Chega de tabu: uma calcinha menstrual pode substituir até 400 absorventes descartáveis ao ano
Pantys, em expansão no brasil e no exterior, já evitou que 234 milhões de absorventes fossem parar em lixões
A menstruação ainda é tabu no Brasil - assim como no resto do mundo. Mas, para quem dá um passo à frente da questão e busca olhar com mais cuidado para o seu ciclo menstrual, as calcinhas absorventes têm brilhado aos olhos como uma peça que promove autoconhecimento e sustentabilidade. No País, a marca pioneira no setor é a Pantys, que em seis anos no mercado evitou que 234 milhões de absorventes descartáveis fossem parar em lixões.
Ao Terra, Emily Ewell, cofundadora da Pantys, explica que um absorvente comum demora cerca de 500 anos para se decompor, não podendo ser reciclado após o uso. Em outra perspectiva, uma calcinha menstrual dura em média 100 lavagens e pode reduzir o uso de até 400 destes absorventes descartáveis ao ano - o que equivale a cerca de R$ 400 reais e muito lixo.
As calcinhas, de diversos modelos e tamanho, são vendidas a partir de R$ 70. As peças também são clinicamente testadas e aprovadas, regulamentadas pela Anvisa. Vendo por esse lado, o caminho parece óbvio: se é mais confortável, mais econômico e mais sustentável, porque usar um produto descartável?
Parte das brasileiras que pensam dessa forma esgotaram o produto nas primeiras semanas de lançamento, lá em 2016. Mas, para muitas outras pessoas, existe o sentimento de nojo em torno do sangue menstrual e, também, dúvidas sobre a eficácia da calcinha.
“Nosso produto mata bactérias, mata cheiros e é até mais funcional do que o absorvente descartável no quesito de higiene. Mas, ainda temos essa barreira [do tabu], que combater que o fluxo não é nojento, que o sangue menstrual não tem bactérias e que o cheiro que se dá, por exemplo, é despertado por causa das químicas do absorvente comum”, diz Emily, que é engenheira química de formação.
Sendo assim, na prática, ela diz ser comum que as pessoas com esse pensamento só tomem coragem de comprar uma unidade da peça para testar depois de terem amigas que provaram e falaram que a calcinha menstrual “mudou a vida delas”.
Mas, isso não é exclusivo das brasileiras. “Menstruação é tabu no mundo todo e todo mundo acha que é menos tabu no outro lugar”, conta Emily, com base em suas experiências internacionais de trabalho na área. Onde ela aponta haver maior diferença é na Europa, por conta dos consumidores darem uma atenção maior ao lado da sustentabilidade.
“É preciso naturalizar a menstruação. Todos nós estamos aqui por causa do ciclo menstrual. Então, não deveria ser tabu, né? A metade da população vai menstruar em algum momento da vida”, afirma Emily, cofundadora da Pantys.
Mudança de cultura
Emily é norte-americana e criou a Pantys com Duda Camargo, sua sócia brasileira. Na época, explica, já existiam outras calcinhas absorventes fora do Brasil, mas todas com foco em evitar vazamentos, não com o intuito de substituir os absorventes convencionais. Isso porque nos Estados Unidos, por exemplo, a maior parte do mercado é voltado para absorventes internos. Então a calcinha absorvente vem como um complemento.
Mas, no Brasil, 90% do mercado usa absorventes externos, que geram mais lixo. Só no País são 15 bilhões de absorventes descartados todos os anos.
- Conta que assusta
- Segundo cálculos da Pantys, durante toda a vida uma pessoa que menstrua tem cerca de 450 ciclos menstruais. Isso corresponde a cerca de 12 mil absorventes descartados, que resultam em 180 quilos de lixo. Isso por pessoa. Para entender o impacto, basta pensar na população global.
A sacada da Pantys, então, foi criar um produto muito absorvente, que parece uma calcinha normal, gera menos impacto ambiental e, também, melhora a relação da mulher com seu ciclo menstrual - proporcionando mais conforto durante esses momentos.
Para entenderem esse mercado e lançarem algo que inspirasse as pessoas a fazerem mudanças em suas vidas - fugindo do tradicional absorvente de farmácia -, a dupla assume ter investido em torno de R$ 300 mil para pesquisa e produção inicial. O dinheiro veio do bolso delas, mas foi recompensado nos primeiros oito meses de lançamento da empresa, quando ela alcançou seu ‘ponto de equilíbrio’ e começou a lucrar.
“Mudar o comportamento do consumidor é uma coisa muito difícil. Mas, como o lançamento foi muito forte, a gente vendeu todo o nosso estoque em três semanas e depois começamos com outras inovações. Agora temos várias linhas e seguimos em expansão no mercado global”, diz Emily.
Até hoje a Pantys não conta com investimentos externos e consegue reinvestir 100% do lucro no crescimento do negócio. Nesse cenário, veja mais sobre as frentes da marca:
• A loja nasceu online e, com seis anos de trajetória, segue com o digital sendo a base da empresa;
• Em São Paulo, há uma loja física na rua Oscar Freire e outra no shopping Morumbi. A expectativa é que sejam abertas em breve mais novas lojas físicas no Estado;
• Na busca pela democratização do acesso às calcinhas menstruais, a marca fez parcerias para lançar um modelo mais básico, mas com a mesma tecnologia, para ser vendido em preços mais acessíveis em farmácias;
• No exterior, a marca tem pontos físicos na Selfridges em Londres, na Galeries Lafayettes na França, nas cidades de Amsterdã e Rotterdam na Holanda e também no Canadá, na Simons.
• Por mês, são produzidas cerca de 70 mil unidades e 100% da produção é feita no Brasil. Dos cerca de 50 funcionários fixos da empresa, 95% do quadro é composto por mulheres;
• Já foram doados mais de R$ 700 mil em calcinhas para pessoas em situação de pobreza menstrual. Além disso, a marca estruturou um plano nacional focado em acabar com a pobreza menstrual no Brasil até 2030 em articulação com governos, empresas, organizações não governamentais e a sociedade civil;
• Além das calcinhas absorventes e coletores menstruais, há também produtos voltados à maternidade e também para quem tem incontinência urinária. Também são vendidas cuecas trans para homens que menstruam.
Cuidados
A Pantys foi a primeira marca de moda do Brasil a lançar etiquetas de carbono, mostrando a quantidade de emissões envolvidas na produção do produto. A marca também mapeia a cadeia de produção e, segundo a cofundadora, sabe de onde vem cada fio e cada tecido, estando por dentro de todo o fluxo logístico. Os tecidos também são biodegradáveis.
Com as peças no público final, a empresa também deixa algumas dicas de cuidado para que a calcinha tenha o máximo de vida útil. Veja as recomendações de lavagem:
- • Se for lavar à mão, deixe a calcinha de molho por no máximo 30 min. Em seguida é só lavar, idealmente em água morna (até 30 ºC), podendo esfregar e torcer o forro.
- • Já na máquina, enxágue a calcinha antes para remover o excesso de fluxo e, depois, colocar em um saquinho de lavagem. Escolher o modo de peças delicadas.
- • Em todos os casos, usar sabão neutro, de coco ou líquido. Não usar alvejantes ou amaciantes.
- • Deixar secar de forma natural no sol ou na sombra.