É mais caro ser uma empresa sustentável? Empresário de sucesso na indústria têxtil prova que não
Hari Hartmann criou a Polo Salvador, que produz diariamente 1.500 camisas polo por dia, com funcionamento pautado na sustentabilidade
Antes mesmo do termo ESG virar moda, Hari Hartmann já colocava em prática o que é proposto pela sigla. Há pouco mais de 20 anos, ele, junto de sua esposa, fundavam o que hoje se tornou a Polo Salvador, que tem uma produção diária de 1.500 camisas por dia e faturamento que chega a R$ 700 mil por mês. Antes disso, porém, a empresa quebrou, e Hari precisou se debruçar nos estudos para montar a estrutura perfeita de negócio. A sustentabilidade, palavra que ele demorou a gostar, já era um norteador fundamental para o sucesso.
“Em 2014, eu quase apanhei aqui quando eu fiz uma revolução. Troquei lâmpadas, a empresa gastou uns R$ 12 mil nessa troca. Depois gerou uma economia de metade do custo de energia que se paga em dois anos, que na época foi um pouco menos. Para você investir em uma coisa, você tem que ter muita confiança de que vai dar certo”, diz Hari, reforçando que ele já tinha certeza daquilo, por ser geólogo de formação e que cultivava a preocupação com o meio-ambiente.
Outra mudança também importante referente ao gasto com energia elétrica refere-se ao uso das placas solares. Na época em que instalou as primeiras, conseguiu uma parceria com o Instituto Ideal e comprou 12 placas. Hoje, são 137. A conta de luz vem zerada, e a empresa paga apenas a taxa mínima à fornecedora de energia.
Com relação à água, Hari também encontrou um jeito sustentável de fazer uso deste recurso que ainda traz benefícios para o bolso. A fábrica da Polo Salvador tem um sistema de captação da água da chuva e dos equipamentos de ar condicionado que geram uma economia de cerca de R$ 8 mil por mês. Ao mostrar as instalações para o Terra, Hari explica que, por dia, são reutilizados 560 litros de água que saem dos ares-condicionados.
Aumentar a cadeia
Hari sabe que é impossível montar um negócio que não produza impacto ambiental. Aliás, não há atividade humana sem impacto. Mas dá, sim, para pensarmos formas de diminuir tais efeitos, ou até mesmo fazer com que eles demorem mais para acontecer. No caso da Polo Salvador, um exemplo dessa prática está na forma como eles lidam com os resíduos.
As sobras de tecidos são transformadas em três coisas: as muito pequenas geram trapos, que podem ser usadas como estopa, um pano de limpeza comum para lavar carros; as sobras um pouco maiores são transformadas em conjuntos infantis; e as maiores viram sacos de dormir, doadas para pessoas em situação de rua. Este ano, foram 180 sacos entregues para entidades.
Hari sabe que poderia até ter algum pequeno lucro com a venda desses resíduos, mas o impacto social seria muito menos relevante. “Ele [o resíduo] ganha um ciclo de vida mais longo. Não é o final de tudo, um dia ele cai em algum lugar. Mas, pelo menos, nós estendemos e ainda geramos benefício social com esse resíduo”, explica o empresário.
Conhecer o negócio
Depois de quebrar lá no início dos anos 2000, Hari notou que precisava conhecer a fundo o negócio em que queria prosperar. Gaúcho morando na Bahia, ele retornou ao sul do País para entender como fazer o melhor tecido. Em Santa Catarina, estabeleceu o seu próprio núcleo têxtil que envia os tecidos para Salvador, onde está a fábrica.
“Como fazer um negócio para que a gente não tropece de novo?”, foi a pergunta feita por Hari enquanto reestruturava a empresa que o fez voltar até o início da linha de produção. Para ele, essa parte, de conhecer minuciosamente o ramo têxtil, foi fundamental para não cometer erros como aconteceram no início. “O sustentável tem três eixos e se a gestão não está em primeiro lugar, não funciona”, resume Hari.
Nos produtos que vende, a Polo Salvador oferece três tipos de camisa, dentre elas, a Ecoline, que é feita por metade de algodão e metade de garrafa Pet. Por ser um pouco mais custosa, ela ainda não é o carro-chefe, mas está ali em segundo lugar dentre as mais vendidas.
No geral, as peças vendidas pela empresa têm um custo similar ou até mais competitivos que o mercado. Para Hari, não tem segredo: seja chamando por "sustentabilidade" ou "ESG", considerar o meio-ambiente na hora de montar um negócio só tem pontos positivos a acrescentar para a empresa - e para o faturamento dela.
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