"Consumidor vai perder a paciência", diz CEO da L’Oréal sobre importância de empresas serem sustentáveis
Para Marcelo Zimet, além de ser o que precisa ser feito, pensar no meio ambiente também será uma questão de sobrevivência no médio prazo
Se hoje os consumidores estão atentos a questões voltadas à diversidade, inclusão e sustentabilidade, em poucos anos darão seu dinheiro apenas a empresas que respeitem esses princípios. É o que acredita Marcelo Zimet, CEO da L’Oréal Brasil. A empresa tem se destacado nos últimos anos com ações concretas e metas agressivas de gerar zero emissão de carbono e trabalhar apenas com materiais biodegradáveis. Mas, mesmo assim, para Zimet, ainda há desafios para serem superados.
"Eu parto do princípio de que o consumidor, daqui a pouco, vai perder a paciência. Os consumidores já estão super atentos a temas de diversidade, inclusão e sustentabilidade. Mas daqui a alguns anos, com essa próxima geração que está vindo, isso vai ser mandatório. Vão falar: 'Se vocês não fazem isso, eu não vou comprar de vocês'", diz Zimet, em entrevista ao Terra.
Por isso, ele avalia que há grande risco de as empresas não voltarem suas atenções a essas questões. Por mais que haja um investimento inicial que precisa ser feito para que essas mudanças aconteçam, Zimet comenta que os retornos não serão apenas no curto prazo - pois mais consumidores serão atraídos -, mas também considera que essa será uma questão de sobrevivência no médio prazo.
"Fazer o certo, no final do dia, vai ter um pagamento, vai ter um retorno", acredita, sem citar valores relacionados às ações da L'Oreal.
Em andamento
Em 2020, a L’Oréal definiu metas para ser mais sustentável até 2030. Entre as projeções, o programa marcou que, até 2025, todos os endereços do grupo terão neutralidade de carbono e melhorarão a eficiência energética, usando 100% de energia renovável.
Segundo o CEO da marca, isso já é uma realidade no Brasil: "A gente alcançou isso já no ano passado, em 2022. Então, hoje, todas as plantas da L 'Oréal já não têm emissão de carbono". Ele explica que a empresa é a primeira da América Latina a montar um posto de abastecimento de biometano dentro de um centro de distribuição - que fica em Jarinu, São Paulo.
Sendo assim, de acordo com ele, todos os caminhões que fazem o trajeto entre fábricas e os centros de distribuição da L 'Oréal são ‘verdes’ com relação às emissões de CO2. Pensando em metas de inclusão e diversidade, ainda há o objetivo que 100% da frota seja dirigida por mulheres.
Agora, a empresa trabalha para que todo o transporte entre a empresa e o setor varejista também seja feito com caminhões abastecidos por biometano. O CEO adiantou que esse serviço está sendo oferecido aos clientes e que as negociações estão em andamento.
Outras metas
Também está previsto que, até 2030, todos os plásticos usados nas embalagens dos produtos da L'Oréal tenham fontes recicladas ou renováveis --e que as embalagens também sejam recicláveis. Zimet reforça que também existe a meta de que 100% das fórmulas da marca sejam biodegradáveis ou utilizem ativos naturais.
A engrenagem está girando, mas ainda há muito o que ser feito pela frente. Questionado pela reportagem sobre os pontos mais desafiadores, Zimet cita o ‘letramento’ interno na empresa e as questões em torno da cadeia produtiva.
"Apesar de ser uma empresa super sustentável e com isso em seu DNA, acho que ainda há um trabalho de letramento pras pessoas a ser feito. Um grande desafio é você ter todo mundo dentro da organização com o mesmo nível de entendimento e o mesmo nível de compromisso. [Fazer com] que amanhã, qualquer colaborador da L 'Oréal seja um embaixador da sustentabilidade -- seja na hora de pegar um copo para beber água, de jogar alguma coisa no lixo ou sobre o que ele vai comprar no supermercado", explica.
Já com relação à cadeia produtiva, o CEO declara que, atualmente, não são todos os fornecedores que estão preparados para oferecerem soluções sustentáveis. "Isso leva um tempo… E também tem a questão de escala, porque talvez você encontre, hoje em dia, alguns bons fornecedores, mas eles não têm escala. E como não tem escala, não tem um bom custo. Então, você não pode repassar isso pro consumidor".
Fórum Brasil Diverso
As declarações foram dadas em entrevista ao Terra durante a 9ª edição do Fórum Brasil Diverso. O tema deste ano foi 'ESG: a síntese da diversidade, equidade e inclusão' e partiu do princípio de que para abordar o assunto é preciso discutir sobre desigualdades sociais, econômicas e o racismo estrutural, perpetuados pelas culturas e hierarquias organizacionais.
Zimet participou do painel 'ESG --Diversidade e inclusão-- e o elo entre a Diversidade e inclusão' na última sexta-feira, 17. A reportagem acompanhou o evento.