"Precisamos parar de criticar e fazer", diz Daniel Cady sobre questões ambientais
Nutricionista e marido de Ivete Sangalo, Daniel Cady atua em diferentes projetos relacionados a ecologia
Daniel Cady é casado com a cantora Ivete Sangalo e o grande público pode conhecer o seu nome por causa de sua família, mas quem o acompanha pelas redes sociais sabe que ele, além de ser nutricionista a favor da "comida de verdade", também tem um importante trabalho pela defesa do meio ambiente.
"A minha relação com a natureza vem desde criança. Meu avô velejava. Então, ou ele estava no mar ou em algum lugar no meio do mato. A gente tem uma fazenda no interior da Bahia e ele gostava muito de ir para lá. Há uns 40 anos, começou também a criar abelhas", conta Daniel Cady, em entrevista exclusiva a Planeta, ao contextualizar sobre as origens de sua paixão pela natureza.
Cady conta que, apesar de ter crescido com o exemplo e com a consciência ambiental na família, tudo mudou quando ele e Ivete tiveram seu primeiro filho, Marcelo, hoje com 14 anos. "Eu pensei 'para onde vou levar meus filhos? Para o shopping, só para consumir e gastar dinheiro?'", relembra.
"O contato com a natureza foi bom para mim e comecei a entender que também era importante para o crescimento das crianças", diz. O nutricionista conta que a pandemia de covid-19 foi "uma catalisadora absurda para ter essa percepção ainda maior". Foi nesse momento que ele, então, passou a estudar autores que falam sobre essa importância.
"A pandemia pegou a gente naquela vida de apartamento. No início tinha aquele clima ansioso, pesado. Foi quando decidimos ir para a nossa casa na Praia do Forte, no litoral norte da Bahia", conta Cady, ao explicar que o espaço da família é rodeado por natureza. "Eu tinha um quintal para explorar e passei a perceber coisas que antes não via. Como antes a gente só ia para passar o final de semana, não sabíamos sobre os vários bichos que viviam ali: capivara, mico, sucuri, caninana, jibóia, tucano, sariguê, muita coisa".
Morando mais próximo da natureza, Cady passou, então, a desfazer o paisagismo do terreno para plantar um canteiro agroflorestal. Seu interesse pelo assunto foi crescendo e o nutricionista começou a fazer cursos sobre o assunto pela internet até chegar em um sobre criação de abelhas sem ferrão. "Foi aí que eu criei um meliponário com abelhas nativas brasileiras. Eu endoidei, pirei e comecei a me relacionar muito com elas".
"O ser humano adoece a medida que se afasta da natureza"
"Eu já falava sobre alimentação saudável, mas senti necessidade de desdobrar para o sentido mais amplo da saúde integral, que começa no solo", fala Cady, ao contextualizar que um solo fértil produzirá alimentos mais sadios e nutritivos.
Se antes o nutricionista já inspirava as pessoas a comerem bem, agora também traz a atenção para que passem a questionar a procedência da comida que colocam na mesa. "Comecei a incentivar minhas alunas a terem uma hortinha em casa, uma farmacinha em vaso".
"Passei por um amadurecimento e isso ficou muito ligado ao meu propósito. Hoje tenho plena certeza de que esse é o caminho", reflete ao lembrar de uma frase que costuma dizer em suas palestras: "o ser humano adoece à medida que se afasta da natureza".
Cady comenta entusiasmado sobre as evidências científicas que mostram como a nossa saúde mental e física muda quando nos afastamos ou nos aproximamos da natureza. "Não acho que exista outro caminho".
Juntando tudo o que aprendeu nos últimos anos, o nutricionista está realizando o sonho de produzir quase tudo o que consome. "Toda parte de hortifruti, frutas… Até comecei a criar galinha para poder comer ovos orgânicos".
Relação com a família
Desde que houve essa mudança de perspectiva, as programações em família de Cady, Ivete e seus três filhos, são sempre no mato ou no mar. "Eu nem sei mais a última vez que fui ao shopping. Não sinto a necessidade de ir. É um estilo de vida. Esse assunto começou a me trazer uma percepção maior de como a gente consome as coisas", diz.
Ele conta que a família está toda alinhada. A cantora compartilha da mesma visão e as crianças amam esse estilo de vida. "Elas também só vão ao shopping para ir ao cinema. Meu filho adora mergulhar comigo, pescar. A gente explora o mar e a terra", conta.
Cady destaca que o casal, inclusive, já fez uma trilha de cinco dias pelo Vale do Pati, na Chapada Diamantina (BA), considerada uma das mais bonitas do mundo e reflete se esse gosto pela conexão com a natureza também não é um reflexo sobre a falta de privacidade que vivem no dia a dia.
Mil e um projetos
São tantos projetos relacionados à ecologia, que Cady tem até dificuldade de se lembrar de todos ao longo da entrevista. "Todo o meu trabalho, os meus negócios, o meu hobby, tudo o que eu faço é relacionado à natureza", diz.
O nutricionista comprou um terreno para poder montar uma agrofloresta, que já está em seu terceiro ano e rendendo frutos. Ele também é muito entusiasmado com os seus projetos de meliponários, que são a criação de abelhas sem ferrão: "tenho um espaço na Praia do Forte que é um espaço de cura, de alfabetização ecológica, onde as crianças e os turistas podem conhecer as abelhas". Além disso, participa de uma startup, chamada Bee2Be, que trabalha com soluções ambientais para restauração de biomas por meio das abelhas, com polinização.
"Eu também criei uma marca de moda sustentável que, a cada peça de roupa vendida, uma árvore é plantada", explica. A empresa se chama Muri, também tem três anos de existência e já plantou 20 mil mudas de árvores.
O nutricionista conta que quando começou a marca, percebeu que não daria conta de plantar tudo sozinho. Foi quando chegou até a ONG SOS Mata Atlântica. "Peguei um avião e fui até Itu (SP) fazer o plantio das primeiras camisetas que vendemos". Hoje, os plantios são realizados com diversos parceiros. "Temos até na caatinga, no sudoeste baiano. Temos também no litoral norte, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul", comenta ao dizer que o seu desejo é o de que a marca venda mais para que alcancem a meta de um milhão de árvores plantadas.
E lembra quando, em 2020, houve um grande derramamento de óleo no litoral brasileiro? Cady fez parte um grupo chamado Guardiões do Litoral, que passava pelas praias fazendo as denúncias. "Foi uma coisa que me influenciou muito. A gente recebeu até medalha da marinha", lembra.
A gente precisa parar de criticar e fazer. Acho importante a gente se conectar, ser uma rede
Escola pensada para os filhos
Um de seus projetos mais recentes vem de um sonho de Ivete: uma escola. O espaço está entrando em seu segundo ano com cerca de 100 alunos.
"Foi o que criamos pensando nos nossos filhos. Não vai dar dinheiro, mas pensamos 'qual é a escola que a gente queria para os nossos filhos?'", conta. Segundo Cady, o espaço também é fruto dessa consciência ambiental que aflorou em sua família nos últimos anos.
É um conceito de "green school", com bastante área verde, muitas árvores frutíferas e espaço externo para as crianças explorarem. "Para trocarem a aula dentro da sala pela aula embaixo de uma árvore", comenta ao se referir que a escola tem um mix de diferentes correntes e não foca apenas em conteúdo.
Lá também há um enfoque na educação nutricional, com um cardápio montado pelo próprio. "Não tem vendinha vendendo salgadinho, vendendo bala", destaca.
"Agora mesmo teve a festinha de Páscoa e o que eu mais percebi foram as crianças chorando porque não queriam ir embora. Muitas saem de lá e voltam para a realidade delas em apartamento", diz Cady lembrando que, atualmente, a maioria das atividades infantis disponíveis acontecem em espaços fechados, seja na aula, na natação ou no judô. "Minhas filhas, aos sábados e domingos, às vezes acordam querendo ir pra escola", finaliza.