Williams pode ser a porta de entrada da Volkswagen na F1
Desde que a Dorilton Capital assumiu o controle do time inglês, vários ex-membros da montadora alemã foram contratados.
O ritual de entrada da VW na F1 segue. O que se diz é que tanto Audi como Porsche aceitaram as novas regras de motor para 2026, que devem ser divulgadas pela FIA até a primeira metade de dezembro e o conselho da montadora alemã deve se reunir nos próximos dias para definir se realmente tomará este passo que é tão falado desde meados da década de 90 e nunca se cumpre.
Uma das linhas que circula principalmente na imprensa alemã é que, caso a Audi viesse entrar, adquiriria um time. Alguns falaram na Sauber, principalmente após a não-conclusão da negociação com a Andretti. Dias atrás, a Autocar inglesa chegou a publicar que os alemães estavam negociando com a McLaren. Neste caso, seria a aquisição de toda a operação, incluindo a área de carros. Ambos negaram tudo, com os ingleses sendo mais incisivos do que a Audi...
Mas uma opção que aparece para que uma das montadoras desembarquem na F1 é a...Williams!
Em uma coluna escrita por mim em abril deste ano, expliquei um pouco do trabalho de reestruturação que a Dorilton Capital vem empreendendo. Os americanos simplesmente gastaram cerca de 100 milhões de libras em 6 meses, entre pagamento de dívidas e investimentos em equipamentos e pessoal. Isso significou cerca de quase 60% das receitas do time em 2019.
Um dos pontos que os novos donos colocaram foi chamar gente experiente para comandar o processo. E trouxe o alemão Jost Capito para o posto de CEO. Além de ter sido piloto (venceu Paris/Dakar pilotando caminhões) teve cargos importantes em várias empresas do automobilismo (inclusive foi o escolhido por Ron Dennis para ser seu sucessor no comando da equipe McLaren, mas foi algo muito breve). Seu último posto antes da Williams foi ter sido o todo poderoso da área de competições da VW.
Neste cargo, Capito foi, entre outras coisas, o responsável pelo domínio alemão no WRC com o VW Polo (e apoio da Red Bull). E soube aproveitar o desmonte do programa esportivo realizado pela montadora para trazer gente de peso para a área técnica: o francês François-Xavier Demaison para ocupar o posto de Diretor Técnico e o alemão Willy Rampf, que trabalhou anos na Sauber.
Ao longo do ano, Capito também acumulou o posto de Chefe de Equipe. Foi parte importante na costura da permanência de Nicholas Latifi e a vinda de Alexander Albon para o lugar de George Russell. Suas ligações com a Red Bull ajudaram a costurar o acordo, mesmo com toda a pressão feita pela Mercedes, que tem contrato com o time até 2025 para o fornecimento de motores e da parte de suspensões e câmbio.
Para reforçar esta situação de “refúgio da VW”, na surdina, a partir de novembro, a Williams trouxe para o posto de Diretor Esportivo (o cara que é responsável pelo contato com a FIA e garantir o cumprimento de todas as regras) o belga Sven Smeets. Smeets foi navegador no WRC e em meados dos anos 2000, pendurou o capacete e assumiu o posto de chefe de equipe da Citroen na categoria. Em 2010, acumulou o cargo com o comando do programa da Peugeot para o WEC. Em 2012, foi para a VW comandar o programa de Rally, justamente sobre o comando de....Jost Capito. E desde 2016 era o Diretor responsável, comandando especialmente o desenvolvimento do ID.R, esportivo elétrico da marca. Ficou até 2020, quando a VW decidiu acabar com o departamento esportivo.
Diante deste quadro, uma união com Audi ou Porsche seria algo quase que natural: um time com um nome forte na categoria, que parece em um rumo certo de reestruturação e que tem em postos-chave pessoas que conhecem muito bem como é o pensamento e o modo de agir da gigante alemã.
Sem contar que seria o momento perfeito para que a Dorilton fizesse algum tipo de desembarque do time, já que um de seus objetivos é “comprar posição de maioria em empresas e trabalhar junto da gerência para acelerar crescimento e criar valor“, além de “destravar valor começa em realizar o potencial de nosso pessoal e investimentos” (tudo retirado do site da Dorilton). Fundos de investimentos na F1 não se caracterizam pela visão de longo prazo, embora o novo formato de negócios instituído pelos novos acordos comerciais e os tetos orçamentários permitam acreditar que esta realidade mude...
Diante do quadro, a Williams é sim uma bela “novinha casadoira” para quem quer investir na F1. E caso Audi e Porsche realmente venham, é um ótimo lugar para se chegar: casa arrumada, caras conhecidas e potencial de crescimento. A ver os próximos passos.