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'90% da ilha foi arrasada': a devastadora passagem do furacão Beryl pelo Caribe a caminho do México

O Beryl, que atingiu a costa das ilhas caribens na segunda-feira, é um furacão de categoria quatro, com ventos constantes de 241 km/h.

3 jul 2024 - 16h37
(atualizado às 19h27)
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O furacão teve ventos de até 240km/h
O furacão teve ventos de até 240km/h
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Katrina Coy sobreviveu à noite em que o furacão Beryl devastou com uma força estrondosa a sua casa idílica na ilha União, uma das ilhas do país caribenho de São Vicente e Granadinas. Mas ela continua perplexa com a magnitude da devastação.

Praticamente todos os edifícios da ilha foram destruídos ou gravemente danificados, diz ela.

"A ilha União está em um estado terrível depois do furacão Beryl. Quase todo mundo na ilha está desabrigado", afirma.

"Quase não restam edificações de pé. Casas foram demolidas, estradas bloqueadas, postes de eletricidade derrubados."

Outro morador, Sebastien Sailly, vive na ilha desde 1985 e passou pelo furacão Ivan em 2004. Mas o furacão Beryl, diz ele, estava em outro nível. "90% da ilha foi arrasada", diz ele. "Parece até que passou um tornado por aqui."

Furacões e tornados são fenômenos diferentes.

Você muito provavelmente já viu imagens de um tornado: é aquele "funil" que se forma em nuvens carregadas e desce até tocar o solo. Pode ter um alto potencial destrutivo a depender de sua intensidade, que vai de 0 a 5 na escala Fujita.

Já furacões são tempestades tropicais que cobrem grande áreas e só podem ser vistos por satélite — embora seus efeitos, como chuvas, ventos, temporais e ondas, sejam muito visíveis. Também têm a intensidade classificada de 0 a 5.

O Beryl é um furacão que atingiu a costa das ilhas caribens na segunda-feira. Ele atingiu a categoria quatro, com ventos constantes de 241 km/h.

Alizee relatou que tiveram que empurrar móveis contra portas e janelas para evitar que ventos fortes e rajadas fortes as abrissem
Alizee relatou que tiveram que empurrar móveis contra portas e janelas para evitar que ventos fortes e rajadas fortes as abrissem
Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Falta de água e comida

O impacto do choque e do medo ainda é evidente na voz de Sebastien. "Procurei abrigo com minha mulher e a minha filha e, para falar a verdade, não tinha a certeza se conseguiríamos sair vivos."

Sua prima, Alizee, que administra um hotel com a família, descreveu uma experiência horrível quando o furacão passou por sua cidade. Alizee relatou que tiveram que empurrar móveis contra portas e janelas para evitar que ventos fortes e rajadas fortes as abrissem.

"A pressão era tão intensa que você sentia nos ouvidos. Ouvimos o telhado desabar e bater em outro prédio, janelas quebradas, casas inundadas", disse. "Ninguém esperava que o furacão fosse tão terrível, todos estão traumatizados."

Sebastien, que além de pescador é agricultor orgânico e apicultor, também perdeu suas duas fazendas e suas colmeias, que foram completamente destruídas.

Ainda assim, afirmou que a prioridade imediata da comunidade é a construção de abrigos. As pessoas estão tentando reunir madeira e plástico para construir algum tipo de abrigo temporário para suas famílias.

"E obviamente, encontrar água e comida será difícil", acrescentou.

Alizee diz que muitos outros produtos também são urgentemente necessários, como alimentos enlatados e leite em pó, produtos sanitários, kits de primeiros socorros e tendas. Além, é claro, de geradores.

Com a falta de eletricidade e comunicações, Alizee só conseguiu enviar mensagens conectando-se à internet por satélite.

O governo de São Vicente e Granadinas afirmou reconhecer a magnitude do problema. Num discurso matinal, o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, resumiu a sensação de choque em toda a nação caribenha.

"O furacão Beryl, este furacão perigoso e devastador, veio e se foi e deixou seu rastro: uma imensa destruição. Dor e sofrimento em toda a nossa nação", afirmou.

Gonsalves também prometeu reagir o mais rapidamente à longa lista de prioridades pós-furacão.

Em busca de ajuda

Na ilha União, no entanto, há muito ceticismo de que o governo tenha recursos e mão-de-obra para resolver a situação.

"Espero que eles possam enviar os militares e a guarda costeira para nos ajudar. Não tenho ideia se conseguirão reconstruir a ilha, mas penso que não", diz Sebastien.

"Isto exigirá milhões de dólares, um ano ou mais, e será necessária ajuda internacional."

Katrina Coy, diretora da Aliança Ambiental da ilha União também pede aos migrantes que foram da ilha para outros países para que ajudem como puderem.

"Precisamos urgentemente de ajuda. Kits de emergência, alimentos, pessoas que precisam ser evacuadas, tudo isso é necessário agora", diz ela.

Durante anos, Coy realizou um trabalho crucial para garantir o acesso à água na ilha, um recurso vital para pequenas comunidades insulares no Caribe.

É doloroso, dizem os seus colegas internacionais, que devido à passagem do furacão todo esse trabalho tenha sido perdido.

Milhares de pessoas permanecem sem energia e muitas estão em abrigos temporários em São Vicente e Granadinas, Granada e Santa Lúcia.

No entanto, apesar do caos e dos desalojados em todos os cantos da ilha, Sebastian Sailly está grato por as coisas não terem sido ainda piores.

"O mais importante é que ainda estamos vivos, e não as perdas materiais."

"Depois de testemunhar o tamanho da situação que passamos, fiquei feliz hoje ao ver que meus vizinhos ainda estão aqui."

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