'Tinder da Reciclagem': aplicativo conecta catadores a quem deseja se desfazer de resíduos
Aplicativo fundado em 2017 pela organização Pimp My Carroça conta com 5 mil catadores e está em mais de 2 mil cidades brasileiras
O brasileiro produz, em média, cerca de 400 kg de resíduos anualmente. Para muitos, a reciclagem e separação de materiais reutilizáveis de outros tipos de resíduos ainda não é uma realidade. Em contrapartida, o País tem aproximadamente 800 mil trabalhadores da coleta de material reciclável. É nesse contexto em que se insere o Cataki, aplicativo social desenvolvido para aproximar catadores, geradores e governos.
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Os catadores, inclusive, são responsáveis por 90% de todo o material reciclável no Brasil, de acordo com dados da plataforma, desenvolvida pela organização sem fins lucrativos Pimp My Carroça, sediada em São Paulo.
A relação entre os trabalhadores e os geradores -- como são chamados todos que produzem resíduos --, apesar de essencial à sociedade e ao meio ambiente, ainda é de invisibilidade, afirmam os catadores.
Assim surgiu o Cataki, em 2017, descrito como uma 'solução desenvolvida para resolver problemas sociais de maneira eficaz, sustentável e replicável'. A proposta é conectar, de maneira direta e prática para ambas as partes, os geradores de catadores próximos, em sua região.
De lá pra cá, sete anos após a inauguração do serviço, o Cataki, conhecido como 'Tinder da Reciclagem', expandiu sua premissa e passou a ser um 'hub' não só de negociação, mas também de aprendizagem, com informações e dicas para que o público em geral possa aprender a reciclar os principais materiais disponíveis no mercado.
E a utilização do serviço é simples. Com aplicativo gratuito disponível nas lojas virtuais Google Play e Apple Store, basta que o usuário baixe o programa em qualquer dispositivo e, a partir dali, entre em contato com catadores próximos a sua região.
Não há interferência da plataforma, de modo que a programação da coleta de resíduos e o valor pago pelo trabalho são combinados diretamente entre os trabalhadores e geradores.
Para os catadores, é possível usar a plataforma para controlar o volume e tipo de material coletado e vendido posteriormente, bem como a quantia arrecadada, projetando uma renda mensal, explica a coordenadora Patricia Rosa.
"Há, também, a entrada de novos 'atores'. Não só os geradores comuns, mas geradores de espaços de comércio, serviços, indústrias que também podem se cadastrar. Acabou se tornando um ecossistema, onde todos conseguem participar", afirma Patricia.
Parcerias por melhorias
Atualmente, o Cataki conta com 5 mil catadores ativos na plataforma, além de 48 mil geradores de resíduos, 142 cooperativas e 3 mil compradores de material reciclável espalhados por mais de 2 mil cidades do Brasil, em uma iniciativa sem custos a qualquer um dos usuários.
Patricia destaca que, por ser uma organização sem fins lucrativos, a Pimp My Carroça conta com apoio de parceiros institucionais para manter o aplicativo. As parcerias, inclusive, expandiram o propósito do projeto, que também foi adotado por governos.
Um exemplo é o CataFolia, ação de coleta de recicláveis nos blocos de carnaval de São Paulo em 2023. Através de parceria com uma patrocinadora de blocos, o Cataki contratou dezenas de catadoras e catadores para trabalharem no maior evento de rua da cidade e gerarem renda. Eles receberam pelo serviço ambiental prestado e pela venda dos materiais.
"Nas nossas ações, então, ao longo desses anos, a gente teve apoio financeiro de alguns parceiros para ajudar tanto no desenvolvimento, na melhoria do aplicativo e também para ele ser utilizado como ferramenta dentro de projetos. É assim que se mantém. A gente tem um grupo da área de tecnologia, uma parceria também com uma empresa de tecnologia externa, e trabalhamos com esse apoio institucional", explica a coordenadora.
Trabalhadores invisibilizados
A catadora Laura da Cruz, natural de Belém do Pará, trabalha há dez anos com a coleta de material reciclável e há três participa dos projetos da Pimp My Carroça, que fica na rua Gustav Willi Borghoff, 378, no Parque Industrial Tomas Edson, em São Paulo. Lá, ela passou a ajudar a conectar outros catadores e se tornou uma influenciadora da plataforma.
"Através do aplicativo, nos chamam pra fazer a coleta e as pessoas pagam o catador, porque o certo é pagar para retirar o material, e isso é feito através do aplicativo", afirma.
Laura destaca que, desde que passou a atuar com o Cataki, ganhou visibilidade enquanto catadora.
"O catador é invisível. E tem catadores como nós que não tem um lugar como o Cataki ou o Pimp que nos identifique, e nós não somos reconhecidos. Através do aplicativo, a gente tem dignidade", destaca. "Vamos supor que você vai chamar alguém para coletar um material na sua casa, você não vai por qualquer pessoa lá. Agora, com uma camiseta por exemplo, você sabe que ela está apta para fazer aquele serviço".