Ecossistema marinho com recife de até 60 metros de altura é descoberto na costa do ES
"Colinas Coralinas" abrigam um ambiente exclusivo que não pode ser encontrado em nenhuma outra região do planeta
Pesquisadores da UFES descobriram um novo tipo de formação geológica, chamada Colinas Coralinas, que abriga uma diversa biodiversidade, incluindo peixes, tubarões e corais. A pesquisa foi realizada em colaboração com a USP e a Academia de Ciências da Califórnia e financiada pela Fundação Grupo Boticário e Vozes da Natureza.
Pesquisadores descobriram um novo tipo de formação geológica chamada "Colinas Coralinas", localizada na costa do Espírito Santo. Trata-se de um recife com aproximadamente 60 metros de altura, que abriga uma grande biodiversidade, incluindo peixes, tubarões ameaçados de extinção e corais.
Segundo os cientistas, esta área é única em todo o planeta Terra e apresenta grande diferença em relação aos recifes de corais existentes na costa brasileira. O local abriga uma formação incomum de colinas predominantemente compostas por algas coralináceas -- nome botânico de uma ordem de algas vermelhas pluricelulares da classe Florideophyceae, subfilo Rhodophytina.
Hudson Pinheiro, pesquisador colaborador da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), destacou a importância da descoberta, ressaltando que ainda há muito a ser explorado nos oceanos. "É uma descoberta muito importante porque mostra que ainda tem muita coisa para ser descoberta nos oceanos. A gente conhece ainda muito pouco do fundo do mar", disse ele.
Como explica Pinheiro, a grande diversidade de fauna e flora presentes nas formações geológicas se deve ao fato de o local ser isolado geograficamente. "Apesar de existirem locais de pesca lá, o local ainda não é muito conhecido, poucos pescadores se aventuram a ir a essas distância."
Esse isolamento geográfico também possibilita que espécies ameaçadas de extinção em outras regiões possam se abrigar nas colinas, como os tubarões-lixa (Ginglymostoma cirratum), que são 14 vezes mais numerosos na região do que em outros locais da costa.
"O tubarão-lixa é uma espécie encontrada em ambientes mais rasos e de fácil captura. Ela é super pescada e, por isso, está ameaçada de extinção. Tem um crescimento lento, gera poucos filhotes e tem várias características que a fazem suscetível a esse status", afirma Pinheiro, que acrescenta os riscos da mineração na região.
Por causa da sua composição de algas coralináceas, a região é muito visada para a extração desse material, que podem trazer danos irreversíveis. "Essa mineração destrói todo o fundo marinho. [Os mineradores] removem esse substrato, fazem um granulado desse material recifal junto com as algas, bancos de rodolitos e areia, que fica ali naquele entorno, e utilizam essa extração calcária para a fabricação de fertilizantes, destruindo e causando um dano permanente no ambiente de toda aquela biodiversidade", conta o pesquisador.
A pesquisa é realizada pela UFES em colaboração com a USP e a Academia de Ciências da Califórnia. Ao todo, foram mais de dez anos de estudo, que também contaram com financiamento da Fundação Grupo Boticário e da ONG Vozes da Natureza.