Como escola pública do RJ transforma 1,5 tonelada de resíduos orgânicos em biogás
Ciep 441 - Mané Garrincha vira referência em sustentabilidade como a autossuficiência e produção de zero lixo; entenda
Referência em sustentabilidade, o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) 441 - Mané Garrincha, localizado em Magé, na Baixada Fluminense, está dando mais um passo para fechar, por completo, o ciclo de consumo dentro da escola. Este ano, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a escola pública estadual lançou o projeto Vamos dar um Gás, em que um biodigestor instalado na unidade de ensino será capaz de transformar cerca de 1,5 tonelada de resíduos orgânicos em biogás.
"Nós estamos quase fechando um ciclo com esse projeto. Porque já plantamos, por exemplo, uma beterraba com o composto orgânico que é produzido na escola, que é o solo. Regamos essa beterraba com a água que é de reuso dos ares-condicionados, através de um modelo de irrigação construído em nossa sala de robótica. E aí, essa beterraba, quando chega na cozinha, seus restos são utilizados no biodigestor", explica o diretor-adjunto Sidney Cardoso ao Terra.
O biogás gerado pela decomposição desses rejeitos retornará para a cozinha, já que pode ser utilizado para alimentar os fogões. Segundo Sidney, por dia é possível extrair duas horas de gás através do biodigestor. Ao final de um ano, a expectativa é alcançar a 1,5 tonelada de alimentos citada anteriormente.
Além do biogás, o processo de decomposição da matéria orgânica no biodigestor também possibilita a produção de biofertilizantes que retornarão para a horta da escola, reiniciando o ciclo do consumo sustentável.
Produzir para ser reproduzido
Desde 2022, o Ciep 441 - Mané Garrincha foi transformado em uma Escola de Novas Tecnologias e Oportunidades (E-tec) do Rio de Janeiro. A partir desse ano, o colégio, voltado apenas a alunos do ensino médio, passou a construir um currículo com práticas sustentáveis.
Conheça as práticas de sustentabilidade adotadas no Ciep 441:
- Uso de copos ecológicos;
- Placas de energia solar;
- Reutilização da água dos ares-condicionados;
- Reaproveitamento da água da chuva;
- Substituição das lixeiras por residuários - locais onde os resíduos são depositados para depois retornarem à cadeia produtiva;
- Horta escolar com compostagem;
- Existência de um ecoponto aberto para a comunidade escolar e local, onde a comunidade pode descartar corretamente seus resíduos.
"Com a repercussão dessas práticas, a UFRJ nos procurou para sermos parceiros nesse projeto", afirma Sidney Cardoso. A instalação do biodigestor surge, então, para ampliar tais ações.
O diretor-adjunto acrescenta que a ideia do biodigestor só foi considerada porque viram que ela poderia ser replicada em outras escolas.
"As práticas sempre são pensadas para ser colocadas aqui e serem reproduzidas em outro lugar. Essa é a ideia. Não é para ficar só para a gente", frisa.
Como os alunos participam do projeto?
Sidney Carvalho explica que o biodigestor chegou pronto ao colégio, como parte da parceria com a UFRJ. A participação dos alunos ocorre, justamente, no dia a dia.
Os estudantes do Ciep 441 possuem dois componentes curriculares diferentes das escolas comuns. São eles: Sustentabilidade e Meio Ambiente; e Tecnologia. Nestas aulas, os alunos fazem atividades práticas e teóricas relacionadas às ações sustentáveis adotadas pela escola estadual.
"Então, eles aprendem sobre compostagem e fazem o manejo da compostagem. Eles aprendem sobre horta orgânica, sobre horta escolar, sobre horta urbana e botam a mão na massa. Aprendem sobre reuso em todas as escalas e botam a mão na massa. Sobre reciclagem e botam a mão na massa", explica Carvalho.
O biodigestor surge como mais um dos componentes que serão manejados e estudados pelos adolescentes. "O aluno vai aprender sobre a biodigestão que ocorre dentro dessa câmara e como a produção de gás vai se dar através do processo de química. Ao mesmo tempo, ele vai alimentar também o biodigestor. É um conjunto de ações práticas e teóricas que se enriquecem o currículo escolar", afirma o diretor-adjunto.
Para Catarina Santana, aluna do 2º ano do ensino médio, o projeto sustentável tem potencial para ser levado para fora da sala de aula. "Foi incrível ver o biodigestor de perto. Ele não é importante apenas para a escola, mas também para a sociedade. Eu mesma quero ter um na minha casa, afinal, além de destinar corretamente o lixo orgânico, a gente ainda economiza na compra do gás", diz.
Um outro grupo de alunos, que são os chamados bolsistas de iniciação científica, ficam responsáveis pela apuração dos dados relacionados ao biodigestor e outros projetos na escola. Ou seja, eles irão montar relatórios para responder quanto foi produzido de gás e quanto foi gasto de matéria orgânica, por exemplo.