No Japão, casas abandonadas são reformadas para desenvolver turismo regenerativo
Alexandre Disaro, fotógrafo, conta sua experiência numa “akyia”, casa abandonada, em cidade do interior da província de Fukui
O fotógrafo Alexandre Disaro já esteve em 60 países e, durante as suas viagens, se propõe ao que é conhecido como “turismo regenerativo”. Neste ano, ele esteve no Japão e ficou hospedado em antigas casas reformadas, que, para além da preocupação sustentável e do equilíbrio econômico, oferecem ao turista uma oportunidade mais real de inclusão cultural. No vídeo acima, Disaro explica mais sobre esse tipo de viagem.
Turismo regenerativo, conta Disaro, “são iniciativas que buscam fazer diferente do que sempre foi feito, que têm responsabilidade em integrar e não só colocar o serviço à disposição numa lógica extrativista”.
O Japão sofre em várias regiões um declínio populacional intenso, sobretudo por causa do envelhecimento da população e da baixa taxa de natalidade, sendo possível ver casas vazias e abandonadas por todo o país, as chamadas “akyia”. Disaro visitou a cidade de Kamogawa-Juku, na província de Fukui, e ficou hospedado em uma dessas casas, que foi reformada seguindo a tradição cultural, os saberes ancestrais e a mão de obra local.
“A casa já está lá. Eles aproveitam a estrutura e fazem reformas com técnicas tradicionais. A tradição não está em replicar algo como era, não é algo imutável, mas aquilo que se transformou. É uma maneira muito mais sustentável de trabalhar do que em outros lugares do mundo, por exemplo, em que se reforma a casa e se compra produtos de grandes lojas, que têm produção em massa e uma logística baseada na importação de materiais. O Japão tem uma preocupação em ser muito mais local, mais próximo”, detalha.
Em sua opinião, a experiência é muito mais próxima da realidade cultural do que aquela que se tem no turismo tradicional. “Somos convidados a experienciar o local a partir da visão dos japoneses, a vivenciar um Japão que se transformou ao longo do tempo. Não necessariamente tem alguém na sua casa cozinhando, mas eles proporcionam as coisas para que você possa cozinhar, sair para caminhar e conhecer a produção de alguns insumos”.
Nem sempre é possível praticar um turismo sustentável como o Japão oferece, pois isso depende muito da recepção do país a essa iniciativa. No entanto, Disaro lembra que o nosso olhar e a nossa atitude podem agir também como células regenerativas, causando impacto positivo nas relações locais.
Ele conta que, na Islândia, chegou a viver uma experiência parecida: “Eu queria comprar um casaco e foi possível ir à fazenda onde se tosqueia a lã, que depois vai para uma cooperativa onde é tramada. Um lugar que te possibilita fazer isso já tem uma preocupação muito grande pelo processo e não só pelo produto”.
Dê o play no vídeo acima para conferir a entrevista.