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Pimp My Carroça  Foto: Divulgação | Arte: Eric Fiori

Projeto quer que catadores sejam valorizados: ‘Os responsáveis pela reciclagem'

O Pimp My Carroça reforma carroças e atua para que catadores de resíduos tenham mais qualidade de vida e sejam respeitados

Imagem: Divulgação | Arte: Eric Fiori
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2 fev 2024 - 04h00

Tudo começou em 2007, quando Mundano, um artivista (artista + ativista), começou a grafitar carroças de catadores de recicláveis da região de onde morava. Aos poucos, o projeto foi tomando corpo. Ele passou a convidar outros amigos grafiteiros para fazer mais carroças e, em junho de 2012, promoveu uma arrecadação de fundos para criar o primeiro evento.

Foi nessa ação, no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo (SP), que nasceu o Pimp My Carroça. Foram 50 catadores atendidos, que tiveram suas carroças reformadas e grafitadas, e receberam atendimento de saúde e bem-estar. “Sempre tivemos esse chamariz pela arte. Continuamos o nosso trabalho e também criamos novos projetos e iniciativas voltados para o universo da catação”, explica Letícia Tavares, diretora-executiva da organização.

Por quê?

Muita gente pode não entender bem a razão do Pimp My Carroça existir. Pode achar que é “apenas” para estampar arte por aí. Pode achar que é “só” um projeto social. A verdade é que o impacto das ações atinge diversas camadas.

Os catadores fazem mais pela reciclagem do que as próprias prefeituras. Cada brasileiro produz cerca de 343 quilos de resíduos por ano, mas apenas 4% é reciclado, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Dessa pequena parcela que é encaminhada para reciclagem, 90% passa pelas mãos dos catadores.

Pimp My Carroça
Pimp My Carroça
Foto: Divulgação | Arte: Eric Fiori

“Algumas cooperativas fazem coletas ou têm parcerias com a prefeitura, mas, muito do que chega para elas é rejeito. É quando o reciclável vem misturado ou sujo e não é possível aproveitá-lo”, diz Letícia ao explicar que os catadores que estão nas ruas já selecionam o material para vender tudo separado e, por isso, conseguem uma taxa de reciclagem mais efetiva. 

Um dos itens mais valorizados é a latinha. Seu preço de venda é muito superior ao dos outros materiais e isso faz com que o Brasil recicle praticamente 100% do alumínio. Graças aos catadores. 

Visibilidade e valorização

Apesar de serem os grandes agentes ambientais das cidades, esses trabalhadores sofrem com desvalorização, invisibilidade e preconceito. 

Um dos projetos da organização é o aplicativo Cataki, que conecta os catadores a pessoas que desejam ter seus resíduos coletados e aproveitados.  A plataforma, lançada em 2017, é gratuita, mas é orientado que os solicitantes do serviço paguem por ele. “O catador se desloca até a casa da pessoa. O valor do resíduo é muito baixo, então é importante que a gente valorize esse trabalho”, conta Letícia. 

Uma pesquisa feita em 2022 com os cadastrados no aplicativo revela que 67% foram vítimas de preconceito por serem catadores, 63% apontaram terem sido vigiados de perto por seguranças e mais de 20% já tiveram sua carroça, principal instrumento de trabalho, apreendida pela prefeitura.

“Na maioria das vezes, eles são vistos como um incômodo no trânsito e, por outro lado, são agentes ambientais invisíveis”, diz a diretora-executiva. A reforma e a pintura das carroças faz com que os profissionais sejam vistos de outra forma. Com o elemento da arte, as pessoas passam achar tudo mais legal. “Tem gente que até pede pra tirar foto”, explica Letícia. 

Melhores condições de trabalho

É importante lembrar que mesmo na rua o dia todo, o valor recebido pelos materiais é muito aquém do trabalho realizado. “Por isso, uma remuneração justa é a nossa principal pauta hoje”, diz a diretora-executiva. 

Pimp My Carroça
Pimp My Carroça
Foto: Divulgação | Arte: Eric Fiori

Além de trazer visibilidade pela arte e bem-estar, por meio das reformas dos carrinhos, dos equipamentos de proteção distribuídos e dos atendimentos médicos, a ONG também contribui para a formação dos catadores, o que amplia o acesso para trabalhar na gestão de resíduos de grandes eventos, por exemplo. Com isso, muitos puderam se profissionalizar, abrir empresa e realizar parcerias emitindo nota fiscal. Trabalhar dessa forma, muitas vezes garante o pagamento da diária do trabalhador, para além do que eles recebem com a venda dos materiais.

Atualmente, as carroças carregam cerca de 300 kg de resíduos. Para que consigam acumular mais material com menos esforço físico, o projeto também está testando oferecer carroças elétricas e triciclos.  

“Nós também estamos cada vez mais presentes em ações relacionadas à política. Estamos estudando as legislações para entender o que beneficia ou não os catadores”, fala Letícia, ao lembrar que algumas prefeituras proíbem que os trabalhadores realizem coletas. 

A diretora-executiva explica que o Pimp My Carroça já atendeu mais de 10 mil catadores e mais de 40 cooperativas, que já receberam trabalho de arte, cultura e bem-estar. Dentro do Cataki, foram mais de 180 toneladas de resíduos recicláveis coletados o e 57% dos profissionais teve aumento de sua renda depois de entrarem para o aplicativo.

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Fonte: Redação Planeta
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