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 Foto: Pri Nicheli | Arte: Mariana Sartori

'Me sinto completamente solitário', diz Bruno Gissoni sobre ativismo pelo meio ambiente

Ator conta que faz escolhas diárias pensando no futuro do planeta, de carro elétrico a reflorestamento

Imagem: Pri Nicheli | Arte: Mariana Sartori
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"Eu não sei se eu me consideraria um ativista ambiental. Eu acho que é tão grave a situação, que você ser um ativista é quase que uma coisa obrigatória para a nossa existência", diz o ator Bruno Gissoni, em entrevista exclusiva para Planeta.

O ator carioca teve o seu primeiro grande destaque na televisão em 2010, quando foi um dos protagonistas da novela "Malhação" (Globo). Hoje, aos 37, é casado com a atriz Yanna Lavigne, é pai de duas meninas, acumula 7,5 milhões de seguidores no Instagram e se mudou para uma casa em Itamonte (MG), onde tem o projeto de reflorestar a região. Ele é um assíduo defensor do meio ambiente em diferentes esferas de sua vida.

A pauta da sustentabilidade entrou na vida de Gissoni na escola, quando ainda era criança: "Eu lembro de ser bem pequeno e as informações que eu tinha na sala de aula me impactavam muito". Para ele, nunca fez sentido a falta de ação das pessoas em relação a problemas tão graves que ameaçam a nossa existência no planeta.

O pai do ator é biólogo e sempre levava o filho para viajar a destinos integrados à natureza, como Ilha Grande, Angra e Mangaratiba, todas cidades do Rio de Janeiro. Além disso, ele também ia muito a um sítio em Itamonte (MG), que é onde Gissoni vive hoje. "A gente ia quase todo final de semana. Ali eu fui introduzido, ainda muito jovem, a essa vida imersa na natureza. Me identifiquei e falei: 'não sei o que eu vou fazer da vida, mas vou ficar aqui perto'", comenta.

"Me sinto completamente solitário"

Apesar da família ter lhe proporcionado o contato com a natureza na infância, Gissoni conta que, no geral, as pessoas de seu entorno têm "zero consciência ambiental". Ele diz: "sou muito grato por essa semente que meu pai plantou na minha formação, que foi crescendo comigo, mas mesmo sendo essa grande influência, discordamos 100% politicamente, por exemplo".

Eu me sinto completamente solitário. Quando falo sobre esses temas, não só com a minha família, mas também no meu ciclo de amizades, é quase que um 'lá vem o doidão e hiponga falar que a gente não pode cortar uma árvore'. É muito desgastante. Você fica rotulado como o ecochato

- Bruno Gissoni, ator, em entrevista para Planeta

Quando perguntando se se sente falando sozinho, a resposta é categórica: "Total. É diário. Porque você liga a televisão e vê as notícias. É muito desgastante ser consciente hoje. É solidão total, mas tem outros solitários fazendo seu pedacinho também".

Polarização política

"Quando a gente fala de política ambiental, automaticamente estamos tomando um partido político. Hoje em dia, essa é uma pauta de um lado e, do outro, eles acham que isso atrasa o progresso", diz. "Até desmistificar que o progresso não tem absolutamente nada a ver com a floresta derrubada, já foram quatro anos de mandato de alguém do PL". 

Para o ator, existem "muitas coisas" que acontecem no meio de pessoas que defendem a destruição do planeta. "Elas usam fake news, usam religião, usam tudo o que têm ao alcance para destruir a nossa narrativa. Então, a gente tem que, não só ensinar quem está disposto a aprender, mas combater muitas informações", reclama.

Eles buscam poder e a manipulação da verdade [...] e aí a gente vai tendo que debater mentiras em vez de debater ideias progressistas. Eu acho que a função da extrema-direita é atrasar a evolução

- Bruno Gissoni, ator, em entrevista para Planeta

No campo de guerra que se forma na internet, é natural receber hate ao falar sobre proteção ambiental. "Você perde força dentro dessa ferramenta que é a mídia social. Quando você fala sobre proteção ambiental, quem é leigo acha que você está falando contra o agronegócio. É difícil", diz Gissoni, que complementa que o ódio é um sintoma que vem justamente dessa polarização política.

"Eu acho que estamos chegando em um momento tão crucial que daqui a pouquinho, até quem tem muito hate, vai ter que se deparar diante de uma situação que é catastrófica. A gente tem que debater a situação. Ela vai acontecer quando a fome chegar mais forte, quando a água não estiver chegando a todo mundo. Aí pode ser tarde demais". 

Reflorestamento

Quando ganhou o seu primeiro dinheiro, Gissoni conta que comprou propriedades em Itamonte (MG) com o objetivo de começar a reflorestar a região. "É claro que não é todo mundo que pode comprar terra e reflorestar, mas quem pode precisa pensar até na valorização. Você pode comprar um terreno cru de capim, plantar e vender daqui a cinco anos muito mais valorizado", explica.

O ator diz que pôr a mão na massa é também uma forma de curar a sua ansiedade. 

Tudo começou a acontecer no início da pandemia de covid-19, quando ele e a sua esposa decidiram, de fato, se mudar para a zona rural. "Até hoje, já foram mais de cinco mil mudas plantadas", orgulha-se. O seu terreno tem aproximadamente 50 hectares e, aos poucos, foi mudando para melhor. "O meu hobby é comprar muda e entender como é que ela vai ficar daqui a pouco. A minha Disney é o viveiro". 

A gente vê essa transformação. O terreno que eu comprei era um pasto antigamente, então hoje dá para ver uma floresta crescendo, com pássaros voltando, com água muito mais volumosa. Eu vejo com os meus próprios olhos que a gente pode, sim, transformar

- Bruno Gissoni, ator, em entrevista para Planeta

Enquanto assiste às notícias catastróficas de morte de abelhas morrendo por causa do excesso de agrotóxicos, ele vê a sua plantação atraindo esses insetos. Isso traz a esperança de que, convencendo mais gente a fazer o mesmo, é possível reverter a situação atual do mundo: "A questão ambiental é um problema. Se cada um plantar uma muda, só para ver o que acontece, são 200 milhões de mudas no Brasil. Aí começa a ser uma conta gostosa. Já muda o esquema".

A esperança e a ecoansiedade

Gissoni conta que foi criado em uma geração que recebeu a promessa de um futuro próspero, de que a vida seria moderna e fácil. Um grande delírio capitalista. Já as novas gerações são muito diferentes. Ele conta que Madalena, sua filha de seis anos de idade, já é totalmente consciente: "Para eles estão dizendo que o futuro é uma incógnita. Essa criança já vem com essa necessidade de transformação".

Mesmo com as dificuldades, o ator conta que não perde a esperança de melhorar o mundo. O que lhe faz continuar lutando são justamente as suas filhas. "Eu não posso criá-las em um ambiente em que não haja um plano possível", diz. 

"A história da humanidade é muito pulsante. Em certos momentos, a gente vive em uma era muito agressiva. Em outros, você aprende com a agressividade da geração anterior e prospera. Por exemplo, a Segunda Guerra Mundial foi uma tragédia, porém impulsionou muitos setores tecnológicos. Eu tento olhar para a situação que estamos entrando acreditando que a escassez vai criar novos caminhos".

Foto: Arquivo pessoal | Arte: Mariana Sartori

Tomado pela ecoansiedade, o ator, que tem um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), já pensa se deveria vender, já que, em cerca de 15 anos, a projeção é a de que o mar invada o local. "Existem as calotas polares que estão derretendo. É uma questão de tempo. A não ser que surja um Einstein e invente uma forma de controlar o tempo", comenta.

"Quando você vê que a extrema-direita avançou, você vê que as pessoas que estão entrando no poder estão completamente distantes dessa ideia. Então, a ecoansiedade bate forte", diz o ator.

Para ele, a individualidade não tem como resistir à força da natureza e a gente só vai sobreviver enquanto espécie trabalhando em comunhão, em grupos, em comunidade e em sociedade: "A espécie humana aprende muito com os erros".

Pequenas grandes mudanças

Para o ator, quem já entendeu sobre o problema e quer fazer alguma diferença para construir um futuro melhor, precisa ter a consciência de que sempre será necessário fazer a escolha certa, mesmo quando ninguém está vendo. 

Essa consciência falante que se comunica comigo diariamente me guia em todas as direções que tomo

Bruno Gissoni, ator, em entrevista para Planeta

Ele, inclusive, comenta que às vezes passa em frente a uma hamburgueria e pensa: "Minha vida era mais gostosa quando eu comia carne". Mas que não é sobre isso, tudo tem um preço. "Quantas árvores não foram destruídas, quantos animais não morreram para eu matar a minha fome por um período curto", reforça.

Entre todas as mudanças que fez em sua vida, se destacam: 

  • Trocar de carro para um elétrico. "Custa caro, mas eu tô com a consciência um pouquinho mais tranquila", diz;
  • Não comer carne, já que a pecuária é uma grande responsável pelo desmatamento, pelas emissões de gases do efeito estufa e pela poluição do solo e da água;
  • Tomar decisões econômicas de acordo com a moral do produto ou da empresa que o está vendendo: "Eu tenho uma lista de empresas que não compro mais";
  • O reflorestamento.

Industrialização

Finalizando a entrevista, Gissoni reflete que é preciso transformar o sistema em que vivemos para uma forma sustentável de produzir: "Se a indústria se conscientizasse, se o agronegócio se conscientizasse, se o comércio se conscientizasse, acabou, o problema estaria resolvido. Só que custa mais caro. Então, em um sistema capitalista, é o dinheiro que vai ditar. Enquanto não for lucrativo o reflorestamento, o sistema orgânico de produção de alimentos, o carro elétrico, a gente vai estar batendo em pedra mesmo".

"O desmatamento é alimentado por um grande processo capitalista. Não é possível que a gente não possa reinventar isso, fazer com que seja lucrativo produzindo coisas boas", reflete.

Foto: Hugo Barbieri e arquivo pessoal | Arte: Mariana Sartori
Fonte: Redação Planeta
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