Curiosidade vira loja de pijamas com reuso de tecidos e redução em 70% no uso de plásticos
Priscila Bueno, de 33 anos, teve a ideia da Veste Vegana após um curso de moda em Milão
Os custos elevados de produção e a falta de conscientização são alguns dos desafios enfrentados por quem tenta investir em moda sustentável no Brasil. Priscila Bueno, de 33 anos, é uma das pessoas que entrou nesse mercado ainda em desenvolvimento. Há três anos, a empresária apostou no segmento, abriu a Veste Vegana e hoje colhe os frutos, com um aumento de 400% do faturamento no último ano.
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Criada em berço da moda, filha de pais donos de uma pequena fábrica familiar no ramo, a empreendedora sempre observou e mostrou curiosidade quanto aos impactos causados pela produção. A decisão de iniciar seu próprio negócio, no entanto, surgiu após um curso de moda focado em sustentabilidade, que fez em Milão, na Itália.
Mas se engana quem pensa que sustentabilidade está apenas no meio ambiente. Da escolha da matéria-prima até o treinamento de funcionários, Priscila também pensa no lado social e econômico do que é ser sustentável.
"A minha proposta era criar uma marca que conseguisse ter o máximo possível de sustentabilidade dentro de um ciclo. Quando eu comecei a estudar sustentabilidade, entendi que ela tinha mais de uma vertente. Então, o desafio era criar uma marca que pegasse todas essas vertentes da sustentabilidade", conta a designer de moda ao Terra.
A sustentabilidade na moda
Ao longo do processo de produção de seus pijamas sustentáveis, a Veste Vegana conta com uma série de medidas além da escolha do tecido. Os resíduos que sobram dos cortes, por exemplo, são reutilizados. Diferentemente das etiquetas habituais de papel, as roupas da marca a recebem por uma prensa de calor termocolante.
Também existe um cuidado com a maneira que as roupas são entregues aos clientes. Neste caso, os saquinhos são fabricados em TNT, um material com decomposição 300% mais rápida que embalagens tradicionais.
Entre essas e outras medidas, a escolha do material das peças não poderia ficar de fora. Conforme Priscila explica, todas essas alterações nos processos resultaram em uma redução de 70% no uso de plástico.
"A nossa principal matéria-prima é a viscolycra, um fio extraído da fibra. Pode ser fibra de madeira, pode ser muitas delas. E a gente tem a parceria com um fornecedor que tem um comprometimento de replantagem dessas árvores que são extraídas. Então, para cada árvore que é derrubada, eles plantam duas", detalha a empresária.
Todas as medidas, no entanto, geram um custo maior para a produção. De acordo com Priscila, peças incluídas neste ciclo têm custo 30% maior do que as de produção tradicional.
Mesmo com o olhar sustentável e todo o cuidado na produção, ainda faltava algo para a Veste Vegana emplacar de vez no mercado. Essa virada de chave veio com uma mudança na maneira em que a marca era divulgada.
"Quando a gente começou a fazer uma comunicação mais voltada para esses produtos, eles começaram a levar ali o selinho de sustentabilidade, isso trouxe um impacto, além de uma reestruturação que a gente passou no treinamento de equipe. De processos de vendas, que a gente não tinha. E aí, quando a gente organizou isso, exponenciou as vendas", diz Priscila.
Hoje, a Veste Vegana tem seu público distribuído em 65% para o mercado de atacado, com negociação com outros vendedores do País inteiro, e 35% da comercialização feita diretamente para o consumidor final. Embora a segunda opção tenha margem de lucro maior para a empresa, a primeira faz um trabalho diferenciado: espalha o nome da marca pelo Brasil.
"A gente enxerga o atacado como uma ferramenta de que os nossos produtos cheguem em pessoas que a gente não alcançaria se não tivéssemos esses clientes. Então, a intenção com o atacado é levar os produtos para mais pessoas, mas no futuro o objetivo é ficar com o varejo, porque nele a gente tem uma margem mais saudável para deixar o caixa da empresa mais saudável", conta.
Vegano não é neutro
Outro diferencial da Veste Vegana fica por conta do designer dos pijamas. Diferentemente do pensamento de associar o vegano às cores neutras, Priscila destaca as características de suas estampas.
"A gente vem com uma proposta de trazer um produto sustentável em estampas divertidas, estampas coloridas. Então, assim, eu acho que esse é o grande diferencial. A gente cria uma disruptura quando a gente traz uma proposta além do que as pessoas estão esperando", explica.
Conforme a empreendedora relata, algumas peças esgotam já na pré-venda para o atacado e sequer chegam a ser vendidas no varejo. O sucesso, é claro, é visto nos cofres da marca. Com um investimento inicial de R$ 10 mil, a empresa teve no ano passado um faturamento de R$ 650 mil e agora, com um crescimento de cerca de 400%, espera fechar a temporada com ganho anual de R$ 3 milhões.
Para atender a todos os clientes, a Veste Vegana conta com duas lojas físicas em São Paulo e o e-commerce, além da comercialização em plataformas de atacado. A expectativa é pela abertura de mais um ponto de venda no próximo ano.
O apelo da marca também inspirou a criação de uma campanha após um pedido feito pela cantora Simony, em 2022. Na época em tratamento contra um câncer, a artista entrou em contato com a Veste Vegana em busca de pijamas confortáveis para o período de internação e se motivou com frases na parte interna das roupas.
Após um feedback positivo de Simony, Priscila decidiu levar a ideia além e, neste ano, a cada peça rosa vendida no mês de outubro, dez turbantes serão doados para o Instituto Perola Baynghton.