O que acontece quando você joga fora um celular? Saiba como é feita a reciclagem de eletrônicos

Você já imaginou o que acontece com um celular antigo que é descartado como lixo? É comum que pessoas ainda tenham guardado em casa um celular "tijolão" da década de 2000, ou até um telefone com fio, uma impressora que já não funciona mais ou, quem sabe, uma geladeira parada. Tudo isso, na verdade, pode ser considerado lixo eletrônico.

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No Brasil, grande parte do lixo eletrônico é reciclado por iniciativas apoiadas pela Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE). A entidade sem fins lucrativos foca na promoção da economia circular, com a definição e organização do gerenciamento da implementação do sistema coletivo de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

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Grandes empresas do ramo são associadas à entidade e estimulam que os produtos vendidos sejam reciclados da forma correta no futuro, depois de usados. No entanto, ainda falta conscientização para que esses materiais sejam descartados da forma correta, nos pontos de coleta localizados em lojas.

Outra cobrança do setor é que o varejo se responsabilize mais pelo que é feito com o material eletrônico ao fim de sua vida útil – que é cada vez menor, com o avanço da tecnologia.

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O que é lixo eletrônico?

Lixo eletrônico é tudo aquilo que é eletrônico e chegou ao fim de sua vida útil, devendo ser descartado. O engenheiro Marcelo Souza é mais didático:

"Qual é a diferença entre um carrinho de controle remoto e um carro elétrico? O tamanho. Os dois são lixo eletrônico. São equipamentos que nos atendem no dia a dia e estão ligados na tomada para funcionar. Ou se tem necessidade de carregar a bateria, é um lixo eletrônico", diz.

O descarte inadequado do lixo eletrônico pode causar danos ao meio ambiente e à saúde humana, pois esses dispositivos contêm materiais tóxicos, como metais pesados e substâncias químicas complexas. Para minimizar o impacto, é importante descartá-lo de forma correta.

Existem categorias para classificar esse tipo de resíduo na hora da reciclagem:

• Linha verde: Celulares, impressoras, notebooks, tablets, mouses, teclados, computadores de mesa, carregadores, fones de ouvido, pilhas e baterias;
• Linha marrom: TVs, equipamentos de DVD/VHS, aparelhos de som;
• Linha azul: Eletrodomésticos portáteis em geral, como batedeiras, ferros de passar, liquidificadores e secadores de cabelo;
• Linha branca: Eletrodomésticos de grande porte, como geladeira e fogão. 

A forma correta de descarte é procurar um posto de coleta, normalmente associado à ABREE, presente em lojas, supermercados, farmácias e outros tipos de comércio. A associação cuida da logística para que o lixo eletrônico chegue às fábricas responsáveis por desmontar as partes e fazer a reciclagem, para que o material seja reaproveitado.

Como é feita a reciclagem de eletrônicos?

Um dos locais parceiros da ABREE que faz a reciclagem de eletrônicos é a Indústria FOX, em Cabreúva, no interior de São Paulo. A empresa nasceu em 2009 com o objetivo principal de reciclar aparelhos de refrigeração e eliminar o risco de emissão de gases como o CFC, causador do efeito estufa, que está presente nestes eletrodomésticos. Com o passar do tempo, a empresa cresceu e hoje a operação também realiza a reciclagem de outros tipos de eletroeletrônicos.

Marcelo Souza, engenheiro diretor da indústria FOX, recicladora de eletrônicos em Cabreúva (SP), afirma que, neste ano, 35 mil toneladas de material de todas as linhas foram para reciclagem na empresa.

"Disso, 97% volta para a cadeia, e 3% é disposição final, geralmente relacionada ao design de produto. Os produtos não foram pensados para reciclagem", diz. 

Ele explica que o trabalho realizado na Indústria FOX é pioneiro no Brasil, e atualmente recebe lixo eletrônico de várias partes do Brasil para a reciclagem.

"O que nós estamos fazendo é abrir clareira com facão. Até 2030, empresas que não olharem para a economia circular, vão quebrar, porque todas as empresas têm problemas de mão de obra, cadeia secundária e matéria-prima. O lixo eletrônico é uma excelente mineração urbana, e o que nós fazemos aqui é criar uma estrutura para a mineração urbana", acreescenta.

Os materiais que vão para a reciclagem ficam em um grande pátio ao redor da fábrica, e, como em uma linha de produção, cada item é colocado em uma esteira, os materiais são separados manualmente - metal, plástico, gás, entre outros -, e seguem para uma espécie de moinho industrial, capaz de deixar qualquer material em pedacinhos. Essas partículas viram grãos, que são vendidos de volta para a indústria, e se tornam novos produtos.

O maquinário foi importado inicialmente, mas, por ser de alto custo, a empresa passou a fazer os próprios mecanismos. A maior parte das máquinas da fábrica foram feitas ali mesmo.

Alguns tipos de eletrônicos, porém, não entram na Indústria FOX. É o caso do toner de impressoras, que, por possuir partículas de poeira muito fina, pode causar um grande risco para a saúde. Caso materiais como este cheguem à FOX, eles são encaminhados para outros recicladores especializados.

Já os gases poluentes, que são usados em geladeiras, também são reciclados na FOX. O gás CFC, presente no compressor das geladeiras, é transformado em uma espuma por um processo químico, e esse material é vendido para ser reaproveitado na indústria.

"Eu tenho defendido que 'o que que é um equipamento de elétrica e eletrônica?' É a tabela periódica. Tem de tudo aqui, por isso que a gente chama de mineração urbana", diz Souza.

Metas de reciclagem

No Brasil, a meta de logística reversa de eletrônicos para o próximo ano é de 17%, o que é considerado um número muito alto. Em países da Europa, atualmente, a meta chega a 65%. Isso significa que 17% de todo o lixo eletrônico produzido no Brasil precisa ser reciclado no ano.

A Indústria FOX atualmente opera em capacidade máxima, mas tem planos de expansão para o ano que vem. A ideia é mudar a operação para um novo local com estrutura maior, capaz de reciclar mais que o dobro do que faz atualmente. Além disso, há planos para abrir uma nova unidade no Nordeste.

As empresas associadas à ABREE custeiam a operação da logística reversa, no entanto, a associação cobra a participação dos fabricantes e importadores que estão fora do sistema de logística reversa, uma atuação mais presente.

"É algo que a gente vem cobrando. Se tivesse mais empresas dentro do sistema, seria mais barato para todos. Temos poucas empresas fazendo o custeio de toda a logística reversa", diz Helen Brito, relações institucionais da ABREE.

Segundo a associação, em 2023, a ABREE reciclou mais de 40 mil toneladas de resíduos eletroeletrônicos e eletrodomésticos. O tipo mais reciclado foi de linha branca.

No site da ABREE, é possível encontrar os pontos de recebimento mais próximos, basta acessar e informar seu CEP. Além disso, é possível encontrar uma lista extensa de quais produtos podem ser descartados.

*A repórter visitou a sede da Indústria FOX em Cabreúva a convite da Abree.