Conheça o ecólogo que criou tecnologia adotada como padrão pelo governo federal
Renato Paquet é CEO da Polen e o criador de um software de rastreabilidade de resíduos produzidos pelas empresas
Ter lucro e ser sustentável é o desafio que a Polen, empresa de logística reversa de embalagens, mostra que não é tão difícil assim de alcançar. Renato Paquet, ecólogo de formação e CEO da empresa, é o criador dessa tecnologia que se tornou referência no Brasil para lidar com resíduos sólidos.
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A plataforma de rastreabilidade de resíduos, aliás, foi adotada como padrão pelo Ministério do Meio Ambiente há quatro anos e tem impactado positivamente tanto a natureza quanto as indústrias.
"É incrível ver cooperativas que antes ganhavam R$ 400 por mês agora recebendo R$ 2 mil. Isso muda vidas", diz ele, emocionado. "Se eu não gerasse lucro, meu impacto na sociedade seria muito menor. Quanto mais lucro tenho, mais consigo investir, contratar pessoas e aumentar o impacto positivo".
Em entrevista ao Terra, Paquet compartilhou detalhes de sua jornada, desafios e o que o motivou a persistir nesse projeto inovador. Confira!
O início de uma missão
Foi na adolescência que Renato Paquet desenvolveu uma conexão forte com a conservação ambiental. Ele conta que, aos 16 anos, seu sonho era ser chefe de uma unidade de conservação.
Depois de ingressar na faculdade de Ecologia, sua perspectiva começou a se expandir e ele percebeu que, além de atuar em áreas protegidas, poderia influenciar políticas públicas e trabalhar com grandes empresas para reduzir o impacto ambiental.
"Fiquei mais atento às pautas de conservação em nível nacional e comecei a vislumbrar um horizonte maior", explica.
Em meio às mudanças no Código Florestal em 2012, Paquet percebeu que precisava buscar novas formas de atuar no setor, já que depender apenas da legislação não estava sob seu controle. Foi então que decidiu focar na ineficiência das cadeias produtivas e no papel que as indústrias poderiam ter na redução do consumo de recursos ecossistêmicos.
"Comecei a trabalhar para ajudar a indústria a poluir menos e a consumir menos recursos naturais", diz.
A criação de uma plataforma inovadora
Foi na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FEJAM) que Paquet desenvolveu a ideia que o levaria a se tornar referência. Ele criou uma plataforma onde empresas podiam comprar e vender resíduos entre si, promovendo a reutilização de materiais, em vez de destiná-los a aterros sanitários.
"Por exemplo, uma fábrica de canetas pode vender o plástico que sobra para uma empresa que fabrica porta-retratos", explica.
A plataforma inicialmente enfrentou desafios financeiros e institucionais, especialmente durante uma crise econômica que o País sofreu, quando programas como o Pronatec sofreram cortes. Diante desse cenário, ele decidiu seguir seu próprio caminho.
"Eu me demiti e fui tocar o projeto sozinho, sem saber nada de administração. Foi um aprendizado do zero", relembra.
Evolução para o padrão nacional
O ponto de virada ocorreu em 2019, quando uma grande empresa de cosméticos demonstrou interesse pela solução de rastreabilidade de resíduos desenvolvida por Paquet. Eles precisavam garantir que suas embalagens, ao serem recicladas, seguiriam todos os padrões legais e éticos, incluindo a ausência de trabalho infantil ou em condições análogas à escravidão.
"A empresa queria contratar o software para rastrear sua logística reversa, e percebemos que poderíamos expandir o que já fazíamos", comenta.
A partir desse momento, a plataforma começou a se consolidar no mercado. Em 2020, a solução foi reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente e adotada como padrão nacional. O sistema de rastreabilidade, baseado em blockchain, garante a transparência de toda a cadeia de reciclagem, desde a origem até a transformação do resíduo em nova matéria-prima.
Impacto social e ambiental
Além do impacto ambiental, o trabalho de Paquet tem gerado transformação social significativa. Ao melhorar a rastreabilidade e criar um mercado mais justo para a compra e venda de resíduos, ele ajuda a aumentar a renda de cooperativas de reciclagem.
"É incrível ver cooperativas que antes ganhavam R$ 400 por mês agora recebendo R$ 2 mil. Isso muda vidas", diz ele, emocionado.
Ele destaca ainda que seu projeto prova que é possível unir sustentabilidade e lucro, um ponto que muitas empresas ainda questionam.
"Se eu não gerasse lucro, meu impacto na sociedade seria muito menor. Quanto mais lucro tenho, mais consigo investir, contratar pessoas e aumentar o impacto positivo", reflete.
Um compromisso com o futuro
Quando questionado sobre o que o motiva a continuar, Renato Paquet cita o forte senso de responsabilidade social.
"Eu sinto que é minha missão resolver esse problema da sociedade. Se eu posso, por que não fazer? É quase uma obrigação", afirma
Ele vê seu trabalho como contribuição para um futuro mais sustentável e acredita que o compromisso com a sociedade deve guiar as ações de qualquer profissional.