a Mercedes em 2013? Foi um movimento ousado. Há exemplos, mesmo agora, de caras que se mudaram por dinheiro, e não pelo carro.”
E, ainda na esteira do assunto trocas de equipes, sobrou para Fernando Alonso, antigo rival de Hamilton: “Alonso é, sem dúvida, um dos melhores pilotos a correr na Fórmula 1. Em todos os tempos. É decepcionante para o esporte que ele não tenha mais que dois títulos em seu nome. Mas é uma questão de saber que você é parte de um sistema solar, não é o sol.”, afirmou um ácido Toto Wolff, que continuou usando o paralelo espacial para falar de humildade: “Alguns pilotos ganham atenção da mídia e começam a acreditar que são o sol. Você não é. Nenhum de nós é. Somos todos satélites, somos planetas que giram.”
Por fim, o chefe da Mercedes disse acreditar que Hamilton só será devidamente valorizado quando já não for mais um piloto da Fórmula 1 e for olhado pelos fãs com nostalgia: “Só quando ele se aposentar, eu acho, as pessoas vão compreender a magnitude de suas conquistas”.
Parabólica diz:
Sergio Milani:
"A entrevista de Toto Wolff foi muito abrangente e muito assertiva em vários aspectos. Em algumas conversas, externei esta mesma visão: Hamilton só terá seu real tamanho percebido daqui a alguns anos. E joga várias verdades que não podemos ignorar: há desvalorização sim por tudo que significa. E isso ajuda a por abaixo estes obstáculos que muita gente coloca sem perceber (ou não)"